'Eu não sou uma mulher, sou uma drag queen': Alexia Twister fala sobre Rei Lear e vitória histórica no Prêmio Shell
Drag queen venceu o Prêmio Shell de melhor ator por sua interpretação de Rei Lear e celebrou a visibilidade para a arte drag no teatro
Alexia Twister, primeira drag queen a vencer o Prêmio Shell de Teatro, foi reconhecida por interpretar o rei Lear, destacando a importância da arte drag no Brasil e questionando noções de binarismo artístico.
A drag queen Alexia Twister fez história no teatro brasileiro ao vencer o Prêmio Shell de Teatro 2025 na categoria de melhor ator. A cerimônia, realizada na última terça-feira, 18, no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, reconheceu sua atuação como o rei Lear na adaptação da clássica tragédia de William Shakespeare montada pela Cia. Extemporânea.
Em entrevista ao Terra Agora nesta quinta-feira, 20, Alexia celebrou a conquista e ressaltou sua importância para a arte drag no Brasil. “Foi realmente uma grande conquista para a nossa arte brasileira, para a nossa arte drag brasileira”, afirmou. Além de ser a primeira drag queen a receber a indicação, a vitória gerou discussões sobre a categoria em que concorreu. “É um prêmio de melhor ator, que causa um pouco de dúvida. Mas por que ator e não atriz, né? Eu não sou uma mulher, eu sou uma drag queen, eu utilizo a minha expressão feminina como expressão artística.”
Ela destacou que o reconhecimento amplia a visibilidade de uma arte ainda marginalizada. “É um marco. É um marco que dá espaço e, provavelmente, visibilidade para a nossa arte.”
Um desafio em cena
Sobre a experiência de atuar como drag em uma peça clássica, Alexia explicou que, inicialmente, não via espaço para essa abordagem na tragédia de mais de 400 anos. “À primeira vista, na adaptação que o João Mostazo fez para essa montagem, eu não encontrava brechas para drag. Então, foi um processo bem doido de construção, porque a gente acabou construindo uma personagem um pouco, digamos, híbrida. O que é muito mais interessante, de certa maneira, para subverter essa noção de binarismo em que a gente vive. Por que você tem que ser de menino? Por que você tem que ser de menina?”
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A complexidade emocional do personagem também foi um desafio. “É uma tragédia. Então, eu tinha uma carga ali de emoção muito doida com relação a nuances. Uma hora ele tá sóbrio, daqui a pouco ele tá louco... Na mesma frase, eu acho que enlouqueci umas três, quatro vezes.”
A intensidade da atuação a acompanhava mesmo fora dos palcos. “Falava muito com o João que, muitas vezes, eu voltava para casa com o Lear aqui nas minhas costas, e claro que isso estava me incomodando muito. E aí o João me disse uma frase que nortearia meu caminho até aqui: ‘Imagina a quantidade de atores importantes que já fizeram esse papel. É um peso. Mas todo desconforto emocional que ela te causa, ela te devolve em glória.’ E foi isso. No final, foi isso.”