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Cotas trans em universidades: como é a realidade no Brasil

A presença ainda é baixíssima nas instituições, que carecem de políticas de ingresso e permanência dessa população

26 abr 2022 - 05h00
(atualizado em 18/5/2022 às 18h20)
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Presença de trans em universidades ainda é mínima
Presença de trans em universidades ainda é mínima
Foto: Estadão

Em meio às tentativas de enfraquecimento da política de cotas raciais, por parte de parlamentares de partidos de direita, como o vereador Fernando Holiday (Partido Novo), estudantes universitários têm lutado por cotas para pessoas trans e travestis.

A última universidade a fazer esse levante pela inclusão de pessoas trans foi a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que realizou uma “Ocupação Trans” no final de março. Desde 2019, a UFABC (Uniniversidade Federal do ABC, que foi a pioneira no país, e a UFBA (Universidade Fedeal da Bahia) possuem sistema de cotas para pessoas trans e travestis. Porém, ativistas garantem que ainda é pouco.

A cientista social Carolina Iara, que também é co-vereadora na cidade de São Paulo, participou da luta na Unicamp e explica a importância dessa política pública para a população trans. “As cotas reduzem o ciclo de marginalização, pobreza e falta de emprego em que as pessoas trans e travestis estão imersas na sociedade brasileira”, afirma. “Colocar essas pessoas na universidade”, continua Carolina Iara, “é uma forma de garantir o mínimo de mobilidade social, ao mesmo tempo que ajuda a diminuir o estigma e discriminação que a transfobia nos impõe, pois acabamos por contribuir com a produção de conhecimento científico”, observa Carolina, que faz mestrado na UFABC pelo sistema de cotas. Lá, as cotas foram asseguradas depois de mobilização de movimentos sociais e estudantis, como o Coletivo Prisma Dandara dos Santos. Atualmente há cerca de 40 estudantes trans na universidade paulista.

Carolina Iara: levar pessoas trans à universidade garante o mínimo de mobilidade social
Carolina Iara: levar pessoas trans à universidade garante o mínimo de mobilidade social
Foto: PSOL

Em nível nacional, porém, a realidade ainda é escassa. Apenas nove universidades federais possuem vagas destinadas para a população trans em seus programas de mestrado e doutorado, localizadas no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em Brasília. Na graduação, temos as federais do ABC Paulista, da Bahia e do Sul da Bahia.

Para o pesquisador Ian Habib, mestrando de dança da UFBA, a universidade é, com certeza, a vanguarda das políticas de ingresso e permanência para populações marginalizadas. Ele compara a situação da UFBA com outras universidades do país. "Muitos cursos da UNICAMP e da USP, por exemplo, mesmo em cursos como os de Artes Cênicas, ainda não possuem políticas de acesso e permanência para essa população e também para outras como pessoas em vulnerabilidade social e negras”, explica.

Para o pesquisador, a presença transgênera, travesti e não-binária nas universidades já é uma realidade, mas ainda está reservada para uma baixíssima porcentagem dessa população. “As pessoas trans, travestis e não binárias são expulsas de seus núcleos familiares desde muito cedo. Além disso, são excluídas das escolas e de demais instituições de ensino, devido às inúmeras violências como agressões físicas e não respeito de seus nomes sociais e civis, além de serem alvos de piadas e de injustiças epistêmicas de todos os tipos. As cotas auxiliaram e têm auxiliado muito a população transgênera”, diz Ian.

Ian aponta que ainda é necessário criar mecanismos para solucionar essa desigualdade, como criar redes de apoio institucionais e não-institucionais, fornecer preparatórios vestibulares gratuitos, incentivar a pesquisa em projetos voltados para essa população e produzir espaços de ensino sobre gênero nas escolas e nas universidades. "A melhor ferramenta de combate à violência é a própria educação", diz.

Fonte: Redação Nós
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