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“Grandessíssima sapatão”: quem é a brasileira que faz sucesso na Netflix com humor lésbico

Cintia Rosini faz parte da série "Lugar de Mulher" e se destaca no stand-up comedy ressignificando estereótipos do universo LGBTQIA+

31 ago 2023 - 05h00
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Cintia Rosini: "Subir num palco e falar abertamente sobre sexualidade e vivências lésbicas é um ato político"
Cintia Rosini: "Subir num palco e falar abertamente sobre sexualidade e vivências lésbicas é um ato político"
Foto: @ajulianadasfotos

Autodedenominada “uma grandessíssima sapatão”, a comediante paulistana Cintia Rosini ri literalmente da cara do preconceito no show de humor “Na Boleia do Meu Caminhão”, seu maior sucesso. Piadas sobre sexualidade, relacionamentos, assuntos atuais e, principalmente, um jeito muito peculiar e divertido de abordar os estereótipos comuns às lésbicas são o mote do espetáculo de Cintia, que também integra a série "Lugar de Mulher" da Netflix sobre humor feito por mulheres.

Atriz de teatro e mímica, ela já trabalhou como palhaça do Circo Il Florilegio na África, em países como Argélia, Marrocos e Ghana. Também fez espetáculos infantis e se destacou no programa "Meme da Comédia" da TNT Brasil em 2021. Aos 39 anos, morando com a namorada e o enteado de quatro anos de idade, Cintia usa sua voz, seu visual e sua história para atacar o preconceito e desconstruir barreiras fazendo graça. 

Em entrevista ao Terra NÓS, ela detalha como é o chamado humor lésbico e conta quais são os limites que pode ou não extrapolar no palco.

Existe mesmo um humor lésbico? 

Eu acho que o meu humor pode ser chamado de humor lésbico porque eu sou lésbica. Eu falo sobre minhas questões, minhas vivências, e ser lésbica é algo que não tem como eu deixar de lado. Mesmo porque eu gabaritei todos os estereótipos, então só de me olhar as pessoas já deduzem milhares de coisas. As minhas vivências muitas vezes são pautadas pela minha sexualidade. E eu acho importante mostrar para as pessoas vivências e experiências que talvez elas não conheçam, mas que, com certeza, vão se identificar em algum momento com aquilo que eu estou falando. 

Quais piadas ou temas você acha que fazem mais sucesso seguindo essa linha?

Usar o humor para falar sobre sexualidade e preconceitos faz com que as pessoas mais resistentes ouçam e absorvam com mais facilidade. Nos meus shows, falo muito sobre relacionamentos, estereótipos e preconceito. Gosto muito de inverter a lógica heteronormativa e colocar o hetero cis um pouco na nossa pele, gosto de abusar dos estereótipos para mostrar o quão ridículo e engraçado é alguém achar que todas as lésbicas são de um jeito. É por isso que as piadas com estereótipos fazem muito sucesso normalmente.

NÓS Explicamos: o que as lésbicas não aguentam mais ouvir?:

Quais piadas você faz que não pegariam bem, digamos, num show de stand-up comedy tradicional feito por homens, por exemplo?

Eu não deixo de contar nenhuma piada, porque não dá para separar a minha sexualidade de quem eu sou. Como eu disse: as pessoas olham para mim e já deduzem milhares de coisas. Então, ainda que eu conte piadas que não envolvam ser lésbica, quem é homofóbico já fechou a cara a partir do momento em que eu entrei no palco. Mas aí que está o poder do humor: ali eu tenho alguns minutos para trazer aquela pessoa para o meu lado e mostrar para ela um pouco do meu universo. Talvez, quem sabe, alguma coisa vai entrar naquela cabeça e mudar algum ponto de vista. Ou não… E está tudo bem. 

Na TNT Brasil, em 2021: "O stand-up sempre foi um lugar muito hetero cis e branco e opressor para minorias"
Na TNT Brasil, em 2021: "O stand-up sempre foi um lugar muito hetero cis e branco e opressor para minorias"
Foto: Divulgação/TNT Brasil

Você acha que existe limite para o humor?

Essa é a grande pergunta que todo humorista responde! (risos). Eu não posso falar por todos, mas para mim existe, sim, um limite moral. Sendo uma minoria, sei bem o que é ser alvo de piadas. Eu jamais faria uma piada que fere a existência de alguém. Não conscientemente. Todos nós temos tantos preconceitos enraizados dentro da gente que acabamos falando coisas sem pensar ou sem se dar conta, mas, conscientemente, eu tenho uma régua moral que pauta o que escrevo e o que falo em cima de um palco.

Eu respeito a escolha de alguns colegas de falar tudo e qualquer coisa em nome do humor, mas eu também sempre digo que você precisa defender aquilo que você fala e assumir que aquilo é, sim, o seu ponto de vista. Apesar de fazer piadas, somos comunicadores e temos uma responsabilidade sobre aquilo que a gente fala. Se eu subo no palco e falo “Olá, meu nome é Cintia Rosini…”, tudo que eu falar depois disso é responsabilidade minha e eu vou assumir aquilo que for dito. 

Quais os principais comentários das lésbicas sobre seu trabalho? Já ouviu uma crítica que pegou muito para você?

Olha, até hoje eu tive muito feedback positivo. Ainda estou tentando chegar nesse público mais a fundo. O stand-up sempre foi um lugar muito hetero cis e branco e opressor para minorias. Muitas pessoas não frequentam shows de humor por medo de serem alvo de piadas ou humilhadas e acabam não acessando o trabalho de muitos humoristas progressistas que estão fazendo shows incríveis. O humor mudou muito e tem muito comediante bom, mas infelizmente o que chega no grande público normalmente é aquele humor antigo e de mau gosto.

Então é sempre uma luta pra chegar no meu público-alvo, que são as lésbicas! Fazer um show na Netflix me deu uma certa visibilidade e me ajudou, mas ainda falta muito. Um feedback que eu recebo muito é “Nossa, eu não sabia que existia stand-up sapatão!" (risos) Quanto às críticas, não me lembro de ter recebido algo negativo do público lésbico. O que já aconteceu foi entrar no palco e perceber a não receptividade do público simplesmente por ser lésbica. E todo LGBTQIA+ que já sofreu algum tipo de homofobia sabe que, apesar de aprender a lidar com isso com o tempo, ainda dói muito.  

"Apesar de fazer piadas, somos comunicadores e temos uma responsabilidade sobre aquilo que a gente fala", diz comediante sobre limites do humor
"Apesar de fazer piadas, somos comunicadores e temos uma responsabilidade sobre aquilo que a gente fala", diz comediante sobre limites do humor
Foto: Divulgação/TNT Brasil

Você se considera uma ativista da comunidade LGBTQIA+?

Com certeza. Subir num palco e falar abertamente sobre sexualidade, minhas questões e vivências já é um ato político. Além de normalizar vivências lésbicas, acho importante inspirar outras mulheres a serem quem são. O humor é extremamente poderoso e sempre foi uma ferramenta de luta por chegar em lugares que às vezes o discurso mais formal não atinge. Como disse o maravilhoso Paulo Gustavo: “Rir é um ato de resistência”.

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Fonte: Redação Nós
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