"Eu mereço comandar esse programa", diz Pepita sobre a volta do "Cartas Para Pepita" no Terra
Programa nasceu nas redes sociais da cantora e, em 2019, se tornou livro
A cantora trans Pepita, uma das primeiras funkeiras trans do país e ativista da causa LGBTQIA+, retornou com o seu programa "Cartas Para Pepita", que estreou nesta quarta-feira, 8, no portal Terra. O programa nasceu nas redes sociais da cantora e, em 2019, se tornou livro. Promovido pela marca editorial Terra Nós, o programa é dividido em três partes: leitura das cartas de fãs, um novo quadro chamado “Fala, povo!” e entrevistas com convidados especiais.
Pepita irá ler a carta de um fã e, em seguida, dará conselhos sobre como lidar com a situação. O tema da carta será debatido entre os convidados do programa e um repórter estará nas ruas conversando com algumas pessoas sobre aquele assunto.
Em entrevista ao Terra NÓS, a cantora expressou sua felicidade com o projeto. "Eu estou muito feliz de pisar aqui nessa casa. Eu estou muito feliz desde o dia que começaram as reuniões, quando chegou até a mim para a gente fazer um projeto juntos. Eu fiquei muito feliz de entender que eu sou alguém no país em que eu vivo", afirmou.
"É muito louco alguém me enxergar e acreditar no meu sonho, mas eu acredito em mim. Sempre vou acreditar nos meus sonhos também", ressaltou. A cantora ainda disse que é gratificante ver "uma empresa que realiza sonhos", como o dela de trazer o seu programa de volta.
Pepita conta que não tinha ideia que poderia mudar a vida de tantas pessoas. "Eu não tinha noção que eu conseguia mudar muitas vidas e muitas histórias com a minha voz".
Ela vê o quanto as pessoas confiam nela para contar as suas histórias. "Às vezes, a pessoa nunca me viu e ela me conta tudo o que ela está passando e me pede ajuda", afirmou a cantora. "Eu consegui ver que eu criei uma Pepita que dá conselho, amor e que ensina o que é amor", completou.
"Eu virei coach do dia para noite sem ter feito o curso de coach, mas o meu curso de coaching foi dor, foi preconceito, foi olhares, foi apontamento", refletiu.
Essa vivência como mulher trans foi sua grande "professora". Agora, 40 anos depois, ela entende a sua missão: usar a sua voz para ajudar outras pessoas. "Eu vou fazer a minha missão acontecer, não adianta eu ficar triste, não adianta eu ficar deprimida, é isso que o outro quer ver acontecendo comigo, mas eu sou mais do que isso", disse ela.
"Quando alguém me diz que eu não sou mãe, quando alguém me diz que eu não sou mulher, [penso que] eu sou um ser humano que merece respeito, mereço estar sentada aqui nesse sofá e comandar esse programa. Eu nunca fiz mal para ninguém", finalizou Pepita.
Maternidade
Em entrevista ao Terra NÓS publicada nesta quarta-feira, 8, a cantora falou sobre maternidade. Ela, que é mãe de Lucca Antonio, de um ano, disse que não mudaria nada em relação à sua maternidade, apesar de todo o preconceito que pessoas LGBTQIA+ sofrem diariamente.
"Eu não vou ter pudor nenhum de falar, assim como eu falo em todas as entrevistas, que ele é filho de uma mulher trans. Eu não falo que ele é filho de 'fulana' ou de 'beltrana'. Ele é filho de uma mulher trans que tem muito amor e carinho para oferecer para ele", contou.
Em outubro, a cantora denunciou que sofreu transfobia enquanto procurava uma babá para o seu filho. "O mais assustador foi que isso aconteceu dentro da minha casa. As perguntas eram muito assustadoras e o tom de falar era muito louco. ‘A mãe da criança não vai descer para a gente conhecer?’, ‘quem é a mãe dele?'", disse ela.
"É uma luta diária. Todo dia eu tenho que provar que eu sou mãe para o outro. Todo dia eu tenho que provar que tenho o direito de ser mãe. Todo dia eu tenho que provar que na minha identidade está escrito Priscila Nogueira e que eu sou 'ela'", destacou em entrevista.