Haddad não anunciou criação de 'bolsa travesti' no valor de R$ 1.800
O vídeo compartilhado fora de contexto é de 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo
Não é verdade que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), anunciou, no dia 24 de janeiro, a criação de um "novo Bolsa Travesti" no valor de R$ 1.800, como afirmam publicações nas redes sociais. O vídeo compartilhado fora de contexto é de 2015, quando Haddad era prefeito de São Paulo, e foi gravado durante o lançamento do Transcidadania, programa que oferece bolsas mensais de R$ 1.386 para pessoas travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade que estiverem matriculadas em atividades voltadas ao estudo ou à formação profissional.
Posts com a alegação enganosa acumulavam 350 mil visualizações no TikTok e milhares de curtidas no Instagram até a tarde desta quinta-feira (26). As publicações também circulam no WhatsApp, plataforma em que não é possível estimar o alcance (fale com a Fátima).
PROJETO BOLSA TRAVESTIS VOLTA NO VALOR DE 1.800,00 REAIS.
Um trecho de uma entrevista antiga do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), está sendo compartilhado nas redes sociais para sugerir, de forma enganosa, que o governo estaria planejando "a volta do projeto Bolsa Travesti no valor de R$ 1.800". Na fala original, veiculada em um programa da TV Câmara São Paulo em fevereiro de 2015, Haddad, então prefeito da capital paulista, anunciava o lançamento do Transcidadania, programa que promove colocação profissional e reintegração social de pessoas travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade.
O programa, que ainda está em atividade, oferece uma bolsa mensal no valor de R$ 1.386 durante dois anos para os beneficiários, que devem estar matriculados em atividades relacionadas à conclusão da escolaridade e à formação profissional. Atualmente, o Transcidadania atende 474 pessoas na cidade de São Paulo. Além da transferência de renda, também são garantidos acompanhamento psicológico, jurídico, social e pedagógico.
De acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 70% das pessoas trans não concluíram o ensino médio e apenas 0,02% estavam no ensino superior em 2020. A associação também estimou, em 2017, que 90% da população travesti e transexual tinha na prostituição sua principal fonte de renda.
É fato, no entanto, que a secretária Nacional de Promoção de Defesa das Pessoas LGBTQIA+ e ex-coordenadora do Transcidadania, Symmy Larrat, disse que pretende transformar o programa em um projeto do governo federal. Ela não citou, no entanto, um possível prazo de implementação ou o valor da bolsa. "A gente precisa saber como potencializar e transformar isso num formato federalizado. Esse é o desafio. Eu só não sei em quanto tempo a gente consegue isso, porque política pública não pode ser feita a toque de caixa", explicou em entrevista à Agência Pública no dia 24 de janeiro.
Essa peça de desinformação também foi desmentida pela Agência Lupa, pelo Boatos.org e pelo Estadão Verifica.
Referências: