Dignidade para quase todo mundo
Discussões sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustenável da ONU mostram que as pessoas com deficiência precisam forçar a entrada até mesmo em espaços chamados de inclusivos.
Pessoas com deficiência ainda precisam forçar a entrada em todos os espaços, até mesmo em debates e eventos que se apresentam como inclusivos e têm a meta de melhorar o mundo, proteger o planeta e garantir dignidade a todos. Exemplo recente é a Virada ODS de São Paulo, realizada em julho pela Prefeitura, que reuniu personalidades nacionais e internacionais para debater os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas.
O tema acessibilidade não está na lista dos 17 ODS da ONU e entrou na pauta da Virada por intermédio da própria população com deficiência da cidade de São Paulo, em mais uma iniciativa para quebrar a redoma de invisibilidade. Uma campanha que começou no Brasil pede a inclusão da 'Acessibilidade para Todos' como o 18º objetivo.
Três mulheres com deficiência, todas do grupo Talento Incluir, reforçaram a necessidade da acessibilidade nas discussões, reafirmando que uma cidade acessível para a pessoa com deficiência é acessível para todos.
"A acessibilidade em todas as suas esferas ter de ser o 18º ODS. Não apenas acessibilidade física, mas estrutural, na saúde, na educação, no lazer, nas tecnologias, na comunicação, na mobilidade e no trabalho. Estamos vivendo mais e precisamos olhar para esses dados", destacou Carolina Ignarra.
"Acessibilidade é um direito, não um privilégio. Sem ela não será possível ter cidades sustentáveis, muito menos proteger as pessoas e o planeta. Mais que um direito, a acessibilidade é uma questão humanitária. É preciso mais humanidade para valorizar nossa existência de forma coletiva", ressaltou. "Acessibilidade como o 18º ODS lança luz sobre o tema e engaja para a importância, benefícios e urgência de tornar o mundo mais inclusivo", completou Carolina.
Ciça Cordeiro e Katya Hemelrijk falaram sobre barreiras à empregabilidade das pessoas com deficiência. Dados do Ministério do Trabalho mostram que 46,98% das empresas brasileiras não cumprem as exigências da Lei de Cotas (nº 8.213/1991), legislação que é alvo constante de ataques pelo próprio poder público.
"Como as empresas estabelecem conexões, convivências e aprendizados com as pessoas com deficiência? Precisamos estar atuantes e presentes para reforçar a mensagem de que não há como falar de diversidade e inclusão sem falar sobre acessibilidade", comentou Ciça. "Muito além da representatividade da pessoa com deficiência, temos de abrir caminhos para compartilhar esse tema com a comunidade", acrescentou Katya.
Aprendizados - Wolf Kos, presidente do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural (IOK), também abordou as temáticas da população com deficiência no evento. "Os ODS da ONU foram criados para o ser humano e serão atingíveis se tiverem métricas, para sair do discurso e chegar à prática. Essa primeira Virada foi uma iniciativa importante e trouxe aprendizados", disse.
Proposta - Acessibilidade como o 18º ODS é defendida no Guia Prático de Acessibilidade e Inclusão Digital, do Legal Grounds Institute. A publicação foi desenvolvida por iniciativa de Cid Torquato, ex-secretário municipal da pessoa com deficiência de São Paulo, em conjunto com a advogada Juliana Abrusio. A criação tem parceria com o escritório Machado Meyer Advogados, tem apoio do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (CESA) e da rede E.S.S.E. Mundo Digital.
O documento tem quatro capítulos com diretrizes para a construção de conteúdos e sistemas que favoreçam a acessibilidade digital, tratando de temas como o histórico e os benefícios da inclusão digital, diretrizes e boas práticas de acessibilidade. Também evidencia a importância do engajamento das organizações (públicas e privadas) e da sociedade para a inclusão digital.