De Manoel Soares à noiva trans: o desfile ancestral de Isaac Silva

Isaac Silva nasceu em Barreiras, cidade do interior da Bahia, e ainda criança se encantou pelo universo da moda. Aprendeu com a vizinha, Morena, o ofício da costura e hoje, aos 32 anos, é uma das principais referências do mercado com parcerias com gigantes, como Havaianas e Magazine Luiza. Ela é a primeira estilista trans a desfilar no SPFW. 

Neste domingo (20), em seu terceiro desfile no evento - as edições de 2020 e 2021 foram online por conta da pandemia da Covid-19 - fez questão de, mais uma vez, celebrar sua ancestralidade e apresentar uma coleção que, combinada ao Dia da Consciência Negra, só ampliou a potência e grandeza da população negra. 

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Cheio de surpresas e homenagens, o desfile começou com uma mini ball com artistas de diversas houses paulistas, como Eva Bessa, Maagic Maverick, Jessy Velvet Zion, Juan A. Silva e Mc Felix Pimenta, apresentando o cropped criado pela estilista para a Copa do Mundo do Catar em parceria com a Vivo. O divertido item, criado a partir do meme "Reage, mulher, bota um cropped", foi vestido ainda por Priscila Beatrice, sósia brasileira da cantora Rihanna, e pela dj Kiara Felippe. 

Após a apresentação da parceria, modelos de vários gêneros e idades, mas todos negros, como grande parte da plateia, apresentaram as peças em um desfile dividido em três grandes blocos: primeiro as peças sóbreas, em um tom bege amarelado que chamou atenção pelos cortes e estruturas, mostrando uma estilista mais madura e atenciosa aos detalhes. Em seguida, um mar de cores, rosa, lilás, amarelo, em looks claramente inspirados em peças cerimoniais de religiões de matrizes africana.

Por fim, capitaneado pelos apresentadores globais Manoel Soares e Rita Batista, um bloco de peças brancas, tom muito usado pela estilista em suas coleções e também às sextas-feiras para celebrar Oxalá, agradecer e purificar. Toda a coleção foi permeada por búzios, como detalhes nas peças ou então acessórios. 

Mas quem achou que celebração e emoção acabaram por aí, se enganou. Como é tradição nos desfiles de alta costura, Isaac encerrou o desfile com uma noiva, em sua versão, coberta por um voil bordado com pérolas. A modelo escolhida foi a multiartista Aretha Sadick, que é trans. Na caminhada final, levou ainda para a passarela Marisa Moura, estilista conhecida pelo uso de algodão e aviamentos como cordões e búzios e tingimento natural, e Mama, senegalense que vive no no Brasil há 15 anos, pioneira em trazer os tecidos africanos para o país. 

E não foi só a passarela que brilhou: na plateia nomes diversos e plurais celebravam Isaac, como os artistas e influenciadores Walter Rege, Caco Baptista, Leandrinha Du'art, Ju Ferraz, Romagaga, Márcia Sensitiva, o ator Silvero Pereira e os jornalistas Thiago Oliveira e Valéria Almeida.