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"Homens trans me procuram para começar a fazer stand-up, mas eles não têm coragem", diz humorista

João Gabriel Barros é um dos poucos comediantes trans do Brasil. Ao Terra NÓS, ele fala sobre sua vivência dentro e fora dos palcos

29 abr 2024 - 05h00
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Resumo
O humorista João Gabriel Barros, de 30 anos, é um dos poucos humoristas trans do Brasil. Ele falou ao Terra NÓS sobre as dificuldades de encontrar homens trans humoristas no país e como pensa em atrair todos os públicos, sem focar apenas em pessoas LGBTQIA+.
João Gabriel Barros gosta de focar na parte positiva de ser um homem trans e levar diversão e leveza para o seu público
João Gabriel Barros gosta de focar na parte positiva de ser um homem trans e levar diversão e leveza para o seu público
Foto: Reprodução: Instagram/joaobubiz

"Se você tiver dúvida em me chamar de ele ou ela, eu vou te dar uma solução básica: me chame de Vossa Majestade". Esta é uma das piadas mais conhecidas do humorista trans João Gabriel Barros, de 30 anos, natural de Aracaju, Sergipe.

João conta que não tem muitas referências de pessoas transgênero na comédia nacional. Certo dia, quando pesquisou no Google por "humoristas trans", todos os nomes que apareceram eram de pessoas estrangeiras.

"Eu gostaria de ter um amigo trans com quem pudesse fazer piadas e até um show de stand-up junto, mas não tenho", disse em entrevista ao Terra NÓS.

"Muitos [homens] trans me procuram porque querem começar a fazer stand-up, mas eles não têm coragem. Principalmente pela cena ser um pouco preconceituosa e composta por héteros cis. É um caminho chato passar por eles", afirma.

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Transição de gênero

Mesmo inserido nesse ambiente predominantemente cisgênero, João prefere não focar na parte negativa de ser um homem trans. "Eu levo a minha transição de uma maneira muito leve. Eu ressignifico a minha transição. Então, se a pessoa erra o meu pronome, eu brinco e falo: 'Ah, você errou o meu pronome, me dá 10 reais'. Eu não levo para o lado da tristeza", contou.

"O que eu quero é ter uma plateia com pessoas diversas para que possam falar assim: a gente riu com um homem trans. Por que a gente quer matar esse corpo trans? Por que a gente quer julgar o corpo trans?", disse ele.

Ele, que já sofreu transfobia em algumas ocasiões, hoje recebe o apoio de pessoas que estão começando a entender mais sobre a vivência trans e o que é transição de gênero. "Eu recebo muitos comentários do tipo: 'Eu conversei com meu filho depois que vi seu show e ele é trans. Obrigado.'"

Para João, esses comentários lhe dão mais força para continuar seu trabalho e abordar questões LGBTQIA+ em suas apresentações, mas sem nichar o seu público. "O meu público não é só o LGBTQIA+ e, sim, todo mundo. Eu quero estar em lugares que as pessoas possam falar que têm um amigo trans", afirmou ele.

"E quero que a comunidade [trans] comece a rir de suas bagagens e que veja suas vivências com mais alegria e humor. O stand-up deve ser leve e divertido, mas a minha militância também está no palco", disse ao Terra NÓS.

Trajetória

Para chegar até o atual momento, João, que é formado em Artes Cênicas, precisou trabalhar muito - e se conhecer melhor. Aos 17 anos, iniciou sua carreira no humor. 

"Eu comecei abrindo shows de pessoas grandes em Aracaju, como Murilo Couto e Leandro Hassum. Fiquei amigo de um produtor local que levava esses artistas para a cidade e fiz muito networking", contou ele. Em busca de mais oportunidades, ele se mudou para o Rio de Janeiro aos 19 anos.

João se apresentou em bares e viajava bastante para fazer seus shows de stand-up. Um tempo depois, mudou para São Paulo e começou a se apresentar em casas de shows. Em um evento do YouTube Space, ele se deparou com um homem trans falando sobre a transição.

"Eu me identifiquei bastante com tudo aquilo e sentia que realmente era quem eu era [um homem trans]. No final de 2020 eu falei: 'preciso começar a transição'", relembra.

O antigo nome de registro de João o incomodava muito. Por isso, o comediante começou a fazer acompanhamento psicológico com uma profissional, que é casada com um homem trans. "Eu a procurei e comecei a entender algumas etapas e que eu poderia ser um homem transgênero, mudando meu nome, mudando meu gênero, sabe?", contou.

Logo depois, João retificou todos os seus documentos. "Para mim, foi uma alegria muito grande. Eu não me identificava com o meu corpo, então, fiquei mais feliz. O nome masculino soa muito melhor quando alguém me chama", afirmou o humorista.

"Eu entendi que, na minha transição, eu tinha que ser muito resiliente comigo mesmo porque é um processo muito diferente e até difícil para as pessoas ao nosso redor", ressalta.

Fonte: Redação Nós
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