'Farsante, traíra, mentirosa': redes bolsonaristas mantêm ataques a mulheres que criticaram governo
Após se destacarem em debate, Simone Tebet e Soraya Thronicke seguem como alvo; aliados do presidente tentam, na internet, desqualificar defesa das mulheres feita por ambas.
O dia seguinte ao primeiro debate presidencial das eleições de 2022 é marcado, nas redes sociais, por ataques às candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União), que apontaram corrupção e incompetência do governo de Jair Bolsonaro (PL) e foram as mais firmes nas críticas à gestão do candidato.
A onda de xingamentos não se restringiu à duração do debate televisionado. Desde a manhã desta segunda-feira, 29, as mulheres continuam sendo alvo de ofensas, montagens e xingamentos em novas postagens de aliados do presidente. Ciro Gomes (PDT) e Felipe D'ávila (Novo) também fizeram críticas a Bolsonaro, mas são menos visados.
A jornalista Vera Magalhães, para a qual o candidato à reeleição subiu o tom simplesmente por não gostar de uma pergunta feita por ela, também tem sofrido novos ataques virtuais por bolsonaristas.
Em um esforço para reduzir prejuízos que Bolsonaro causou a ele mesmo junto ao eleitorado feminino no debate, apoiadoras e apoiadores fizeram uma campanha para colocar em primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter o termo #SouMulherEVotoBolsonaro". A frase "BOLSONARO ODEIA MULHERES" também entrou para a lista de mais comentadas.
As publicações que elevaram o termo são acompanhadas por ideias de que Simone e Tebet não representam as mulheres porque seriam "comunistas" incumbidas de desqualificar o presidente e ignorar as ações dele em benefício das cidadãs brasileiras.
Farsante, traíra e mentirosa são alguns dos adjetivos usados por aliados do presidente contra as mulheres. Pesquisas de monitoramento das redes sociais e análises de comentaristas do Estadão apontaram que Simone e Soraya se destacaram no primeiro debate. Os apoiadores buscaram desqualificar as críticas de Soraya resgatando o material que ela usou na campanha em 2018, quando associou sua imagem à do presidente. Em entrevista ao Estadão, explicou o rompimento relatando incômodo com extremistas, discordância com a mistura de religião com Estado, entre outros pontos.
As pesquisas de intenção de voto apontam uma rejeição do atual presidente junto às mulheres. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, passou a ser uma peça importante da campanha à reeleição para tentar abrir diálogo com eleitoras que não querem mais Jair Bolsonaro.
Ao subir o tom de voz e usar palavras agressivas contra as candidatas e contra a jornalista no debate, Bolsonaro acabou por jogar contra ele mesmo o tema do machismo e da misoginia (palavra usada para definir desprezo e repulsa a mulheres).