Desnutrição e ameaça de garimpeiros: entenda em 4 pontos a situação dos Yanomami
Yanomâmis têm espaço invadido e disputado por garimpeiros ilegais na maior reserva indígena do Brasil
No meio da selva amazônica, entre os estados de Roraima e Amazonas, a Terra Indígena Yanomami abriga cerca de 30 mil indígenas que têm seu espaço invadido e disputado pelo garimpo ilegal na maior reserva indígena do Brasil. Após o Ministério de Saúde decretar emergência de saúde pública na tentativa de combater a dessassistência do povo, o presidente Lula (PT) esteve em Roraima para reafirmar o compromisso do governo.
Entenda abaixo a situação dos Yanomami:
• O que os yanomami estão enfrentando?
Na segunda-feira, 16, o Ministério da Saúde enviou uma equipe para a Terra Indígena Yanomami com o objetivo de fazer um diagnóstico sobre a situação da saúde dos indígenas e, com isso, traçar as ações necessárias para enfrentar a crise sanitária vivida pelos yanomâmis.
A maior reserva indígena do país é formada por 10 milhões de hectares, que se estendem por Roraima, pela fronteira com a Venezuela e pelo Amazonas, abrigando mais de 370 aldeias com cerca de 30,2 mil indígenas. Eles vivem isolados geograficamente em comunidades de difícil acesso mas, mesmo assim, enfrentam embates sobre a invasão do território, principalmente por garimpeiros que atuam ilegalmente na região.
Como uma das consequências, o Ministério da Saúde estima que cerca de 570 crianças foram mortas por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal.
Há, também, o problema crônico da desnutrição infantil, enfrentado há décadas pelos indígenas da região. Um estudo do Unicef em parceria com a Fiocruz, de maio de 2020, apontou que oito em cada dez crianças menores de 5 anos sofrem com desnutrição crônica - nas regiões de Auaris e Maturacá - dentro da Terra Indígena Yanomami.
• Como o garimpo ilegal atua na região?
Atualmente, os principais vilões contra os yanomami são os garimpeiros ilegais que invadiram a região em busca de ouro. Estima-se que eles sejam cerca de 20 mil pessoas.
Em 2020, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami em meio a declarações de apoio do então presidente, Jair Bolsonaro (PL). Isso aumentou a violência pela disputa territorial, que é feita com armas e incêndios de aldeias inteiras pelos garimpeiros, e fez com que outros problemas surgissem.
Em 25 de abril do ano passado, uma grave denúncia desencadeou uma apuração da Polícia Federal: o relato de que uma menina yanomâmi, de 12 anos, morreu após ser estuprada por garimpeiros. Durante as buscas pelas autoridades, a comunidade foi encontrada queimada e não havia ninguém.
O caso ganhou repercussão nacional e mobilizou lideranças indígenas, autoridades, políticos e artistas que demonstraram apoio à causa repercutindo a situação com a pergunta: "Cadê os Yanomami?".
• Quais as consequências do garimpo ilegal na região?
A desnutrição e falta de acesso à assistência de saúde adequada também estão diretamente ligadas ao garimpo ilegal. A extração do minério com mercúrio contamina os rios que, além de contaminar os indígenas, mata os animais e impacta a disponibilidade de alimentos.
A presença dos garimpeiros ilegais também levou a transmissão de doenças ao povo que vivia isolado geograficamente, principalmente a Covid-19. Com índices baixos de vacinação, muitos indígenas doentes morreram devido à doença.
• O que o governo vai fazer?
Após verificar a situação, o presidente Lula (PT) visitou Boa Vista, em Roraima, e afirmou que a condição dos indígenas é "desumana". Ele aproveitou para anunciar algumas medidas para ajudar a população da região.
Um dos primeiros compromissos será com a melhoria do transporte oferecido aos indígenas. O presidente também disse que quer montar um plantão médico nas aldeias. "A saúde precisa ir até a aldeia, não esperar que as pessoas se locomovam até a cidade", declarou.
Por fim, o petista afirmou que vai trabalhar para acabar com o garimpo ilegal, mas sem dar detalhes de como fará para tirar os garimpeiros da região ou o prazo para que o plano seja colocado em prática. "Eu posso dizer para você é que não vai mais existir garimpo ilegal. E eu sei da dificuldade de se tirar o garimpo ilegal, já se tentou outras vezes, mas eles voltam".
Além disso, o presidente decretou a criação Comitê de Coordenação Nacional, para discutir e adotar medidas em articulação entre os poderes para prestar atendimento a essa população. O comitê trabalhará por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado futuramente.