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Falas Femininas: especial da Globo debate a "loucura" atribuída à mulher

Paolla Oliveira e Taís Araújo falam sobre os momentos que fazem as mulheres serem taxadas de 'loucas' e a importância de colocar essa questão em debate para um público plural e diverso como o da TV aberta

8 mar 2024 - 13h53
(atualizado às 14h28)
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O programa propõe a reflexão do espectador sobre o cuidado e a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher
O programa propõe a reflexão do espectador sobre o cuidado e a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher
Foto: Divulgação: Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário

Estreia, neste Dia Internacional da Mulher, o programa Falas Femininas, na Rede Globo. O Estadão conversou com a atriz Taís Araújo, que apresenta o especial com Paolla Oliveira, além de Antonia Prado, diretora, e Veronica Debom, autora, para entender onde paira a tal "loucura feminina" - tema escolhido para a discussão - e o que ela significa em uma sociedade que não compreende a sobrecarga de tarefas que acomete as mulheres, ou que coloca em xeque suas convicções.

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O formato escolhido para o programa é o experimento social - um exemplo desse gênero na TV aberta é o próprio Big Brother Brasil. Ao contar com a participação de pessoas comuns simulando situações cotidianas, que vão do trabalho doméstico às situações profissionais nas quais mulheres são estigmatizadas, o programa propõe a reflexão do espectador sobre o cuidado e a sobrecarga de tarefas atribuídas à mulher, e como isso gera o estereótipo de "loucura feminina".

Para Antonia, essa "loucura" gera um ciclo vicioso. "As mulheres estão exaustas! Acumulam muitas funções no trabalho formal, em casa, nos cuidados com filhos e pais. Os afazeres não são divididos igualmente entre os pares porque parte-se da premissa que todas as funções domésticas e toda economia do cuidado são responsabilidades femininas; enquanto o homem 'ajuda'. E quando precisam ser cuidadas, muitas e muitas vezes, as mulheres são abandonadas", define.

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho
Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho
Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário / Estadão

Maíra Marcondes Moreira, psicanalista, Doutora em Processos Sociais e autora do livro Freud e o casamento: o sexual no trabalho de cuidado, concorda que a sociedade atribui o cuidar à mulher, e as consequências disso se refletem até nos estudos da psicanálise. "Quando Freud inicia seus famosos estudos sobre histeria - relacionado ao feminino - ele não se atenta para o fato de que todas as pacientes histéricas estavam também cuidando de alguém, seja um companheiro, familiar ou crianças", reflete.

Em seu livro, a autora desmistifica a ideia de que exista um corpo que seja "mais capaz" para o cuidado, porque isso acaba colocando a mulher em posição de servidão. Ela propõe que o cuidado seja coletivo, atribuído não só ao Estado mas também ao próprio homem, para que eles se entendam como bons cuidadores. Caso contrário, a mulher continuará com a sobrecarga desigual de tarefas pois, além do cuidado familiar, ela hoje também é, boa parte do tempo, provedora: Dados do IBGE revelam que, atualmente, mais de 48% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.

Dizem que sou louca, por eu ser assim

Muitas mulheres já foram chamadas de loucas, seja pelo parceiro, pelos familiares ou no ambiente de trabalho. É o chamado gaslighting - uma forma de abuso psicológico em que a vítima é manipulada para não acreditar na própria percepção da realidade, tema que também será debatido no programa. "Me sinto "louca", entre mil aspas, quando a minha palavra é descredibilizada", conta Taís Araújo. Já para Paolla Oliveira, os momentos em que a taxaram de "louca" foi quando ela assumiu várias responsabilidades ao mesmo tempo. "Como toda mulher, multifuncional que somos, temos demandas em todos os aspectos da vida", conta.

Para Taís, a espectadora pode se reconhecer em situações e compreender o que elas, de fato, significam, sem que precisem duvidar de si mesmas. "Tudo aquilo ali acontece de forma corriqueira e diariamente na vida de muitas mulheres, então, são ações normalizadas, que não podem mais ser normalizadas", explica.

Antonia Prado e Verônica Debom.
Antonia Prado e Verônica Debom.
Foto: Divulgação Rede Globo / Manoella Mello / Leo Rosário / Estadão

Falas em debate

Taís e Paolla foram escolhidas para comandar o programa por terem um dialogo próximo com a mulher brasileira. Para Taís, estar a frente do Falas Femininas é uma oportunidade.

A autora do especial, Veronica Debom, explica: "Chamar uma mulher de louca pode ser uma forma de ignorar violências que ela esteja vivendo (físicas ou psicológicas), Além disso, é uma forma de desconsiderar suas opiniões ou de descartar a mulher profissionalmente, podendo servir também para a mãe perder a guarda de um filho."

Veronica afirma que todas as temáticas debatidas no programa são urgentes. Para ela, foi gratificante colocar em pauta, em rede nacional, tópicos que são comuns nas conversas entre amigas. "Como é bom levar a discussão que eu tenho exaustivamente na minha roda de amigas para o Brasil inteiro", diz. "Fico cheia de esperança imaginando que muitas espectadoras irão se identificar e aprofundar sua consciência de gênero. Para além dessa missão tão gratificante, está o prazer da execução. É uma honra estar cercada de mulheres fazendo televisão de qualidade e tratando um assunto tão importante", finaliza.

O especial Falas Femininas será transmitido pela Rede Globo nesta sexta, 8, depois do Big Brother Brasil.

Estadão
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