Ex-colega de trabalho acusa Rubiales de assédio e diz que era humilhada diante de jogadores
Tamara Ramos era diretora de marketing na Associação de Futebolistas da Espanha (AFE) à época que as ações ocorreram
O presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, que beijou a atacante Jennifer Hermoso durante a comemoração do título da Copa do Mundo feminina, é acusado de assédio por uma ex-colega de trabalho. Em entrevista ao "Programa Del Verano", do canal espanhol Telecinco, Tamara Ramos relatou ter sofrido humilhações, inclusive diante de jogadores da seleção espanhola, na época em que trabalhava como diretora de marketing na Associação de Futebolistas da Espanha (AFE), há 10 anos, quando Rubiales presidia a entidade.
Hoje, Tamara atua como presidente do Sindicato de Futebolistas On, organização alternativa à AFE, que defende os direitos trabalhistas de atletas de divisões inferiores e do futebol feminino. Nervosa durante a entrevista ao programa, ela conta ter sofrido humilhações, além de ter ouvido palavras "que não poderia repetir por causa do horário".
Em determinado momento, o repórter pergunta se o dirigente tinha esse comportamento publicamente, na frente de jogadores da seleção espanhola, como Casillas, Piqué e Busquets. "Fazia na frente de todos, com sarcasmo, me dizia: 'venha, você veio colocar as joelheiras'. Ninguém merece ouvir isso", responde Tamara. "Me perguntava qual era a cor da minha roupa íntima. Sendo mulher no futebol, e com o poder que ele ostentava e ainda ostenta, era muito difícil enfrentá-lo", conclui.
Depois da cena pública de Rubiales beijando Hermoso, Tamara Ramos acredita que haverá respaldo para sua denúncia. "Não me surpreende em nada (o beijo), pois conheço ele há muito tempo", afirma. "Acredito que agora seja mais fácil que acreditem em mim, agora que viram quem ele é. Tem um discurso muito bom, sempre tem muita demagogia e é muito difícil, sendo mulher, que tivessem acreditado em mim", completa.
DENÚNCIA
Após o episódio na decisão da Copa do Mundo Feminina, Rubiales foi denunciado ao Conselho Superior de Esportes da Espanha (CSD, na sigla em espanhol. A denúncia foi movida por Miguel Galán, presidente da Escola Nacional de Treinadores de Futebol.
Galán classificou a atitude de Rubiales como um "ato sexista intolerável no esporte" e se baseou na Lei 39/2022 do Esporte, legislação recente na qual é determinado que "qualquer ação que possa ser considerada discriminação, abuso ou assédio sexual e/ou assédio por razão de sexo ou autoridade deve ser levada ao conhecimento do órgão sancionador do Conselho Superior de Esportes, para ser sancionada como infração grave".
A denúncia também cita o protocolo interno da Federação Espanhola de Futebol contra a violência sexual. No artigo 14, há um item específico que versa sobre "beijo à força" e considera tal comportamento como "conduta inaceitável que acarretará em consequências imediatas". Galán pede que a denúncia seja transferida ao Tribunal Administrativo do Esporte.
Diante da crise causada pela imagem, a Federação convocou um Assembleia Geral Extraordinária para sexta-feira. Durante o encontro, o presidente, que cumpre mandato com encerramento previsto para o final 2024, terá de dar explicações sobre seu comportamento.