"Falar que não pareço ter 57 anos não é elogio", diz Ana Paula Padrão
À frente do MasterChef Brasil e do evento Women on Top, apresentadora reflete sobre etarismo, feminismo e liberdade na rotina pós-bancada
Recentemente, enquanto esperava a vez de ser atendida na fila de uma farmácia, Ana Paula Padrão foi abordada por uma jovem. Entusiasmada pelo encontro com aquela que, segundo suas palavras, era uma de suas referências de vida e carreira, a garota não poupou elogios. E, antes de se despedir, comentou que a apresentadora "não aparenta de jeito nenhum a idade que tem". "Fui chamada de 'velha' da maneira mais fofa e elegante possível", relata Ana com doses iguais de divertimento e indignação.
Aos 57 anos de idade, a jornalista considera que "parecer mais jovem" não deveria ser elogio para nenhuma mulher madura. No entanto, ela entende o que costuma motivar esse tipo de etarismo disfarçado de enaltecimento no contexto atual. "Estamos vivendo um momento único, pois pela primeira vez na História as mulheres 50+ podem decidir sobre suas próprias vidas e a sobre a maneira de se posicionarem no mundo", afirma.
Para Ana Paula, há uma mudança em vigor sobre os paradigmas que cercam as mulheres com mais de 50 anos e seus desejos, trabalhos, estilos e expectativas. "As referências estão mudando e, por isso, mulheres como eu, que não abrem mão do cabelão, do batom vermelho e da minissaia na maturidade, são vistas como revolucionárias", aponta.
Escolhas difíceis
A revolução iniciada por Ana Paula Padrão, o público que a acompanha sabe, vai muito além do visual. Em 2013 ela foi vista pela última vez à frente de um telejornal – o Jornal da Record – após uma bem-sucedida carreira jornalística, com uma passagem marcante pela Rede Globo. Um ano depois, estrearia como apresentadora do MasterChef Brasil na Rede Bandeirantes, atração que comanda até hoje e que acaba de estrear sua 10ª edição.
A troca do jornalismo pelo entretenimento gera críticas até hoje, principalmente em seus perfis nas redes sociais. "Eu sei que machuquei muita gente com minhas escolhas, que não foram nada fáceis. Frustrei pessoas que viam em mim um exemplo a seguir e ainda sou cobrada por isso, mas eu não estava mais apaixonada por aquilo que fazia, era difícil levantar para a fazer a mesma coisa todo dia. Então, resolvi não abrir mais mão de quem sou para atender expectativas alheias", admite.
O coro dos descontentes com os rumos de sua trajetória profissional é pífio comparado à quantidade de fãs e seguidores que acham que Ana Paula Padrão virou outra mulher – mais alegre, mais simpática e mais cheia de energia – depois que deixou de lado a seriedade das bancadas.
Um rápido passar de olhos pelo Instagram da apresentadora comprova que a vida, realmente, vai muito bem, obrigada: ela compartilha desde viagens até bastidores e conquistas profissionais, momentos fofos com seu cachorrinho, vídeos sinceros sobre menopausa e questões femininas e fotos de biquíni ou maiô que, apostamos, cravaram definitivamente a admiração da garota da farmácia.
"Ao longo da minha carreira em telejornais, sempre lidei com temas muito tristes e pesados. Exercia uma atividade que, obviamente, não me permitia mostrar como sempre fui. Era necessário esconder a emoção. Porém, apesar de ter demorado para me despir publicamente do legado de 28 anos de jornalismo, quem me conhece sabe que meu perfil é de 'palhacinha'. Levo muito a sério qualquer atividade que faço, mas não sou séria", confessa. "Quem me diz que pareço mais feliz agora tem toda razão. Mais feliz, mais realizada, mais inteira, mais sem vergonha", destaca.
Feminista, sim!
Outras mudanças aconteceram na linha do tempo que vai do Jornal da Record ao MasterChef Brasil – reality show que, segundo Ana, lhe proporciona diversão, satisfação e conhecimento. Em 2014 ela lançou o livro "O Amor Chegou Tarde em Minha Vida" (Ed. Paralela), espécie de autobiografia na qual também lançou reflexões sobre a mulher brasileira a partir de pesquisas e de seu trabalho no extinto portal Tempo de Mulher, uma referência em conteúdo feminino.
Ela ainda dirigiu a revista Claudia por cerca de um ano e, em 2015, anunciou no Facebook o término do casamento de 12 anos com o economista Walter Mundell. Casou-se novamente com o empresário Gustavo Diament e leva uma vida discreta ao lado dele – entre as poucas ocasiões que compartilha da vida a dois, uma se destaca pela declaração especial que fez a Nina, sua enteada de 18 anos, em seu aniversário.
Hoje, além do MasterChef, Ana Paula Padrão é a assinatura por trás do Women on Top, evento que acontece neste sábado (6) na capital paulista e que reúne um time diverso e impressionante de executivas das mais diversas áreas para discutir a presença feminina no mercado de trabalho. Pergunto se ela se identifica com o feminismo. "Eu SOU absolutamente feminista. Qualquer mulher que se preocupa minimamente com a igualdade de direitos deveria se autodeclarar feminista", responde, enfática.
Considerado um dos maiores encontros de mulheres CEO's e empreendedoras da América Latina, o Women on Top vai abordar temas como sororidade, assédio, etarismo e inovação. O pano de fundo para todas as discussões, segundo Ana Paula, é a solidão. "Estou convencida de que a mulher que trabalha, ao menos no Brasil, nunca esteve tão só. Ela se divide em tantos papéis e tarefas, equilibra tantos pratinhos, que ao final do dia sobra pouco tempo para se perguntar: quem fui eu hoje? É preciso discutir carga mental e a chamada economia do cuidado, que faz girar todas as outras e é movida principalmente por mulheres. Quem cuida de quem cuida dos outros?", indaga.
A partir do olhar das executivas, o objetivo é fomentar propostas e ideias que atinjam todas as mulheres. Esta é a 3ª edição do Women on Top, que fica mais robusto a cada ano e que, de acordo com a apresentadora, tende a se expandir futuramente. "Sou muito feliz e sinto orgulho do que construí, mas, como falei, quero sempre fazer alguma coisa que me mova e desperte paixão. Pensar adiante, em como posso contribuir para empoderar mulheres, faz parte do encantamento que tenho pela vida", termina Ana Paula.