"Gênero para mim é irrelevante", diz influenciadora LGBTQIA+ em Cartas Para Pepita
"Na minha cabeça os dois gêneros vivem ali", explica a jornalista e criadora de conteúdo de beleza Adam Mitch
Adam Mitch foi uma das convidadas do programa "Cartas Para Pepita", transmitido pelo Terra na última quarta-feira, 10. Adam é uma jornalista e criadora de conteúdo de beleza que atualmente acumula cerca de 1 milhão de seguidores no Instagram.
Em um bate-papo sobre autoestima, Adam contou que a sua adolescência foi muito difícil e, até os 20 anos de idade, a sua vida foi bem conturbada, mas após começar a trabalhar com a internet e conseguir o seu próprio dinheiro, hoje ela vive tranquilamente e feliz.
"Eu sempre me olhei no espelho e não gostava muito [da aparência]. Então a minha autoestima veio muito da minha independência financeira", iniciou.
Adam ressalta que seus pais sempre a apoiaram muito, mas ter uma certa responsabilidade e conseguir fazer as suas coisas sem precisar de ajuda foi algo que contribuiu para o aumento da sua autoestima.
Nascida no Rio de Janeiro, Adam acredita que a mudança para outro estado também contribuiu para a autoestima, principalmente por causa do trabalho, uma vez que ela costumava viajar várias vezes por mês para São Paulo, onde mora atualmente.
"Eu tirava do meu próprio bolso porque no início as marcas não pagavam para eu estar em eventos. Então eu fechei um contrato com uma marca de maquiagem e, nessa mesma época, dava para pagar seis meses de aluguel", disse ela, contando que a família lidou muito bem com a notícia.
Adolescência
Desde criança, a criadora de conteúdo sempre foi muito madura para a sua idade. "Mas ao mesmo tempo eu também era muito 'dane-se'", disse. Na escola, ela sempre era questionada por causa dos seus gostos. "Por que essa folha rosa? Por que seu cabelo é grande? Por que você gosta disso? Por que você quer usar maquiagem?", relembrou.
"Eu sempre dava voz às pessoas que gostavam de mim. Eu não era popular, mas eu tinha alguns amigos. Então, quando criança, eu decidi, 'eu sei que vai ter gente que não vai gostar do meu jeito, mas eu vou dar voz para quem gosta'. E foi muito bom porque a partir desse momento eu sabia que iria tomar decisões e iria ser estranho para algumas pessoas. Mas quem gostava de mim, como meus pais e minhas amigas, iria me aceitar do jeito que eu sou", contou.
Quando Adam fala em "ser estranho", ela não está querendo dizer no sentido pejorativo da palavra. "É no tipo diferente do que eu via e do que os meninos gostavam. Na minha escola tinha muitos 'mauricinhos' e eles gostavam de skate, jogar futebol ter cabelo curto e ficar com as meninas nas festas. Eu já sabia que aquilo não era para mim", explicou ela.
Relação com o espelho
Se antes Adam não gostava do que via no espelho, hoje ela se sente poderosa. "Eu tenho uma habilidade com as mãos para fazer uma make que eu amo e tenho profissionais muito legais que conseguem me ajudar a botar um look legal, um cabelo legal", afirmou.
Segundo Adam, ela tem problemas com acne e isso é abordado em seus conteúdos nas redes sociais. "Por muito tempo, eu queria esconder todos esses defeitos, mas eu acho que na internet é muito legal quando você fala disso e acaba se conectando [com o público] mais do que se você aparecer toda hora com a pele linda".
Trans ou travesti?
Para a criadora de conteúdo, essa questão ainda é muito viva em sua vida. Na verdade, não é que ela não se veja como uma mulher trans ou travesti, mas sim porque muitas vezes ela se vê e outras vezes não. "Quando eu estava entrando na faculdade, eu conversei com muitas amigas trans e fui entendendo como que é o mundo", contou.
Ela quase chegou a iniciar o tratamento hormonal, mas percebeu que não tinha certeza se era isso que queria. Adam, então, fez muitas perguntas. "Por que eu não me vejo como um menino, mas será que eu me vejo como uma menina?", citou.
"Não é uma questão de 'hoje eu vou ser ele', 'amanhã vou ser ela', é que na minha cabeça os dois gêneros vivem ali e eu faço as minhas coisas independente se eu vou usar a roupa que eu quero usar. O gênero para mim é quase que inútil, é irrelevante", destacou.
Adam contou que algumas pessoas de sua família ainda a chamam pelo seu nome de batismo. No entanto, isso não a incomoda. As pessoas usam os pronomes feminino e masculino para falar com ela, mas, publicamente, Adam prefere "ela".
"Por isso eu fico na dúvida: se essas coisas realmente não me incomodam, por que seria relevante fazer a transição?", refletiu Adam, que está noiva. "Eu vou casar. A gente ainda não sabe muito bem o que vai fazer, mas vai vir um casório", finalizou.