Homenageada pelo Google, Claudia Celeste foi militar e atriz
A artista foi a segunda mulher trans brasileira a ser celebrada pelo buscador de notícias com um Doodle
A atriz Claudia Celeste foi uma das grandes. Pouco conhecida pelo público e pela própria comunidade LGBTQIA+, recebeu nesta segunda-feira (22), uma merecida homenagem do Google, com um Doodle: uma ilustração direcionando para uma página com informações sobre ela. Em geral, as matérias são sobre o pioneirismo na televisão: Claudia Celeste foi a primeira atriz trans a participar de uma novela inteira, "Olho por Olho", da Rede Manchete, em 1988.
Em uma entrevista para revista "Geni" em 2013, uma das mais completas dada pela artista, ela contou que sua estreia na TV, na verdade, era para ter acontecido mais de dez anos antes: na novela "Espelho Mágico", na qual contracenaria com Sônia Braga. Com a censura do governo militar, porém, suas cenas foram cortadas.
"Foi a primeira novela que eu fiz, em 1977, na Globo, chamava-se 'Espelho Mágico'. Mas nessa novela eu não entrei como travesti, eu passei como uma das meninas. O [diretor] Daniel Filho não sabia que eu era travesti. Ele gostou da cena que eu estava fazendo no teatro da Brigitte Blair, onde eu cantava e as meninas faziam o balé comigo, um balé de putas. Aí o show da Brigitte foi contratado para participar da novela, porque a personagem da Sônia Braga passava por um teatro de revista. Aí o jornal 'Correio de Copacabana' [na coluna “Guei”] publicou: 'Claudia Celeste na novela'. Menino, no dia seguinte estava a imprensa toda no teatro! E já começou a polêmica: por que a Rogéria, a Valéria, não podem fazer televisão, e a Claudia Celeste pode? Qual foi o critério que a censura usou pra deixar a Claudia Celeste, e não a Rogéria? Porque a Rogéria já era famosa na época. Aí saiu em tudo quanto era revista. Antes, ninguém sabia que eu era travesti, nem Daniel Filho. Ninguém nunca me perguntou! E, como ficou muito ti-ti-ti, tiraram os capítulos que eu já tinha feito", contou para o entrevistador Marcos Visnadi.
Além da novela, Claudia participou de filmes e, claro, de espetáculos teatrais de revista, muito populares dos anos 1940 aos anos 1980, mais especificamente shows de travestis com apresentações de canto, dança e encenações de esquetes. Nos anos 1980, mergulhou na contracultura com direito a show de punk rock ao lado de Claudia Wonder.
Ainda para a revista "Geni", Claudia Celeste falou sobre o casamento de mais de 30 anos com o músico Paulo Wagner e sua experiência no exército, onde nunca escondeu sua orientação afetiva sexual e posteriormente sua identidade de gênero. "E sempre ganhei prêmio, melhor praça da parada, minhas roupas todas engomadinhas, passava pó de arroz pra tirar o brilho, manteiga de cacau na boca, um escândalo [risos]! Eu tinha uma foto que me roubaram: eu de cabo do exército, em posição de sentido… E com a sobrancelha feita!," relembrou.