De 20 presidentes de times do Brasileirão, apenas uma é mulher e nenhum é negro
Gestão dos clubes vai na direção oposta da raça predominante de jogadores em campo e da população brasileira
Dos 20 clubes que estão na série A do Brasileirão apenas um é comandado por uma mulher, a empresária Leila Pereira, do paulistano Palmeiras. Quando o marco identitário é raça, o número de presidentes negros é zero, segundo levantamento feito pelo Terra NÓS. Esse cenário é um problema quando se trata de um esporte com registros frequentes de episódios de racismo.
De acordo com o Relatório Anual de Discriminação Racial de 2021, realizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol e pelo Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/PROREXT, foram 158 registros de racismo no esporte, mesma taxa recorde de 2019. A contabilização começou a ser feita pelo Observatório em 2014. Se por um lado cresce o número de ataques racistas, por outro homens brancos seguem dominando os espaços de poder, e pouco trabalhando para combater o racismo nos campos.
Cabe também destacar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 54% da população brasileira é negra, ou seja, percentualmente, mais da metade do país é composta por pessoas pretas e pardas. Já a liderança dos clubes é 100% branca. Ainda segundo o IBGE, a população brasileira é composta por 48,9% de homens e 51,1% de mulheres. A liderança feminina na presidência dos clubes representa apenas 5%.
Evolução
Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, aponta que a discussão sobre o tema evoluiu no Brasil na última década, indo além dos casos individuais e entrando no ponto da direção dos clubes.
“Não me surpreende [a falta de negros entre técnicos e presidentes de clubes da série A]. O futebol pouco discutiu o racismo para além das quatro linhas. Essa discussão foi construída nos últimos anos, é algo recente”, afirma.
Izadora Silva Pimenta, pesquisadora na Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, aponta que o futebol é um reflexo da sociedade brasileira e não é possível uma discussão isolada.
“Não é uma questão só do campeonato brasileiro, é uma questão do futebol em geral. Temos negros jogando, mas nos cargos altos é uma raridade. Tem muito a ver com uma estrutura que temos na sociedade. Se enxergamos a sociedade brasileira, por mais que tenhamos uma maioria negra, não é essa maioria que domina a elite da sociedade. Essa estrutura se reflete no futebol”.
Marcelo acredita, no entanto, que o futebol brasileiro deu uma espécie de “primeiro passo” ao ampliar o debate.
“Estamos trilhando um caminho. É possível dizer que a discussão vem aumentando, dentro e fora do campo, até mesmo na imprensa. E devemos olhar até para a CBF, que não tratava do assunto racismo e mudou de comportamento após ter como presidente um homem negro”, explica Marcelo, referindo-se ao baiano Ednaldo Rodrigues.
Já Izadora acredita que, com o futebol brasileiro sendo um reflexo do que enxergamos diariamente, é necessário encontrar maneiras de resolver a questão social.
“As pessoas individualizam muito as situações, principalmente em casos de racismo. Mas não se discute essa estrutura. O debate é válido, começarmos a discutir mais abertamente, mas também não vamos mudar o futebol se não mudarmos os padrões que vivemos em sociedade”.
Times e presidentes
Os times que compõem a série A do Brasileirão são: Fluminense, Flamengo, Athletico-PR, Botafogo, Bragantino, Corinthians, Palmeiras, Vasco, Grêmio, Fortaleza, Internacional, Bahia, Cruzeiro, São Paulo, Atlético-MG, Cuiabá, Santos, Goiás, Coritiba e América-MG.
Presidem os clubes acima, respectivamente, Mário Bittencourt, Rodolfo Landin, Mario Celso Petraglia, Durcesio Mello, Marquinho Chedid, Duílio Monteiro Alves, Leila Pereira, Jorge Salgado, Alberto Guerra, Marcelo Cunha da Paz, Alessandro Barcellos, Guilherme Bellintani, Sérgio Santos Rodrigues, Julio Casares, Sérgio Batista Coelho, Alessandro Dresch, Andrés Rueda, Paulo Rogério Pinheiro, Juarez Moraes e Silva e Marcus Salum.