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Esportistas trans levam vantagem injusta sobre mulheres cis?

Especialista explica questões fisiológicas e como novas diretrizes do COI podem significar retrocesso na inserção de transexuais no esporte

1 abr 2022 - 10h18
(atualizado às 10h20)
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A neozelandesa Laurel Hubbard foi a primeira atleta transgênero a competir em uma Olimpíada, nos Jogos de Tóquio. A participação da ex-halterofilista gerou polêmica e críticas de rivais, que acreditavam em uma suposta vantagem injusta na competição por conta de seu gênero de origem. No entanto, Laurel sequer chegou a disputar medalha. A atleta saiu do evento sem conseguir realizar nenhum levantamento na categoria acima de 87kg. 

Este fato levantou uma dúvida para os críticos à inserção de mulheres trans no esporte: se a vantagem é injusta, por que Laurel ficou fora do pódio? 

Halterofilista Laurel Hubbard, a primeira atleta transgênero competindo em Tóquio em 2020
Halterofilista Laurel Hubbard, a primeira atleta transgênero competindo em Tóquio em 2020
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

“A primeira coisa que precisa ser dita, antes de qualquer debate sobre uma suposta vantagem injusta é: as pessoas não acessam o esporte. Então, fazer toda uma mobilização contra pessoas trans no esporte é uma coisa que não tem embasamento na realidade”, disse o pesquisador Eric Seger de Camargo, que estudou o tema transgeneridade e esporte em seu mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista ao Papo de Mina

“Não ouvíamos falar de pessoas trans no esporte até quatro ou cinco anos atrás. Mesmo com a decisão do Comitê Olímpico Internacional, que permitiu a entrada em competições, esses atletas são pouquíssimos no cenário”, acrescentou.  

Antes de 2021, quando novas diretrizes foram divulgadas pelo COI, a política permitia mulheres transgêneros, desde que elas comprovassem níveis de testosterona abaixo de 10 nmol/L  por pelo menos 12 meses antes da primeira competição. 

No documento “Diretrizes do COI sobre Justiça, Inclusão e Não Discriminação com Base na Identidade de Gênero e Variações de Sexo”, que substitui e atualiza as declarações anteriores sobre esse assunto, incluindo o consenso de 2015, a testosterona deixa de ser um pré-requisito global para promover competitividade. 

Cada Federação deve definir o que é ou não considerado uma vantagem injusta, também a depender do esporte, no páreo entre mulheres cis e trans. 

Apesar de a intenção do Comitê ser garantir a inclusão, na análise de Seger esse direcionamento põe em risco os progressos que já haviam sido conquistados no último ciclo olímpico.

Segundo um balanço publicado em julho do ano passado pelo site de notícias Outsports, que é voltado para questões LGBTQIA+, pelo menos quatro atletas trans ou não binários competiram em Tóquio. Nenhum número parecido com este havia sido registrado em Olimpíadas passadas. 

“É justo, sim, que esportes diferentes tenham regras diferentes, desde que a forma como elas sejam construídas não tenha um ponto de partida transfóbico, apenas considerando as pessoas trans como imitações fisiológicas de uma pessoa cis”, ponderou. 

“Existe uma parte que eu considero ser um retrocesso, pois retira a responsabilidade política e de regulamentação do COI. O recado que isso passa é de que eles ‘lavaram as mãos’ a respeito de como as pessoas trans ingressam nas disputas. Se a federação não faz uma regra, não existe um precedente que permita a competição de pessoas trans.” 

O debate polêmico também pairou a participação de nadadora trans Lia Thomas, na principal liga universitária americana, a NCAA. Os níveis de testosterona da atleta estavam dentro dos exigidos pela Federação Norte-Americana de Natação quando ela venceu a prova das 500 jardas livres. Ainda assim, a validade de sua participação foi contestada. 

“Quantas vezes a gente viu uma atleta trans em um pódio? Se, desde quando o Comitê Olímpico Internacional permitiu a entrada em competições, essas mulheres tivessem uma vantagem injusta, não era para vermos pódios lotados de mulheres trans?”, disparou Seger.

Foto mostra a nadadora transgênero Lia Thomas no topo pódio sozinha enquanto as demais medalhistas — Emma Weyant, Erica Sullivan e Brooke Forde — posam juntas
Foto mostra a nadadora transgênero Lia Thomas no topo pódio sozinha enquanto as demais medalhistas — Emma Weyant, Erica Sullivan e Brooke Forde — posam juntas
Foto: BBC News Brasil

Por fim, a dissertação do pesquisador, formado em Educação Física, vai de encontro ao que a comunidade científica tem divulgado nos últimos anos. Os estudos sobre vantagem injusta ainda são muito primitivos, pois são raras as mulheres trans que têm oportunidade de ingressar no esporte. 

As condições justas de competição envolvendo pessoas trans não devem ser limitadas a discussões sobre testosterona, e sim ampliar o referencial de compreensão sobre pessoas trans incluindo a percepção de como atuam os mecanismos de exclusão social. Não existem até o momento evidências significativas que apontem vantagens injustas de mulheres trans sobre mulheres cis em competições esportivas.

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