Elas estão revolucionando o mercado de bem-estar erótico no Brasil
No Dia da Mulher, conheça histórias de brasileiras à frente de marcas bem-sucedidas de produtos sensuais
O mercado de bem-estar erótico feminino - também chamado de sexual wellness - nunca esteve tão aquecido. O momento positivo não é apenas reflexo da pandemia, que estimulou nas mulheres o autocuidado e a masturbação como ferramentas de autoconhecimento e empoderamento. Mas, também, o resultado do empenho de empresárias que partiram de experiências pessoais e do próprio lugar de fala para inovar com marcas e produtos sensuais para atender genuinamente as expectativas femininas.
Neste Dia da Mulher, Terra NÓS conversou com três brasileiras com histórias distintas que estão revolucionando o movimento de sexual wellness no Brasil para contar suas vivências num ramo que, até bem pouco tempo atrás, era dominado basicamente por itens que visavam apenas o prazer masculino.
Filha, mãe e vó
A primeira delas é Stephanie Seitz Meza, 26, diretora da INTT Cosméticos. A empresa é uma veterana no ramo: existe desde 2007 e foi fundada pela mãe e pela avó de Stephanie, que tiveram a visão de investir no mercado erótico durante uma viagem à Alemanha. "Elas ficaram supresas com as sex shops de lá, com visual 'clean', iluminadas, bem diferente da experiência oferecida pelas lojas do Brasil na época", conta Stephanie.
Durante a faculdade, enquanto enviava currículos em busca de uma oportunidade na área de marketing, Stephanie resolveu dar uma força para a mãe na empresa e nunca mais a deixou. À essa altura, a avó já tinha se afastado do comando, mas até hoje dá palpites em lançamentos e inovações.
"Na adolescência, eu tinha muita vergonha de contar para os outros qual era o ramo de atividade da minha família. À medida que minha sexualidade foi aflorando e passei a descobrir mais sobre meu corpo, percebi a relevância do negócio para as mulheres. Aí acabei virando o centro das atenções, pois experimentava os produtos e minhas amigas queriam saber todos os detalhes", diverte-se a empresária.
A INTT tem hoje um portfólio com mais de mil produtos, sendo que 350 são fabricação própria e produzidos aqui e na Europa. O best-seller é o Vibration, excitante feminino conhecido como "vibrador líquido". Entre os que são fabricados no exterior estão os produtos à base de CBD (canabidiol) - segundo ela, os benefícios da Cannabis em produtos sensuais trazem mais resultados para a mulher do que para o homem.
Entre os acertos de sua trajetória à frente da empresa, Stephanie destaca o atendimento humanizado a fornecedores, parceiros e consumidores. "Participo ativamente do Instagram da INTT, inclusive com conselhos e dicas. Trabalhar no mercado erótico não é só empurrar o produto, mas criar relacionamento", garante.
Marca diversa e com gestão LGBTQIAPN+
A pantynova é um case e tanto para exemplificar o sucesso das sextechs (fusão de sexo com fintech) no Brasil. A marca, que vende de lubrificantes a vibradores e strapons - teve início em 2018 com um investimento de cerca de R$ 30 mil reais. Em 2021, o faturamento foi de R$ 12 milhões de reais e no ano passado a meta de crescimento de 20% foi batida.
Criada pela designer de moda Izabela Starling e a artista plástica Heloisa Etelvina quando ainda formavam um casal, a pantynova se destaca hoje no mercado de bem-estar erótico por ter como principal pilar institucional a diversidade. "Somos uma empresa fundada e gerida majoritariamente por pessoas LGBTQIAPN+ e mulheres e seguiremos neste caminho. Recentemente, inclusive, tivemos a iniciativa de promover um curso com a psicanalista Joana Waldorf sobre diversidade para todo o nosso time, que se tornou uma roda de discussões muito benéfico para todos se conhecerem melhor e também às individualidades uns dos outros. Pensamos, de fato, em fortalecer nossa ideologia de dentro para fora e a pantynova é isso. Acreditamos que empoderando nosso time, sem dúvidas, nossos clientes se sentirão ainda mais acolhidos e representados", contam.
A amizade e a confiança criada entre as duas foi essencial para que o fim do relacionamento não interferisse na condução da pantynova como negócio. "Somos muito amigas, assim como somos muito amigas do Derek Derzevic, que também é cofundador da empresa", fala Iza.
A pantynova também oferece itens para pessoas com pênis, como o masturbador masculino UFO, e costuma convidar pessoas de todos os gêneros e orientações para testar produtos e contar suas impressões em vídeos para lá de esclarecedores.
"Enfrentamos diversos obstáculos e críticas, principalmente no ínicio, quando o conceito de bem-estar sexual não era conhecido e as pessoas associavam itens como vibradores e dildos à pornografia. Com o tempo, e a maior divulgação do assunto pela mídia, e por personalidades com grande alcance como Taís Araújo e Angélica, vimos que este preconceito está diminuído e as pessoas estão entendendo que nutrir sua sexualidade é tão importante quanto uma rotina de exercícios e uma alimentação balanceada", observa Lola, como gosta de ser chamada Heloisa.
Experiência de executiva e mulher madura
Após 30 anos de uma carreira bem-sucedida como executiva, com passagens por empresas como Avon, Tupperware, Grupo Boticário e Jequiti, a sensação de inadequação e o cansaço levaram Chris Marcello a empreender em um contexto totalmente diferente. O olhar corporativo bem treinado e as vivências como mulher, além de uma imersão aprofundada no mercado de bem-estar erótico, conduziram à criação da Sophie Sensual Feelings, em 2016.
"Na saída da última empresa, eu já estava me sentindo bem infeliz e desconectada com a dinâmica desse universo. Foi nesse momento que decidi que era o momento de empreender. Eu tinha que me apoiar naquilo que eu tinha de melhor, o que eu poderia trazer de diferente na área que eu conheço, no mundo dos cosméticos, em conhecimento do mundo feminino, em canais de venda direta", explica Chris.
Em 2013, quando traçou o primeiro plano para a marca própria, ela decidiu que o primeiro caminho era ter uma boutique sensual. "Durante três anos tive uma experiência incrível com o consumidor final, pois eu pude conhecer todas as marcas e portfólios e aí entender o que as mulheres procuravam e qual era a abordagem que realmente falava com elas", relembra ela, que decidiu fazer uma pós-graduação na área de sexualidade para melhor atender as consumidoras.
Hoje, aos 56 anos, Chris diz que o fato de ser uma mulher madura contribui para pensar em estratégias e discutir abertamente questões sobre etarismo, menopausa e sexualidade 50+. "Isso faz toda a diferença no meu trabalho, sim. Eu tenho uma vivência que é genuína, pois fui me apropriando do meu prazer. Tenho um relacionamento amoroso duradouro, pois estou casada há 38 anos, e acredito que o universo erótico pode, sim, ser um alimento para casais longevos como a gente", afirma.
No momento, a CEO da Sophie Sensual Feelings concilia o trabalho à frente da empresa com um tratamento oncológico para tratar um câncer de mama. "Na primeira vez depois da minha cirurgia acabei 'broxando', porque na minha jornada de prazer os meu seios sempre foram a primeira experiência de excitação e, de repente, me dei conta que eu não tinha mais isso, pois fiquei sem terminação nervosa na região. Mas, pelo fato de eu ser hoje uma educadora na área e de sempre buscar recursos, repensei toda minha nova jornada de prazer", admite. "É nisso que quero ajudar as outras mulheres: a exercerem a sexualidade de forma positiva, independentemente da fase da vida que elas estiverem passando. O fato de eu ter vivido muita coisa me deixa muito mais plena. Eu sei o que eu quero, o que gosto e faço muita questão de dividir isso", completa.