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Léo Áquilla revela preocupação com a comunidade LGBT: 'O mundo ainda é cruel'

Em entrevista à Contigo!, Léo Áquilla dá detalhes do seu novo livro, Um Salto Para o Sucesso, e conta seus planos para o futuro

19 dez 2024 - 09h03
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A política Léo Áquilla
A política Léo Áquilla
Foto: Reprodução/Facebook - Leonora Áquilla / Contigo

"Minha preocupação é que essa nova geração é aberta e assumida, mas o mundo lá fora ainda é cruel". A frase é da política Leonora Mendes de Lima (54), mais conhecida como Léo Áquilla, que usou seu cuidado e zelo com a comunidade LGBTQIA+ como norte para lançar o livro Um Salto Para o Sucesso.

Na reta final de 2024, a artista lança o livro que reúne sete fatos de sua vida em que ela passou por alguma violência e usou estratégias para ter sucesso. Léo Áquilla diz que o trabalho vem como uma forma de aconselhar as pessoas LGBTQIA+ e trazer responsabilidade para a sociedade como um todo.

"Se eu fosse contar com detalhes minha biografia, o livro ia virar um calhamaço. Então, decidi pegar sete fatos mais importantes da minha vida, mas com o foco na estratégia que eu usei em cada uma dessas experiências para sobreviver e ter sucesso", explica, em entrevista à Contigo!.

Ela também aproveita para dizer que o momento atual é de extrema importância para a comunidade. Pioneira em muitas áreas e aspectos, Áquilla assegura que fica feliz por cada conquista e que não pretende parar de conquistar novos espaços.

"Fui a primeira drag queen a gravar um CD cantado, naquela época, o auge era o lip sync e quando a gente cantava ninguém gostava", recorda sobre seu CD intitulado Tô Lôca. "Eu não fiz sucesso como cantora, mas ao invés de só apresentar meu trabalho, eu estava lutando contra um sistema. Hoje, quando vejo a Pabllo Vittar e a Gloria Groove fazendo sucesso, sinto como se fosse meu também."

Atualmente, ela trabalha como coordenadora municipal da diversidade em São Paulo, e se prepara para lançar uma ópera no Theatro Municipal da capital paulista. Formada em marketing, jornalismo e pós-graduada em política, Áquilla reforça a importância de alcançar todos os espaços possíveis.

Em 2025, ela lançará o livro Além do Arco-Íris, e trabalha em um romance inspirado em uma história pessoal. Já para o futuro, os objetivos da política são ainda maiores: "Eu vou ser presidente do Brasil, não é que eu quero. Vou ser, não importa se é daqui dois, 10 ou 15 anos. Esse é meu objetivo". Abaixo, Léo Áquilla dá mais detalhes sobre seu livro e recorda momentos. Confira trechos editados da conversa.

Como surgiu a ideia de escrever o livro Um Salto Para o Sucesso?

Sou uma conselheira na internet, talvez pela experiência e exposição, como uma grande mãe da diversidade. Muitas pessoas me chamam de mãe, e isso virou uma grande brincadeira. Mas, para mim, faz um sentido muito grande. Tudo o que eu queria quando eu era novinha era ter uma mãe LGBT, no sentido de me proteger de tudo o que eu passei. Eu sempre fui uma menina, não gostava das coisas [consideradas] de menino, e aquilo era visto como uma blasfêmia, um pecado mortal a ponto de me mandar para o inferno do fogo eterno. Eu passei a vida pagando por uma coisa que eu nasci. Com 6 anos de idade eu falei para a minha mãe que eu queria ganhar uma boneca de presente, e já tive o primeiro embate com ela, dizendo que sou uma menina. Hoje, aos 54 anos, isso não mudou. Ninguém vira nada, a gente nasce assim. Se eu fosse contar com detalhes minha biografia, o livro ia virar um calhamaço. Então, decidi pegar sete fatos mais importantes da minha vida, mas com o foco na estratégia que eu usei em cada uma dessas experiências para sobreviver e ter sucesso. [O título] também tem um trocadilho porque eu só consegui fazer sucesso, levando em conta que é relativo, depois que eu assumi que eu era menina, fiz minha transição e comecei a andar de salto.

É legal saber que tudo surgiu da troca que você tem com seus seguidores!

O fato de eu me posicionar como uma mãezona, faço muitos vídeos sobre como se assumir, como se abrir com uma família conservadora e não acolhedora, em que tempo você tem que fazer os procedimentos caso seja uma pessoa trans. Em julho, vou lançar meu segundo livro, Além do Arco-Íris, que trará todo um letramento LGBT. Preciso imortalizar isso, que essa voz ecoe, chegue para mais adultos para que cuidem das crianças e adolescentes, e para os adolescentes que saibam sua responsabilidade.

Qual a importância de falar sobre essa responsabilidade?

Sou coordenadora municipal da diversidade. Sou a pessoa que tem que chegar nos LGBTs e falar que é bacana se assumir, mas que é preciso ter calma. Não é o caminho de afrontar pai e mãe, minha estratégia de sobrevivência foi conquistar a minha família, mostrar que ser uma pessoa LGBT está em último plano. Sou uma ótima filha, aluna, irmã, tenho vários talentos, contribuo em casa… olha quantas coisas sou antes de ser LGBT. Tive que fazer a minha família perceber isso, respeito é algo que vamos conquistar. Sair bradando por aí: 'Se assuma a qualquer preço', tem um quê de irresponsabilidade. Se a pessoa se assumir e for expulsa de casa aos 12, 13 anos, ela vai para onde? Qual sucesso essa pessoa vai ter? Por isso que a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é 35 anos, por isso que é o país que mais mata LGBTs no mundo. Ter paciência também é uma estratégia.

Você também mostra bastante dessa paciência com os ataques nas redes sociais. Como você lida com isso?

Talvez pela minha maturidade começo a perceber que, quando uma pessoa está muito agressiva e isso me atinge, o problema está em mim. Sempre uso os haters para convertê-lo ou para que ele sirva de exemplo para toda uma sociedade. Eu levo na brincadeira, acabo com eles numa classe e isso tem conquistado as pessoas. Nada me abala. Tem que ter sabedoria.

Você comentou que lançará outro livro no ano que vem. Qual a importância de fazer esse trabalho?

Minha mente é muito criativa, sou muito artista e muito poeta. Eu não serviria para ser uma jornalista formal, tudo na minha mão vira poesia, é como eu me comunico. Quando eu começo a escrever um livro é um problema, às vezes só um fato da minha vida já daria um livro, quero fazer dor virar poesia. Inicialmente, o livro de chamaria Castelo de Pedras, porque eu fui muito apedrejada durante a minha vida e literalmente. Com as pedras que me atiraram, eu construí meu castelo. Eu deixo fluir e depois tenho que ir enxugando e reduzindo. O livro que vou lançar em julho já é uma palestra que eu ministro pelo Brasil, é uma palestra de impacto e não há quem saia dela sem chorar. É apresentada de uma maneira muito bacana e lúdica. As pessoas dão muita risada até metade da palestra, como uma estratégia. E tudo isso vai estar no livro, ele realmente vai ser importante para a história da comunidade LGBT, porque as coisas vão mudar e eu quero deixar registrado esse período, que tem sido revolucionário, de ver mulher trans eleita, professora, chefe de gabinete, escritora. É muito importante esse momento da história, é o mais revolucionário. Em 2004 eu era a única candidata LGBT do país. Eu não fui eleita ainda, minha estratégia quando eu me candidatei nunca foi ser eleita, mas sim despertar a comunidade LGBT para que nós lutássemos pela fatia do bolo que nos pertence, porque não estávamos sendo representados.

Você tem outros projetos para 2025?

Vai ser um ano muito importante para mim, sinto isso por intuição. Todo mundo diz que é o ano de quem é de Virgem e Iansã. Não sou do candomblé, mas uma das minhas bandeiras é lutar contra a intolerância religiosa, então sou muito próxima a essas religiões, e todos falam: 'Se prepara, ano que vem é o seu ano'. Eu quero lançar mais um livro, quero gravar mais uma ópera para não deixar a sociedade esquecer que podemos ser o que a gente quiser. A última que eu lancei no Theatro Municipal foi um sucesso. Esse ano, coloquei o Miss Brasil Trans, que acontece há 30 anos, no Theatro Municipal. Ele sempre aconteceu em lugares escondidos, e eu falei 'não' e coloquei lá. Foi lindo, emocionante. Tenho a missão de colocar a nossa comunidade em lugares que ela não chegaria. Também vou conseguir transformar uma mísera coordenação em uma secretaria. Vou criar esse cargo para dar mais protagonismo para a comunidade trans. Meu objetivo para 2025 é brilhar, onde eu tocar.

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