Jovem denuncia ter sofrido racismo e agressões por seguranças em show de Alok
Segundo o rapaz, seguranças o abordaram e o levaram a um espaço afastado, sem explicar o motivo do ato, e no local passaram a agredi-lo
O cozinheiro Salathiel Meneses, de 26 anos, denuncia ter sofrido racismo e agressões por parte de seguranças durante um show do DJ Alok. O show ocorreu na madrugada do último sábado, 27, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A Polícia Civil investiga o caso.
Segundo o jovem relata, ele ganhou três entradas para o show em um sorteio promovido pela equipe do próprio DJ nas redes sociais.
"O perfil da festa do Alok mandou mensagem informando que eu tinha ganhando o sorteio, pediu meus documentos e mandei tudo certinho. [No dia do show] entrei na festa e em determinado momento percebi que tinha um segurança perto de mim. Cheguei até a andar um pouco, falei com a minha amiga, e a gente se afastou do lugar, mas novamente os seguranças voltaram. Era uns seis seguranças mais ou menos", conta.
De acordo com Salathiel, em determinado momento, depois de uma música tocada pelo DJ, os seguranças o abordaram e pediram que ele os acompanhassem. "Detalhe: eles chamaram só eu. A minha amiga e o meu amigo, que eram pessoas brancas, não foram chamados", relata.
O jovem afirma que ficou sem entender o porquê da abordagem, e foi ignorado ao questionar para os seguranças.
"Eu fiquei indagando, perguntando por que eles estavam fazendo isso, por que eles estavam me chamando, o que que eu tinha feito de errado para eles estarem fazendo isso comigo, e não me responderam, ignoraram", relembra.
"Chegando lá, numa parte escura, atrás de uma escadaria, tinha outras pessoas sendo agredidas, pessoas pretas. E logo quando eu cheguei eles já foram me xingando, me batendo, perguntando se eu conhecia a galera e dando tapa na cara mesmo, sabe? Eu tentava perguntar o que estava acontecendo e antes de terminar a pergunta já vinha os tapas. Eu fiquei morrendo de medo, não tive reação, não conseguia falar muito, porque eles não deixavam", relembra.
Salathiel afirma que, além de agredido, ele foi revistado pelos seguranças, que o mandaram tirar os sapatos e as meias para ver se ele tinha drogas. "Eu não tinha nada", afirmou.
O jovem acredita que possa ter sido confundido com outro grupo que foi abordado pelos mesmos seguranças.
"Eles estavam me perguntando o tempo todo se eu era amigo deles e eu dizendo que 'não', e apanhando", acrescentou. "Foi uma sensação horrível, algo que nunca passei na vida. Foi um negócio que até agora está doendo e toda vez que eu lembro causa uma dor enorme. Logo depois eles tiraram minha pulseira e de todo mundo [que estava naquele espaço] e expulsaram da festa. Foi muito pesado. Foi o racismo claro e exposto", lamenta o cozinheiro.
Jovem pede justiça
Após o ocorrido, Salathiel e seus amigos se mobilizaram nas redes sociais em pedido de justiça e responsabilização dos seguranças. Uma amiga dele fez uma postagem relatando que a maior parte dos presentes no evento eram pessoas brancas e ricas.
Em nota, a Alok Infinite Experience, através de seus representantes legais, afirma que assim que tomou conhecimento dos fatos, buscou junto ao parceiro local e a casa de eventos Star415, que são os responsáveis pela contratação e gestão da segurança e do espaço, todas as informações sobre o ocorrido.
"A AIE repudia todo tipo de agressão ou práticas criminosas e está empenhada em buscar a verdade para que os responsáveis respondam pelos atos. Solicitamos as autoridades policiais todo o empenho para a elucidação dos fatos e deixamos à disposição do Salathiel, toda nossa estrutura jurídica para acompanhá-lo. Salientamos que nosso evento é inclusivo e traz valores que não compactuam com nenhum tipo de preconceito e discriminação por gênero, raça, etnia, orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros grupos sociais", destacou.
A reportagem contatou a Star 415, responsável pelo espaço em que ocorreu o show, e a Nenety Eventos, produtora que organizou a apresentação. Até a publicação dessa reportagem, nenhum dos envolvidos enviou um posicionamento. O espaço segue aberto para manifestações.
Em nota enviada ao Terra, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que instaurou procedimento investigativo e tenta apurar a motivação e as circunstâncias que envolveram o crime.
"Nos próximos dias, os envolvidos serão ouvidos para prestar esclarecimentos. A investigação tramita a cargo da 3ª Delegacia de Polícia Civil em Nova Lima. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas", acrescentou a corporação.