Julgamento de Daniel Alves: 1º dia tem jogador em silêncio e mulher reafirmando agressão sexual
Brasileiro seria ouvido nesta segunda-feira, mas vai falar somente após todas as testemunhas e peritos, na quarta-feira; jogador alega inocência e relação consensual
Começou nesta segunda-feira, dia 5, o julgamento de Daniel Alves, em Barcelona, na Espanha, por agressão sexual contra um mulher de 23 anos em um boate da cidade catalã. O brasileiro alega inocência e afirma que a relação foi consensual. Ele prestaria depoimento nesta manhã, mas a Isabel Delgado Pérez atendeu o pedido da defesa para ele ser ouvido depois da mulher que o acusa, testemunhas e peritos. A audiência ocorre em três dias consecutivos. Assim, dele deve ser ouvido somente na quarta-feira, 7, quando os trabalhos têm previsão para serem encerrados.
Daniel ouviu boa parte do julgamento com as mãos entre as pernas, sem algemas, e sentado em uma cadeira de frente para os três juízes. Um guarda esteve ao seu lado o tempo todo nessas primeiras horas de sessão. Nesta terça-feira, está programado o depoimento de 22 testemunhas. Entre elas, a mulher do brasileiro, a modelo e empresária espanhola Joana Sanz. Ainda não há prazo para o anúncio da sentença.
Veja os principais pontos do primeiro dia de julgamento:
- Daniel Alves chegou ao tribunal escoltado pela polícia e entrou no local pela porta dos fundos, vestindo calça jeans e camisa social branca. Estava com vestimentas bastante sóbrias. Ele ficou em silêncio durante toda a sustentação da sua advogada, a espanhola Inés Guardiola. Familiares do jogador, como o irmão Ney Alves, e a mãe, Lúcia Alves, marcaram presença no julgamento.
- A defesa do atleta pediu a suspensão do julgamento oral alegando ter ocorrido investigações iniciais sem o conhecimento do jogador. Ele disse que o atleta poderia ter realizado teste do bafômetro no período — em sua mais recente sustentação, o atleta afirma que estava bêbado na noite do ocorrido. A advogada citou também o fato de o juiz de instrução ter negado o pedido para que um segundo perito examinasse a mulher que acusa Daniel Alves, reclamou de um "julgamento paralelo" da imprensa, o que teria pesado na decisão de prisão preventiva, e comentou que o jogador vive situação financeira complicada, com dúvidas de quase R$ 3 milhões com a Fazenda da Espanha.
- O pedido foi negado pela juíza Isabel Delgado Pérez. Em contrapartida, a magistrada aceitou o pedido da defesa para que o jogador brasileiro preste depoimento somente no fim da audiência, após serem ouvidos a denunciante, testemunhas e peritos.
- Como combinado anteriormente, a mulher que denunciou Daniel Alves realizou depoimento protegida por um biombo para que não tenha contato visual com o jogador, e preservar sua identidade. Ao longo de 1h30, ela contou que foi convidada junto de amigos para irem à área VIP da boate Sutton e um garçom a levou para a mesa de Daniel Alves. Segundo o relatos, eles dançaram juntos e em determinado momento da noite o jogador pediu ela segui-lo até uma porta. A mulher afirma que notou se tratar de um banheiro apenas quando entrou no cômodo. Foi quando o atleta usou de força para violenta-la, sem o uso de preservativo, e ejaculou.
- Além da mulher que acusa Daniel Alves, outras cinco pessoas prestaram depoimento nesta segunda-feira: uma amiga e uma prima da denunciante, dois garçons e um porteiro da boate onde ocorreu o episódio.
- Uma das amigas que estavam com a denunciante na noite do ocorrido também prestou depoimento. Em lágrimas durante o testemunho, ela conta que a amiga saiu do banheiro "chorando bastante" e de "de coração partido", afirmando aos amigos repetidas vezes que o jogador havia lhe feito "muito mal". A testemunha contou que a mulher inicialmente hesitou em fazer a denúncia por crer que não acreditariam nela, mas resolveu ir à polícia dois dias após ser convencida pelos colegas.
- A prima da mulher da denunciante disse que desde o início se sentiu desconfortável com a presença do jogador, relatando que ele a tocou em uma região íntima enquanto dançavam. Ela conta que viu o atleta se dirigir a uma porta que acreditou ser uma saída para o lado de fora da boate e disse para a prima "ir falar com ele". Minutos depois, o atleta passou pela porta de "cara feia". Depois, a mulher saiu pela porta, dizendo que precisava ir para casa porque ele havia lhe feito "muito mal". Ainda de acordo com o relato da prima da denunciante, a mulher que acusa Dani Alves passou a tomar antidepressivos, não está trabalhando e apenas sai de casa quando a família insiste.
- Os garçons que atenderam Daniel Alves naquela noite afirmam que o jogador já frequentou o local outras vezes e que não suspeitaram do comportamento do atleta. Eles confirmaram havia uma garrafa de champanhe na mesa em que o brasileiro estava.
- O porteiro afirmou que viu a denunciante "chorando", mas não em um estado emocional alterado. Ele afirmou ainda que Daniel Alves passou "a dois metros" da vítima da suposta agressão sexual na hora de ir embora da boate.
Daniel Alves mudou sua versão sobre o caso por diversas vezes, trocou de defesa e teve três pedidos de liberdade provisória negados, com a Justiça citando risco de fuga do país. A pena para este tipo de crime é de até 12 anos de reclusão.
O Tribunal de Barcelona rejeitou pedido do Ministério Público da Espanha para que a audiência fosse realizada à portas fechadas. As sessões acontecem de forma aberta, com a presença da imprensa em sala à parte, mas captações de áudio e imagem estão vetadas. A mulher que denunciou Daniel Alves teve a identidade preservada e realizará o depoimento protegida por um biombo para que não tenha contato visual com o jogador. A imagem dela foi reproduzida em vídeo para os presentes, com a imagem e voz distorcidas. A medida visa proteger a identidade da denunciante.
O julgamento é presidido por uma mulher, a juíza Isabel Delgado Pérez, que será acompanhada pelos magistrados Luís Belestá Segura e Pablo Diez Noval. Além de Daniel Alves e a jovem que o acusa, no segundo dia outras 22 serão ouvidas, totalizando 28 testemunhas. O terceiro dia será dedicado a análise de dados periciais, como imagens das câmeras de segurança da boate onde aconteceu o caso, e exames médicos realizados pela denunciante.
Não há prazo para o anúncio da sentença. Até lá, Daniel Alves vai continuar preso de maneira preventiva. Apesar de a acusação pedir 12 anos de prisão (pena máxima), e o Ministério Público, nove, a tendência é que o brasileiro, se condenado, permaneça recluso por no máximo seis anos. Isso porque no início do caso judicial, a defesa do jogador pagou à Justiça o valor de 150 mil euros (cerca de R$ 800 mil) de indenização à jovem. A advogada da mulher contesta a possível redução da eventual pena. O MP solicitou, ainda, dez anos de liberdade vigiada após o cumprimento da pena em cárcere, e que ele seja proibido de se aproximar da vítima, assim como de se comunicar com ela, pelo mesmo período.
Para pagar a multa de atenuante de pena, Daniel Alves recebeu o valor de Neymar da Silva Santos, pai do craque da seleção brasileira. A ex-mulher do lateral, Dinorah Santana, que também é mãe dos filhos do jogador e ex-sócia, acionou a Justiça do Rio em agosto do ano passado cobrando do atleta R$ 13 milhões em pensão alimentícia. O jogador teve bloqueados R$ 7 milhões além de 30% do que recebe mensalmente do São Paulo pelo acordo de pagamento de salários atrasados.
A defesa de Daniel Alves, encabeçada pela advogada Inés Guardiola, tentou um acordo com os advogados da denunciante ao longo das últimas semanas. O canal espanhol Telecinco chegou a divulgar que as conversas pela retirada acusação chegaram a ser protocoladas na Justiça, mas as tratativas por um conciliação caíram por terra quando Lúcia Alves, mãe de Daniel, compartilhou um vídeo nas redes sociais expondo a identidade de quem seria a mulher que denuncia o atleta de agressão sexual. Em nota, a advogada que atende a mulher afirmou que vai processar a mãe do brasileiro.
MUDANÇA DE VERSÕES E RECURSOS NEGADOS
O caso teve sua primeira repercussão na imprensa espanhola no dia 31 de dezembro de 2022, quando o diário catalão ABC revelou que Daniel Alves teria violentado sexualmente uma jovem de 23 anos na casa noturna Sutton, em Barcelona, no dia anterior. A mulher esteve acompanhada por amigas a todo o instante e a equipe de segurança da casa noturna acionou a polícia, que colheu o depoimento da vítima.
Em 10 de janeiro, a Justiça espanhola aceitou a denúncia e passou a investigar o brasileiro. Inconsistências nas versões dadas pelo atleta, além da possibilidade de fuga do país europeu, fizeram com que a juíza de instrução Maria Concepción Canton Martín decretasse a prisão preventiva do atleta no dia 20 de janeiro. O Pumas, do México, rescindiu o contrato com o lateral no mesmo dia.
Durante o período em que está recluso, o brasileiro mudou o seu depoimento diversas. Ele primeiramente disse que não conhecia a jovem que o acusava. Depois, argumentou que houve relação sexual, mas de forma consensual, e que mentiu para esconder a infidelidade de sua mulher, a modelo e empresária espanhola Joana Sanz — um divórcio do casal chegou a ser noticiado, mas acabou não indo adiante. Em sua última versão, Daniel Alves alegou estar bêbado na noite em que ocorreram os fatos.
*Colaborou Marcos Antomil