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Ex-funcionária de desembargador diz que mulher era tratada como “escravinha”

Vítima foi submetida a trabalho doméstico análogo à escravidão. Ela foi resgatada da casa de Jorge Luiz de Borba após operação

12 jun 2023 - 11h10
(atualizado às 12h07)
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Foto: Reprodução/TV Globo

Uma ex-funcionária que trabalhou na residência do desembargador Jorge Luiz Borba, investigado por manter uma trabalhadora doméstica em condição análoga à escravidão, afirmou, em depoimento, que a vítima era tratada como uma "escravinha" na casa. As declarações foram obtidas pelo programa Fantástico, da TV Globo.

A antiga colaboradora, contratada entre 2020 e 2021, relatou que a mulher resgatada fazia refeições com os funcionários, somente depois dos patrões, e dormia em um quartinho nos fundos da casa. Além disso, ela também afirmou que os cachorros da família recebiam um tratamento melhor do que a vítima.

Outra ex-funcionária, que trabalhou na casa entre 2015 e 2016, classificou a vítima como "mucama", um termo utilizado historicamente para se referir a pessoas escravizadas que realizavam serviços domésticos.

As autoridades foram informadas sobre o caso por meio de uma denúncia anônima em novembro do ano passado. A partir desse momento, diversos trabalhadores que serviram à família do desembargador em diferentes períodos prestaram depoimentos, fortalecendo ainda mais as suspeitas iniciais.

Entenda o caso

O desembargador é suspeito de manter uma mulher surda em condição análoga à escravidão. Além dele, a esposa também é investigada. A vítima precisou do auxílio de uma intérprete de libras para prestar depoimento ao Ministério Público do Trabalho (MPT) na terça-feira, 6. A defesa do desembargador nega as acusações.

A TV Globo mostrou que o desembargador informou que “aquilo que se cogita, infundadamente, como sendo 'suspeita de trabalho análogo à escravidão', na verdade, expressa um ato de amor. Haja vista que a pessoa, tida como vítima, foi na verdade acolhida pela minha família”.

O caso é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). Marido e mulher estariam mantendo, há pelo menos 20 anos, uma pessoa para fazer tarefas domésticas em geral, sem possuir registro em carteira de trabalho e sem receber salário ou qualquer outro benefício trabalhista.

A mulher foi ouvida em Florianópolis acompanhada de uma defensora pública. O desembargador e a defesa dele também prestaram depoimento. Testemunhas e outras pessoas que trabalham na casa foram ouvidas pelo MPT, MPF, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Polícia Federal.

A ação de resgate da mulher é acompanhada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, que existe há 28 anos. O órgão faz ações e alimenta com dados do país inteiro o Radar do Trabalho Escravo da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT).

Operação

A ação na casa do desembargador na terça-feira, 6, foi motivada por uma investigação que apura indícios da prática criminosa, segundo o MPF, após relatos de "trabalho forçado, jornadas exaustivas e condições degradantes".

"A trabalhadora seria vítima de maus-tratos em decorrência das condições materiais em que vive e em virtude da negativa dos investigados em prestar-lhe assistência à saúde", informou o MPF. Conforme o órgão, a mulher tem deficiência auditiva, nunca teve instrução formal e não possui o convívio social resguardado. A investigação está sob sigilo.

Quem é o desembargador?

O desembargador Jorge Luiz de Borba preside a Primeira Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). Ele já presidiu a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no município de Blumenau em 1991 e recebeu o título de cidadão emérito da cidade em 2017.

Borba é formado em direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb) e é pós-graduado em direito do trabalho pela mesma universidade.

Fonte: Redação Terra
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