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Estudantes da Unesp acusam professor de assédio sexual; docente nega

Universidade afirma monitorar denúncias; Marcelo Magalhães Bulhões já havia sido investigado em sindicância interna da instituição, mas caso foi arquivado. Ele diz ser vítima de 'calúnia'

2 jul 2022 - 09h37
(atualizado em 4/7/2022 às 12h11)
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Cartazes foram espalhados pelo câmpus na sexta-feira
Cartazes foram espalhados pelo câmpus na sexta-feira
Foto: Redes sociais

Alunas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, no interior de São Paulo, acusam o professor adjunto Marcelo Magalhães Bulhões, do departamento de Ciências Humanas, de assédio sexual. Na manhã desta sexta-feira, 1º, foram expostos cartazes no câmpus da universidade que mostram supostas conversas de conotação sexual entre o docente e uma aluna. O professor nega as acusações.

Ainda na tarde desta sexta, os cartazes foram retirados pela equipe de segurança da universidade. Em uma das mensagens, o professor teria dito à aluna: "a verdade é que o nosso desejo não passa". Em nota oficial publicada pela Unesp de Bauru, a universidade disse que está acompanhando as manifestações que circulam nas redes sociais, assim como nos cartazes espalhados pelo câmpus.

Bulhões já foi denunciado por assédio em outras ocasiões e, em 2017, uma sindicância administrativa contra ele foi aberta. "Cabe esclarecer que em 2017 foi instaurada uma apuração preliminar de natureza investigativa a partir de denúncias de assédio do docente mencionado nos cartazes. Tal processo culminou em uma sindicância administrativa contra este servidor, finalizada em 2018. A comissão sindicante, à época, indicou o arquivamento dos autos com recomendações, tais como instauração de mecanismos para fomentar medidas educativas e elucidativas sobre assédio", relembrou a Unesp.

Na época em que a sindicância foi aberta, a iniciativa partiu de uma ex-aluna de Jornalismo, que coletou uma série de denúncias de várias alunas contra o docente. "Recolhi as denúncias e enviei para a Ouvidoria da Unesp Bauru e o Conselho de Curso de Jornalismo. Ele ficou afastado durante o processo de apuração que foi realizado, mas a justificativa que nos deram foi que ele precisava cuidar da saúde mental", disse a ex-aluna ao Estadão. Na época, ele foi afastado do curso de Jornalismo e realocado para lecionar na graduação de Relações Públicas.

Em nota, Marcelo Magalhães Bulhões disse estar "chocado" com as acusações e afirmou ser vítima de calúnia. Em sua defesa, declarou que, em 28 anos como professor da Unesp, não há "indício concreto do que se pode ser classificado como assédio" que ele tenha praticado.

"Foi com estarrecimento que fiquei sabendo que cartazes foram afixados no câmpus com teor acusatório a mim. Estou ainda chocado.", disse o docente. "Entendo que legítimas e importantes demandas da atualidade - luta contra o racismo, movimento feminista - têm produzido uma mobilização de empatia diante de causas importantes. Nesse caso, todavia, estou sendo vítima de calúnia, cuja propagação em tempos digitais é implacável", acrescentou.

No comunicado, lembrou que em 2019 uma comissão de sindicância foi aberta para apurar as acusações, mas mencionou que as investigações foram arquivadas. "O arquivamento do processo se fez precisamente por afiançar que nenhuma ação do teor de assédio foi por mim cometida."

"No curso do processo (de 2019), aliás, recebi depoimentos de incondicional apoio e elogio ao meu profissionalismo, escrito por dezenas de alunas que foram minhas orientandas (mestrado, doutorado e iniciação científica). Portanto, só posso afirmar que estou absolutamente estarrecido diante de uma situação que julgo absurda", declarou.

Estudantes e ex-alunas relatam constrangimentos

Uma ex-aluna da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) relata um episódio envolvendo Bulhões há oito anos. "Entrei na Unesp em 2011, com 18 anos, e desde o começo ele me assediou. Era algo bem sutil, toques no cabelo, pescoço… Eu era muito nova, me incomodava, mas eu não sabia nomear o que estava acontecendo", conta ela, que pede para não ser identificada.

Anos depois, já no 3º ano de faculdade, a ex-aluna encontrou o professor em um bar, onde estava com uma amiga. "Ele falou que precisava pegar o carro na Unesp e pediu para esperarmos para tomar um vinho na casa dele. Saímos correndo e eu não sabia muito bem o que fazer porque não estávamos dentro da universidade, mas me senti acuada. Dias depois, chegou um e-mail dele, falando que tinha sido muito bom me encontrar. Ignorei, dias se passaram e ele enviou outro e-mail, em que falava que nunca tinha me visto sorrir".

Assim como ela, outra jornalista formada pela Unesp, que ingressou no ano de 2013, afirmou que se sentia desconfortável com a abordagem de Bulhões, não apenas dentro da sala de aula, mas também fora dela. "No início, eu ficava feliz com a atenção dele, porque ser recém-chegada na universidade e ver um professor dando tanta atenção assim… Você percebe que está recebendo um tratamento diferente".

Ela afirma que o docente mandava mensagens para ela pelo Facebook, mesmo depois de não ter mais aula com ele. "Eu ficava incomodada com a insistência e fazia questão de chamar ele de 'professor' para reforçar que ele era só isso e nada mais, como em uma tentativa de lembrá-lo da posição dele em relação a mim", disse a ex-aluna. Em uma das mensagens enviadas, segundo ela, Bulhões teria pedido para que ela não o chame de 'professor', dizendo que seria uma 'vitória' para ele.

Uma aluna da graduação, que ingressou na Unesp em 2019, ano em que teve aula com o professor, também tem queixas. "Durante uma explicação de como seria um trabalho da disciplina, ele foi usar a estampa da minha camiseta como exemplo e esticou o braço apontando para a estampa e foi chegando muito perto. Eu tentava me inclinar para trás, ele continuava se inclinando junto e só parou quando dei um passo para trás", disse.

"Na hora fiquei bem desconfortável e me questionei sobre o que tinha ocorrido. Nunca levei isso adiante por não ter o toque em si e por achar que não levariam a sério uma denúncia dessas", declarou ela, que prefere não ser identificada.

Questionado sobre as acusações das ex-alunas e da estudante ouvidas pelo Estadão, o professordiz que foi investigado e inocentado das acusações após a investigação feita pela universidade. Ele afirma também estar sendo vítima de uma campanha difamatória. "Tenho o máximo da consciência tranquila que o meu comportamento em sala de aula e em todas as esferas da vida universitária nunca se aproximou minimamente do teor das acusações que me fazem", afirmou./COLABORARAM GABRIELA FORTE E CAIO POSSATI, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

Estadão
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