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“Eu paguei para jogar”, lembra pioneira no futebol feminino

Márcia Tafarel atuou na primeira seleção brasileira, e hoje trabalha como treinadora de futebol nos EUA

4 ago 2022 - 05h00
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Quando a seleção brasileira de futebol feminino dava seus primeiros passos Márcia Tafarel já vestia a camisa amarela. Presente na primeira Copa do Mundo da categoria, disputada na China, em 1991, e na primeira Olimpíada, em Atlanta-1996, a ex-meia hoje trabalha nos EUA e aguarda uma oportunidade de retornar ao País e “ajudar no desenvolvimento do futebol de mulher”.

Em entrevista exclusiva ao Papo de Mina, Tafa, como ficou conhecida no futebol, relembra a dificuldade que viveu no início da carreira, sem apoio e, principalmente, sem espaço. A opção era jogar na rua com outros meninos, mas sob o julgamento preconceituoso de boa parte das pessoas.

"Meu pai só teve orgulho de mim quando cheguei à seleção":

“Como gaúcha, morando numa cidade tradicional de colonização italiana, minha família não gostava de ver uma menina brincando com os meninos na rua”, recorda. Aos 13 anos ela passou então a treinar junto a outras meninas, mas numa equipe adulta, com companheiras de quase 20 anos, o que a fez pular diversas fases da formação profissional.

E se hoje ainda discutimos a desigualdade salarial no esporte, há 30 anos esse cenário era ainda mais desafiador. Com pouca ou quase nenhuma estrutura, Tafarel destaca que a maioria das atletas pioneiras pagava para jogar, salvo poucos clubes de São Paulo que davam ajuda de custo - e foi isso que a levou a deixar o Rio Grande do Sul e buscar uma oportunidade em Campinas.

Márcia Tafarel defendeu a seleção brasileira nas primeiras participações em Copa e Olimpíada
Márcia Tafarel defendeu a seleção brasileira nas primeiras participações em Copa e Olimpíada
Foto: CBF

“A primeira coisa que meu pai falou foi 'eu não vou ficar sustentando você lá em São Paulo para você ficar jogando futebol, porque esse esporte não vai te levar a nada'”, conta Tafa, que ainda acrescenta: “meu pai só passou a ter orgulho de eu ter feito parte da história, de ser uma jogadora de futebol, a partir do momento que eu cheguei numa seleção brasileira”.

A VIDA APÓS PENDURAR AS CHUTEIRAS

Márcia se aposentou perto dos 30 anos, após atuar tanto no campo quanto no salão (algo permitido às atletas da época), e destaca com orgulho a preocupação que teve ao pensar o que fazer depois de parar.

Depois de uma experiência como treinadora de equipes de base de futebol de salão, e de começar faculdade de Gerenciamento em Turismo e Hotelaria, recebeu de Sissi, ex-companheira de seleção, o convite para ir aos EUA. “Ela me convidou pra passar férias. Eu fui a princípio para ficar 15, 20 dias, e não voltei mais”, diz.

Com apoio da ex-atacante, uma das principais lendas do esporte, Tafa conquistou a cidadania americana e estudou muito, mas sempre manteve um objetivo claro: ajudar no desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. “Eu fico pensando assim, se os EUA, que são tão grandes, conseguem ter um pool de talentos e projeto de identificação de talentos, por que a gente não consegue ter isso no Brasil?”.

Assistente pontual da seleção brasileira feminina em 2015, Tafarel revela que ainda se vê indo pro Brasil, trabalhando e ajudando no desenvolvimento da categoria, mas ainda não recebeu convite de clubes ou da própria CBF. “É uma questão de oportunidade”, afirma.

Papo de Mina
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