Entenda as polêmicas de debate sobre "pessoas que menstruam"
Assunto virou notícia depois da publicação de uma coluna da filósofa Djamila Ribeiro para o jornal Folha de S. Paulo
Na última quinta-feira (01), a filósofa e colunista da Folha de S. Paulo Djamila Ribeiro publicou no jornal o texto "Nós, mulheres, não somos apenas 'pessoas que menstruam'", abordando a nomenclatura usada por movimentos sociais para se referir a quem biologicamente menstrua, como a maioria das mulheres cisgênero, pessoas intersexo, homens trans e transmasculinos, entre outros.
No texto Djamila aborda como, historicamente, o movimento feminista negro luta para a visibilização dos recortes identitários dentro do conceito de mulheridade e pontua: "Sendo assim, o termo 'pessoas que menstruam', mesmo com a pretensa ideia de querer incluir, apaga a realidade concreta das mulheres, pois se está criando uma nova categoria universal que não nomeia a materialidade delas".
A opinião considerada polêmica enfrentou críticas por recusar uma terminologia considerada inclusiva e ainda apresentar o trecho que afirma que "Homens trans não são pessoas que gestam e menstruam, são sujeitos políticos".
No mesmo dia, o também colunista da Folha de S. Paulo, o advogado e professor Thiago Amparo fez uma série de comentários direcionados à Djamila em seu perfil no Twitter. Nas mensagens. ele cita uma série de teorias abordadas pela filósofa, com um interpretação bastante distinta.
"Há de se perguntar se ao reforçar a categoria essencializada - e destilar certo pânico moral de tratar pessoas trans - não se está reforçando a identidade pasteurizada de mulher que o feminismo branco traz; e está ignorando a realidade concreta da transfobia. A quem serve isto?", pergunta ele no fio.
Djamila, vamos falar? Este texto não está à altura de sua trajetória. 1o. A categoria “pessoas que menstruam” não impede que se use a categoria mulheres; 2o feminismo como epistemologia se pergunta sempre: com nossa caneta estamos oprimindo ou emancipando? https://t.co/fLjjA1km9m
— Thiago Amparo (@thiamparo) December 2, 2022
Já no dia seguinte da publicação, a comunicadora e mestranda Ana Flor usou suas redes para também rebater Djamila. Em um fio no Twitter, fez várias perguntas à autora, chamando atenção para o fato de que o texto original não só promove um ataque a homens trans e transmasculinos, como também não engloba mulheres trans e travestis como mulheres.
"Não vejo problema algum em questionar o termo 'pessoas que menstruam'. Só fico refletindo: como uma pensadora que trabalha com temas que atravessam a discussão da violência, por qual motivo não propor um espaço de dialogo com os homens trans para discutir essas categorias?.
Sobre o texto da Djamila.
1. Gostaria de dizer que li o texto com atenção para tentar compreender, neste momento, o incômodo que surge desde o título.
Como alguém que estuda gênero e sexualidade, acredito que existem alguns “equívocos” por parte da autora.
— Ana Flor 🧜🏽♀️ (@Tdetravesti) December 2, 2022
Com a continuidade do debate, a doutora em psicanálise Vera Iaconelli resgatou um texto publicado por ela, em agosto, também na Folha entitulado "Para ser mulher tem que ter útero?". Nele, aborda a importância de englobar pessoas trans nos debates feministas.
"A partir do movimento LGBTQIA +, o chacoalhão vem pelo lado das mulheres trans. Elas nos levaram a questionar se pessoas que não nasceram com útero e se reconhecem como mulheres cabem na pauta feminista," aponta Vera.
Tentando contribuir com a discussão
Para ser mulher tem que ter útero? https://t.co/y1bxYFhU7I
— Vera Iaconelli (@VeraIaconelli) December 4, 2022
Visando elucidar algumas questões a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), uma rede de organização política de pessoas trans publicou uma série de cards de contéudos sobre o tema e lembrou: "Ninguém está sugerindo que o termo seja usado como uma identidade universal".
A publicação ainda sugere alguns caminhos para ampliação do debate, como ler e assimiar conteúdos produzidos por estudiosos e estudiosas de gênero trans.