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Homem é condenado a 37 anos de prisão por matar ex-mulher com 30 facadas no rosto

Segundo denúncia do MP-AL, vítima foi morta ao ser convencida a encontrar ex-marido, que teria fingido estar disposto a assinar o divórcio

2 abr 2024 - 10h15
(atualizado às 10h45)
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Arnóbio Henrique Cavalcante Melo, de 48 anos, foi condenado na madrugada desta terça-feira, 2, a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão
Arnóbio Henrique Cavalcante Melo, de 48 anos, foi condenado na madrugada desta terça-feira, 2, a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão
Foto: Divulgação/MP-AL

Arnóbio Henrique Cavalcante Melo, de 48 anos, foi condenado na madrugada desta terça-feira, 2, a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão. A condenação ocorreu pelo assassinato da ex-companheira dele, Joana Mendes, de 34 anos, morta com 32 facadas, a maioria delas no rosto. As informações foram divulgadas pelo Ministério Público de Alagoas (MP-AL). 

De acordo com o MP-AL, o crime ocorreu em 2016, após a vítima deixar o filho mais novo na escola e ter ido ao encontro de Arnóbio, que conseguiu convencer a ex-companheira a conversar pessoalmente com ele, fingindo que estava disposto a assinar o divórcio e regulamentar a pensão do filho do casal.

Ainda de acordo com a denúncia, no dia que esfaqueou Joana, Arnóbio a abandonou no local. Ela morreu após ter sido golpeada com 32 facadas, sendo 30 delas no rosto, o que a deixou desfigurada. A mulher veio a óbito depois de sangrar por mais de 15 minutos. O laudo pericial apontou morte por choque hipovolêmico, que é quando alguém morre após perder uma grande quantidade de sangue.

Durante o julgamento, foram ouvidos cinco declarantes da acusação: Hudson Cavalcante – tio do réu, Danielle Paiva –melhor amiga de Joana, Wolfran Cerqueira – primo da vítima, Damiana Gouveia –empregada doméstica da família de Arnóbio, e Júlia Mendes, irmã de Joana. Já os declarantes da defesa foram todos dispensados.

Familiares e amigos da vítima acompanharam julgamento
Familiares e amigos da vítima acompanharam julgamento
Foto: Divulgação/MP-AL

Hudson, tio do réu, relatou que no dia do crime havia recebido uma ligação de Pedro, irmão de Arnóbio. Ele teria entrado em contato com Hudson para informar que o denunciante teria feito algo contra Joana, mas não sabia o que havia acontecido.

Segundo o tio, Pedro saiu para procurar Joana e encontrou seu carro parado em uma rua. Ele teria retornado à casa dos avós, onde se encontrou com Hudson. Os dois se dirigiram ao local onde estava o automóvel, acionando o Samu. “Eu sabia que era o carro dela, mas não sabia quem estava lá dentro”, detalhou.

Amiga relatou relacionamento abusivo

Em seguida, o promotor de Justiça ouviu Daniele Elizabete Franco, amiga de infância da vítima. Ela contou que logo após iniciar o relacionamento com o réu, Joana mudou os seus hábitos e comportamentos, agindo de forma mais contida. Daniele destacou que a vítima chegou a falar sobre sua insatisfação com a relação. “Ela disse que não aguentava mais e iria esperar o filho deles nascer para deixar o marido”, relatou.

Daniele disse que chegou a presenciar a forma agressiva como Arnóbio tratava a vítima. Ao subir ao apartamento do casal, antes de um passeio entre amigas, a testemunha ouviu o réu xingar a esposa e as suas amigas. “Ele disse que nós éramos vadias e que estávamos atrás de macho na rua”, relembrou Daniele.

Nesse momento, ela disse que sentiu vontade de entrar no apartamento para defender a amiga, mas se conteve. “Eu esperei a Joana sair. Ela desceu aos prantos, não parava de chorar e disse que não merecia isso”, afirmou. Além desse episódio, ela relatou que a vítima sempre aparecia com manchas roxas pelo corpo e dizia que tinha sido algum acidente doméstico.

Primo confirmou relação tóxica

Wolfran, prima da vítima, também acompanhou o relacionamento conturbado entre o casal. À Justiça, ele afirmou que, no segundo semestre de 2015, Antonio Jorge, pai de Joana, tinha-o convidado para ir até a residência de Joana e do marido para buscá-la, porque ela estaria decidida a sair de casa. Na época, a família cogitou fazer uma denúncia na Delegacia da Mulher, mas a ideia foi descartada por conta do filho do casal.

“Olhando para a criança, pensei: ‘Vamos esperar para ver se o assunto encerra’. Depois desse dia, no fim do ano, ele abordou Joana na orla de forma incisiva. Ela ligou para o meu tio e, aí, fomos à Delegacia da Mulher pedir medidas protetivas. E assim foi feito”, relatou Wolfran.

Tempo depois, ele conta que Joana havia entrado em contato com Arnóbio para oficializar a situação referente à guarda da criança, porque estava pensando em se mudar para o estado de Minas Gerais. De acordo com Wolfran, tudo indicava que a questão iria se resolver pacificamente. Joana, inclusive, havia informado a ele que iria se encontrar com a advogada do réu para assinar o acordo. Dois dias depois, ocorreu o assassinato.

“Percebi depois que minha prima tinha caído em uma cilada. Eu estava em casa quando, no começo da noite, recebi uma ligação do celular do meu tio. Fiquei preocupado. Era o enteado dele, que me disse: ‘Joana foi a óbito’. Na hora, só me veio na cabeça que ela tinha sido assassinada. Quando cheguei lá, deparei-me com a tragédia. Você tem ideia do que é ver uma criança que coloquei no braço esfaqueada?”, disse o primo emocionado.

Na sequência, foi ouvida Damiana Gouveia que, à época, trabalhava como empregada doméstica na casa da avô de Arnóbio. Foi ela quem achou a faca suja de sangue na garagem da residência da família do réu. “Eu passei pela garagem e vi uma caixa que me chamou atenção. Quando abri, a faca estava lá, completamente ensaguentada. De imediato, chamei um tio dele, que me mandou deixar o objeto lá e não mexer nele. Pouco tempo depois, chegou o Arnóbio com a mão sangrando”, disse ela.

Os interrogatórios foram encerrados com o depoimento de Júlia Mendes. Ela afirmou que o réu manipulava a irmã e praticava todos os tipos de violência contra Joana. “Ele é tão do mal que, para surpresa nossa, expulsou a Joana do apartamento que o meu pai pagava para eles morarem. Inclusive, botou a Joana pra fora de casa com o bebê no colo”, afirmou a irmã da vítima.

“Os pais, os filhos, as irmãs e todos os familiares e amigos, a partir de agora, vão poder fechar esse ciclo iniciado lá atrás, no dia 5 de outubro de 2016, quando Joana oi assassinada de forma brutal, sem qualquer oportunidade de se defender. O réu também foi sentenciado na qualificadora de feminicídio, que é o ódio contra a mulher. Ele era machista e misógino. Sabemos que a condenação não trará a alegria da Joana de volta, mas, ela, pelo menos, deixa a todos nós com o sentimento de que a lei foi cumprida e que o assassino recebeu a reprimenda merecida. Ele é um homem covarde, frio e um mentiroso contumaz”, afirmou o promotor de Justiça Antônio Vilas Boas, titular da 47ª Promotoria de Justiça da Capital.

Promotor apontou fraude processual

O promotor de Justiça também falou em fraude processual, alegando que o acusado teria apresentado aos autos dois relatórios psiquiátricos falsos, que sugeriam problemas mentais em Arnóbio.

O primeiro relatório, de 2022, foi questionado pela acusação, que pediu à Secretaria da Ressocialização e Inclusão Social de Alagoas (Seris) as imagens do dia em que, supostamente, o réu recebeu o psiquiatra e o livro de registros onde constam as assinaturas de quem entrou no presídio. Segundo a acusação, a Seris respondeu que o médico jamais esteve na Penitenciária Baldomero Cavalcanti.

“O segundo relatório, de 2023, foi apresentado numa data que jamais poderia ser verdadeira. O motivo é que, em julho do ano passado, o réu já estava solto, após um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. Ou seja, não haveria qualquer possibilidade do Arnóbio ter recebido o psiquiatra na cadeia, uma vez que ele estava em liberdade. Isso é fraude processual e vamos apurar ainda se houve corrupção ativa e passiva, já que um dos laudos têm a assinatura de duas policiais penais”, afirmou Vilas Boas.

Condenação

Depois de mais de 15 horas de júri, a sentença foi prolatada pelo juiz Yulli Rotter, titular da 7ª Vara Criminal da Capital. Arnóbio foi condenado a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão, além de mais R$ 150 mil de indenização por danos morais.

“Não comemoro a prisão e nem a condenação de ninguém, mas, congratulo com a justiça e com a honra e memória de Joana Mendes”, afirmou o advogado e assistente de acusação Roberto Moura, que também é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Alagoas.

O Terra tenta contato com a defesa de Arnóbio. O espaço segue aberto para manifestações. 

Fonte: Redação Terra
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