Igualdade Racial tem o menor orçamento entre os ministérios; veja os valores
Ministério foi recriado no fim de 2022 e tem como papel articular as demais pastas para o investimento em projetos contra o racismo; orçamento atual é o maior da história na luta contra o racismo
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) tem orçamento de R$ 91 milhões para 2023, o menor entre as pastas do governo federal. A área com maior dotação é a da Previdência Social, com R$ 883 bilhões, enquanto a do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome possui R$ 275 bilhões. Os recursos foram definidos pela Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO).
O valor do MIR é inferior ao de outras pastas, como a do Ministério das Mulheres, com R$ 133 milhões, e dos Povos Indígenas, com R$ 792 milhões. O Ministério da Pesca e Aquicultura tem orçamento de R$ 301 milhões e o de Portos e Aeroportos, R$ 4,9 bilhões.
A dotação do Ministério da Igualdade Racial não estava prevista na Lei de Orçamento Anual (LOA), que é debatida no ano anterior e tem os recursos aprovados pelo Congresso Nacional para execução no período seguinte. Como na gestão anterior, de Jair Bolsonaro, não havia a pasta na Esplanada, não houve previsão orçamentária para o MIR e nem para outras, recriadas no governo Lula, como o Ministério das Mulheres, e inéditas, como o destinado aos povos indígenas.
Os valores pré-estipulados na LOA podem ser alterados conforme "necessidade dos órgãos" e "aberturas de espaço e remanejamentos", segundo o Ministério do Orçamento e Planejamento. Esses recursos são liberados por portarias do MPO, por projetos de lei ou por medidas provisórias. No caso da Igualdade Racial, R$ 31 milhões vieram de "recursos livres da união" e R$ 60 milhões de aplicações de títulos do tesouro nacional.
No dia 15 de fevereiro, o MPO publicou uma portaria para alterar o investimento ministerial previsto para 2023. Para redistribuir os valores, algumas pastas tiveram o orçamento reduzido, para que os novos ministérios tivessem recursos. O Ministério das Comunicações, por exemplo, tinha à disposição uma quantia prevista de R$ 2,9 bilhões e agora conta com valores na casa de R$ 2,2 bilhões, enquanto o dos Transportes tinha um caixa de R$ 29 bilhões e agora, de R$ 24 bilhões.
Outras agendas deixaram de ser secretarias de governo e ganharam espaço próprio, como a de raça e gênero, que estavam sob a liderança do Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos, coordenado por Damares Alves. A pasta tinha um orçamento determinado na LOA de R$ 789 milhões, e depois do remanejamento, ficou com R$ 560 milhões. A ampliação do número de ministérios obrigou a redução dos valores de algumas pastas.
Nos últimos 10 anos, o menor orçamento da antiga Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), sem correção de inflação, foi o de 2020. Para aquele ano, o valor destinado foi de R$ 471 mil. Em 2018, sob a gestão de Michel Temer, foram destinados R$ 22 milhões para o setor e em 2011, com Dilma Rousseff, foram R$ 11 milhões.
Infográfico com o orçamento de alguns ministérios para o ano de 2023 (Arte: Doria Lia Gomes/Alma Preta)
MPO diz que orçamento do MIR depende de vários fatores
Questionado pela reportagem sobre a menor dotação do MIR, o MPO sinalizou que "a decisão de alocação de orçamento para cada Ministério leva em conta uma série de fatores: volume de despesas obrigatórias, mínimos constitucionais para algumas despesas, manutenção de políticas consideradas prioritárias e uma avaliação colegiada da Junta de Execução Orçamentária (JEO). Tudo isso respeitando o arcabouço fiscal atualmente vigente, que é o teto de gastos".
A JEO é um colegiado composto pelos Ministérios da Fazenda, do Planejamento e Orçamento, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e pela Casa Civil. De acordo com a pasta, "os ministérios são consultados no processo e podem fazer pedidos de expansão [de orçamento], que são devidamente analisados pela JEO, e eventuais suplementações podem ocorrer ao longo do ano, sempre que há espaço para isso ou sempre que aparece alguma necessidade mais urgente".
O orçamento dos ministérios também varia a partir de emendas de comissões do legislativo ou mesmo de emendas parlamentares, que podem inflar a verba das pastas. Em 2018, R$ 3,2 milhões foram destinados para a SEPPIR por emendas individuais de parlamentares. A projeção para esse ano é de R$ 10 milhões em emendas individuais.
Verba atual é a maior para o combate ao racismo
O Ministério da Igualdade Racial (MIR), em nota, destacou o fato do atual orçamento ser o maior já destinado, por um Presidente da República, para o combate ao racismo. "É significativo, então, que nosso ministério conte hoje com a maior dotação já direcionada à promoção da igualdade racial. Em outras palavras, nunca um governo brasileiro investiu tanto nesta agenda. Para (re)erguer simbólica e concretamente as políticas descontinuadas nos anos anteriores, a costura orçamentária parte do viável como caminho de construção para o orçamento aproximado ao ideal".
O MIR também ressaltou a capacidade do órgão de desenvolver ações em parceria com outros ministérios, uma das características da instituição, que tem a função de articular de modo transversal o enfrentamento ao racismo no governo federal.
"Destacamos que ao valor formal destinado à pasta somam-se receitas de emendas parlamentares destinadas ao MIR e a execução de políticas públicas para equidade étnico-racial irradiadas por meio da estrutura e dotação própria de outros ministérios, em parceria com o MIR, a exemplo do Ministério do Esporte (ME), Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), ministério das Mulheres (ME), Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), para citar alguns. Incidem, também como orçamento indireto, parcerias nacionais e internacionais que igualmente contribuem para a ampliar a atuação MIR dentro e fora do Brasil".
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Recriação do Ministério da Igualdade Racial
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) foi recriado em 1 de janeiro de 2023, pelo Decreto 11.346, e tem como objetivos "políticas e diretrizes destinadas à promoção da igualdade racial e étnica", "políticas de ações afirmativas e combate e superação do racismo", "políticas para quilombolas, povos e comunidades tradicionais".
O órgão, chefiado por Anielle Franco, é composto por uma secretária executiva, Roberta Eugênio, segundo cargo da pasta, e é dividido entre três secretarias, que assessoram a ministra na execução do trabalho. As sub-pastas dentro do MIR são a Secretaria de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, gerenciada por Ieda Leal, Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo, sob a responsabilidade de Márcia Lima, e a Secretaria de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos, coordenada por Ronaldo Barros.
O MIR apresentou no dia 10 de abril, quando se completaram 100 dias do governo Lula, um documento com as ações realizadas pelo órgão. A pasta destaca medidas tomadas pelo próprio ministério e outras parcerias realizadas.
Algumas dessas propostas foram apresentadas no dia 21 de março, data marcada pelos 20 anos da criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), embrião do MIR. Na data, a ministra Anielle e o presidente Lula anunciaram a criação de grupos de trabalho para criação do Novo Programa Nacional de Ações Afirmativas, do Plano Juventude Negra Viva, do Plano de Gestão do Sítio Arqueológico Cais do Valongo, e do programa de Enfrentamento ao Racismo Religioso.
O documento também ressalta a assinatura da lei 14.132/2023, que equipara o crime de injúria racial ao de racismo, com pena de 2 a 5 anos de reclusão. O texto publicado no site do MIR aborda ainda a retomada do JAPER, um acordo bilateral assinado em 2008 entre Brasil e EUA para a superação da discriminação racial.
Entre as outras medidas, a pasta exaltou o anúncio do acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome para a criação de campanhas baseadas na equidade de raça e gênero. A meta é "promover inclusão socioeconômica, segurança alimentar e nutricional e criar ações e campanhas para o cadastramento de grupos populacionais específicos e mais vulneráveis no Cadastro Único", como descreve o documento.