Fiocruz discute uso de plantas medicinais em territórios afro-brasileiros e no SUS
Primeira edição do evento reuniu profissionais de saúde, integrantes dos territórios tradicionais, pesquisadores e lideranças das religiões de matrizes africanas Texto: Giovanne Ramos | Imagem: Reprodução/IdeiaSUS/Fiocruz
O "1º Encontro de Saberes Tradicionais, Plantas Medicinais e Saúde: o legado dos territórios tradicionais afro-brasileiros", realizado na última sexta-feira (15), na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, debateu ações para a disseminação e preservação do patrimônio histórico imaterial, existentes nos territórios tradicionais afro-brasileiros. O evento foi organizado pela Comunidade de Práticas de Saberes Tradicionais da Plataforma IdeiaSUS Fiocruz.
O encontro debateu quais são os lugares ocupados pelas plantas medicinais nos territórios tradicionais, influenciados pelas religiões de matrizes africanas e quais as contribuições que esses saberes trazem ao Sistema Único de Saúde (SUS). A conversa também discutiu até que ponto o SUS pode e deve se apropriar desse legado.
Na mesa de abertura, participaram Valber Frutuos, assessor de Relações Institucionais da Fiocruz; Valcler Rangel, assessor especial do Ministério da Saúde; ogã Cléber Barbosa, do Grupo de Estudos Braulio Goffman; mestre Ele Semog, da Coordenadoria de Experiências Religiosas Africanas, Afro-Brasileiras, Racismo e Intolerância Religiosa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); vereador Edson Santos (PT), presidente da Comissão de Cultura da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro; e Denise Vieira, do Coletivo de Erveiras e Erveiros do Salgueiro (RJ).
Um dos destaques do evento foi o Coletivo de Erveiros do Salgueiro, formado por moradores do Morro do Salgueiro, favela localizada no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Além de realizar reuniões com a comunidade sobre plantios de mudas, o coletivo também constrói hortas comunitárias e realiza reflorestamento e o cultivo da Mata Atlântica no entorno do morro, região ocupada por ex-escravizados, migrantes e imigrantes, no século XX. O local faz parte, até hoje, da ancestralidade afro-brasileira do Rio.
De acordo com a educadora ambiental Denise Vieira, o coletivo já catalogou mais de 50 hortas no Salgueiro. Outras iniciativas do coletivo incluem uma biblioteca com vasta bibliografia sobre plantas medicinais; oficinas; preparação de receitas, herdadas de seus ancestrais; colheita de alimentos do axé, como o caruru, que é usado nas festas de erê; entre outras.
A professora Yara Britto, do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, falou sobre as possibilidades de contribuição do saber tradicional afro-brasileiro na construção do SUS.
"Tradição e ciência não são excludentes, mas sim complementares", disse durante o evento. "[O terreiro] é o lugar de encontro, conversa, festividades, comemorações, iniciação, cultivo de plantas, tradição e transmissão de conhecimento", definiu, estimulando o diálogo do aprimoramento das ações dos saberes tradicionais, assunto que finalizou o encontro.