Eleições 2022 e o voto negro: que representatividade importa?
Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa, coordenadores do Movimento Negro Unificado (MNU), falam sobre a luta por representatividade nos espaços de poder e as Eleições de 2022
Vamos voltar ao assunto que já abordamos, o ano eleitoral de 2022 e o movimento negro.
Nós temos o movimento Quilombo nos Parlamentos. Pelo Brasil afora, nos movimentamos para concretizar candidaturas de deputadas e deputados estaduais e federais de pessoas negras que tivessem história e compromisso na luta e que carregassem a pauta de combate ao racismo na sua trajetória de vida.
Para além disso, há nomes que surgiram há algum tempo na disputa para o senado, como Ivanir dos Santos (PDT), no Rio de Janeiro, e outras mais recentes como Kiusam de Oliveira para a suplência no senado, em São Paulo, passando por uma chapa negra do PSOL para o governo, no Distrito Federal. Porém, temos que admitir que estamos num movimento de construção coletiva muito recente de candidaturas negras, tentando tensionar a tradição brancocêntrica dos partidos de esquerda e ainda acumulando forças para apresentar candidaturas fortes para o senado e para os executivos estaduais e federal.
Aí aparecem questionamentos de quem tem muita urgência, mas pouca experiência na disputa político-partidária brasileira dizendo que partidos de direita estão apresentando nomes negros, como é o caso do Novo que, para o cargo de vice-governadora de São Paulo, apresenta o nome de uma mulher negra, e a esquerda não. E a nós cabe a missão de apontar que isto é, mais uma vez, a branquitude agindo para impedir que o povo negro tenha uma visão real de representatividade negra na vida política, porque de fato um nome negro que continue a implementar uma politica neoliberal, de sucateamento da educação pública, do SUS, impedindo o acesso à moradia digna, à alimentação saudável e acabando com todos os serviços públicos de que o povo brasileiro e, em especial, a população negra necessita, não é representatividade. Nos representarão nomes negros que toquem a luta pela implementação da nossa pauta política, que pleiteia acesso aos serviços públicos, que tragam dignidade à vida da população negra, indígena, das mulheres, dos LGBTQIAP+.
Ainda paira outro questionamento no atual cenário de disputa eleitoral para o movimento negro: temos um candidato negro de esquerda a presidente e vamos votar num branco (sic). Aí voltamos na primeira abordagem sobre estas eleições. Pela primeira vez neste país, vamos enfrentar a candidatura de um governo de extrema-direita e temos que impor uma derrota fragorosa a esta candidatura, e a tudo de ruim que este governo trouxe. E, na atual conjuntura, o único nome que pode derrotá-lo é o de Lula. E ao movimento negro cabe o reconhecimento de que não acumulou forças para apresentar um nome para cumprir esta tarefa e trabalhar muito para elegê-lo.
É dever do movimento negro de esquerda caminhar no sentido de preparar, quiçá construir, a nível nacional nomes de negras e negros para ocupar postos de governadoras e governadores e presidente deste país. Temos que fazer chegar a população negra de forma geral, mas também às pessoas brancas que lutam pela diminuição das desigualdades sociais, a mensagem de que a única novidade possível nestas eleições são as candidaturas do movimento negro que trazem em seu bojo a luta contra o racismo, que abarca a luta por moradia, por educação publica e de qualidade, por acesso à saúde, por um SUS universal e fortalecido, por alimentação segura e saudável, pelo direito à terra, à água, ao meio ambiente, pelo acesso à cultura, em especial na periferia, pela volta e manutenção do Estado laico, pelo desencarceramento. Enfim, a luta por uma vida digna para a população brasileira em geral.
*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa é um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU.
A população negra pode dar a tônica nestas eleições