Gordas relatam frustração na busca por vestido de noiva: “Perguntaram se eu não pensava em emagrecer"
Mulheres contam que tiveram sonho do vestido de noiva ameaçado pela falta de oferta no mercado
O mercado de casamentos no Brasil movimentou cerca de R$20 bilhões em 2022, segundo levantamento da Associação Brasileira de Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta), mais de 60% em comparação com 2019.
Porém, este setor em constante ascensão ainda tem nichos negligenciados, como o de vestidos de noiva plus size, por exemplo. Esta é a opinião de Lais Sellmer, 33, psicóloga que, com seu esposo Ygor, integrou a lista de mais de 4,9 milhões de casais que oficializaram a sua união em cartórios pelo Brasil em 2022.
Ela, assim como outras noivas gordas ouvidas nesta matéria, teve o sonho do vestido de noiva ameaçado pela falta de oferta no mercado, somado ao atendimento precário nas lojas.
“Perguntaram se eu não pensava em emagrecer antes de comprar o vestido”
Romântica, sonhadora e vestindo manequim 54, Lais sempre soube o vestido que queria usar no seu casamento: “de princesa e com muito brilho”. Porém, o seu conto de fadas quase ruiu após visitar 9 lojas especializadas em vestidos de noiva na tradicional “Rua das Noivas”, localizada na Rua São Caetano, em São Paulo.
“Algumas vendedoras ficavam bem desconfortáveis ao dizer que não tinham vestidos para o meu tamanho. Outras me perguntaram se eu não pensava em emagrecer antes de comprar o vestido”, relembra.
Outra sugestão que lhe foi dada é que comprasse o vestido por catálogo, o que a deixou frustrada e insegura. E foi após desabafar com a sua cabelereira de um bairro em Taboão da Serra, SP, sobre a suas tentativas fracassadas de encontrar o vestido ideal, e acabou recebendo a indicação de uma costureira.
“Como foi uma indicação, eu me senti segura em contratá-la. Com tecido e mão de obra, gastei R$1.300,00. A última prova do vestido foi de grande emoção, eu e a costureira choramos juntas. Ficou do jeitinho que eu queria”.
Salvação na escola de samba
Antes mesmo de marcar a data do casamento, a estilista Thais Ohana, 29, já sabia que usaria dois vestidos de noiva. Para a festa, escolheu um com temática africana, que ela mesmo desenhou e confeccionou com a ajuda de uma costureira. Já na cerimônia, desejava usar um vestido branco tradicional comprado em loja.
“Queria ter a experiência de procurar o vestido nas lojas, fazer a prova com minha mãe e minha sogra presentes, no estilo do programa “Vestido Ideal”, da Discovery Brasil. Foi frustrante. Não consegui. As lojas em que eu fui só tinham modelos plus size em catálogo, eu não poderia experimentar, o valor dos vestidos era exorbitante, totalmente fora da minha realidade.”
Thais foi em quatro lojas e apenas uma delas tinha um único modelo de vestido em seu tamanho disponível para experimentar, que ela não aprovou.
“Nessas lojas havia noivas magras com suas madrinhas, provando as várias opções de vestidos. Fiquei muito irritada, pois era o meu momento dos sonhos e não pude realizá-lo”. Foi então que ela decidiu comprar um vestido de noiva pela internet, mas o ao recebê-lo percebeu que tinha uma qualidade ruim, com um tipo de renda que não lhe agradou, além de não ter valorizado seu corpo.
A solução veio da ligação da família de seu marido com o Carnaval. A salvação foi um costureiro contratado pela velha guarda da escola de samba Acadêmicos do Cubango, em Niterói, que aceitou o desafio de transformar o vestido defeituoso comprado pela internet em uma obra de arte. “Ele só aproveitou a saia. Refez o busto e trocou a renda. Isso só duas semanas antes do meu casamento”.
Improvisos na hora de experimentar o vestido
Nátali Leite, 28, maquiadora, estabeleceu a compra do vestido de noiva como prioridade na agenda de preparativos do casamento. Já sabia que em Botucatu, cidade do interior de SP, teria poucas opções para seu manequim.
“Visitei algumas lojas e a maioria das vendedoras insistia para que eu escolhesse um vestido com espartilho atrás, que para eles deve ser mais fácil de adaptar, mesmo eu dizendo que esse modelo não me agradava”, relembra.
Foi quando recebeu a indicação de uma loja de vestidos de noiva na cidade vizinha de Avaré. Porém, desta vez, para evitar frustrações, a noiva telefonou antes para a loja e pesquisou na internet opções que poderia encontrar lá. “Chegando na loja me atenderam muito bem, não fizeram descaso do meu tamanho”, afirma.
Embora tenha sido bem-recebida na loja, experimentou mais de sete vestidos, mas nenhum era do seu manequim. “A vendedora improvisou, deu um jeitinho com tamanhos menores, amarrando o vestido no meu corpo só para eu ter uma ideia de como ficaria se eu comprasse o tamanho correto. É muito difícil comprar só olhando no catálogo, sem ver o modelo pessoalmente”, conta.
Mesmo sem o vestido disponível em sua numeração, Nátali sentiu o gostinho de se ver de noiva. “Eu me senti incluída ao poder experimentar o vestido na loja, como qualquer outra noiva”, afirma.
Após encomendar o vestido que custou R$5.600,00 só pelo primeiro aluguel, esperou 30 dias para recebê-lo: “Ficou perfeito”. E ela deixa uma dica: “Se você é gorda, não adianta sair batendo perna por aí. É preciso pesquisar antes na internet, ter certeza que a loja que você vai visitar atende o público plus size”.
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