Diretora do Me Too Brasil, ONG que atua em casos de abuso sexual, é ameaçada de morte
Em e-mail, ela foi avisada que um agressor sexual denunciado na plataforma do Me Too Brasil quer matá-la; um suspeito invadiu seu carro
Uma das diretoras do Me Too Brasil, Luanda Pires, revelou ter sido ameaçada de morte devido ao seu trabalho na ONG, que atua em diversos casos de violência sexual contra mulheres no Brasil.
Inspirado e influenciado pelo movimento #MeToo, fundado por Tarana J. Burke, nos Estados Unidos, o Me Too Brasil é um movimento contra o assédio e o abuso sexual. O objetivo é amplificar a voz das vítimas e prestar acolhimento por meio de apoio psicológico, jurídico, assistencial e de orientação às sobreviventes e a tomada de providências necessárias junto às autoridades competentes.
Em entrevista ao Terra, Luanda conta que em novembro de 2022 recebeu um e-mail em que uma pessoa anônima a informava que um dos acusados de violência sexual por meio da plataforma do Me Too Brasil "estava querendo matá-la e vendo meios para isso".
“Prezada Doutora Luanda. Admiro muito seu trabalho e por isso envio esse relato de forma anônima, por medo e pela minha segurança. Recebi a informação direta de uma pessoa de confiança e que trabalha no [...] e me colocou que o [...] esbravejou que está querendo te matar e vendo meios para isso, por isso preze pela sua segurança e pela sua vida. A sua vida vale muito para as mulheres”, dizia o e-mail.
Cerca de três semanas depois, uma câmera de segurança registrou o momento em que um homem entrou em seu carro enquanto ela estava no supermercado. Ele saiu do veículo na sequência, sem furtar nada. No dia seguinte, ela encontrou um objeto parecido com um chip no automóvel, o que suspeita ser um rastreador. "Tudo indica que eu já estava sendo monitorada [pelo suspeito]", afirmou.
Luanda conta que já registrou boletim de ocorrência e a Polícia Civil está investigando o caso. Ela também está recebendo apoio da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), do Instituto Marielle Franco e da deputada estadual Erica Malunguinho. Além disso, um segurança particular está fazendo sua escolta.
"Acredito que fui alvo porque trabalhamos com o acolhimento de vítimas de predadores sexuais e acompanho todos os casos. Entendo isso como uma forma de intimidação para que a gente pare o apoio e isso não vai acontecer. É absurdo, revoltante e aterrorizante que as defensoras de mulheres sejam atingidas pela mesma violência machista e misógina que acomete as vítimas [que acolhemos]. Nossa grande preocupação agora foi reforçar minha segurança e aprimorar nossos protocolos de segurança para nossas colaboradoras", disse Luanda ao Terra.
Me Too Brasil repudia ameaças à diretora da entidade
Em nota, o Me Too Brasil confirmou as ameaças sofridas pela diretora de Política Púbica da entidade, a advogada Luanda Pires, em razão de sua atuação em defesa das mulheres vítimas de violência.
"A organização, que desde o início das ameaças desenvolveu e tem aprimorado um protocolo de segurança para colaboradoras, voluntárias e diretoras, tem acompanhado o caso junto com outras instituições e presta suporte para a Diretora da organização. O Me Too Brasil segue acompanhando o caso com grande preocupação e reforça a importância de se buscar a garantia real de segurança das defensoras das mulheres", afirmou.