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'Lessa deve estar querendo proteger alguém', afirma Domingos Brazão sobre caso Marielle

Conselheiro do TCE do Rio afirma que não teve acesso às investigações, mas nega qualquer participação no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes

24 jan 2024 - 14h37
(atualizado às 15h46)
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RIO - O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) Domingos Inácio Brazão afirmou que o ex-policial militar do Rio Ronnie Lessa, acusado de ser o executor da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, "deve estar querendo proteger alguém" ao citá-lo em delação premiada como mandante do crime.

Foto: CartaCapital

"Lessa deve estar querendo proteger alguém. A polícia tem que descobrir quem. Nunca fui apresentado à Marielle, ao Anderson, nem tampouco a Lessa e Élcio de Queiroz. Jamais estive com eles. Não tenho meu nome envolvido com milicianos. A PF não irá participar de uma armação dessas, porque tudo que se fala numa delação tem que ser confirmado", disse em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta quarta-feira, 24.

Segundo Brazão, ele nunca foi apresentado às vítimas e afirmou que foi investigado pela Polícia Civil, Polícia Federal e pelo Ministério Público e que os órgãos "não acharam nada".

"Não tem nada mais forte que a verdade. Esse golpe foi abaixo da linha de cintura. É algo que desgasta. Fui investigado pela Polícia Civil, pela PF e pelo Ministério Público. Não acharam nada. Por que protegeriam o Domingos Brazão? Que servidor público colocaria em risco sua carreira para me proteger? Eu desafio acharem algo contra mim", afirmou Brazão.

Segundo o site The Intercept Brasil, o conselheiro do TCE foi apontado por Ronnie Lessa como mandante do assassinato de Marielle e Anderson. Em outubro do ano passado, o ex-policial militar Élcio Queiroz - o primeiro acusado a assumir a coparticipação no assassinato - citou Brazão em delação, o que fez com que o caso fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Na entrevista, Brazão reclamou de não ter tido acesso à segunda parte das investigações do caso Marielle que tramita no STJ.

"Sempre estive à disposição. Minha família vem sofrendo muito com isso. Fiquei feliz em saber que ele fez a delação, mas ele tem que dizer a verdade. A morte de Marielle revelou muita sujeira embaixo do tapete. Agora querem me empurrar para isso. Se tem alguém que foi sabatinado, investigado, esse alguém foi Domingos Brazão. É um desgaste grande. Estou sangrando, mas não tenho medo de investigação", disse.

O advogado Márcio Palma, que defende Brazão, diz que, por mais de uma ocasião, pediu acesso à investigação, tendo seus pedidos sido negados, "motivo pelo qual desconhece o teor dos elementos contidos no inquérito".

"Para além de tais informações, esclarece não conhecer os personagens da trama delituosa. Esclarece, ainda, que jamais teve qualquer envolvimento com eles e tampouco relação com os fatos. Diante das especulações que buscam envolvê-lo no delito, destaca que as matérias apresentam razões inverossímeis para tentar lhe trazer para o bojo das investigações, evidenciando assim a inexistência de motivação que possa lhe vincular ao caso. Por fim, coloca-se à disposição para todo esclarecimento e espera que os fatos sejam concretamente esclarecidos, de modo a encerrar a tentativa de lhe associar ao trágico enredo", diz por nota enviada ao Estadão.

Relatório da PF

Um relatório da Polícia Federal de 2019 apontou Brazão como o "principal suspeito de ser autor intelectual" dos assassinatos da vereadora e do motorista. O conselheiro do TCE sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado em 2019 pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

"Domingos Brazão, valendo-se do cargo, da estrutura do seu gabinete no Tribunal Contas do Estado do Rio, acionou um de seus servidores, agente da Polícia Federal aposentado, mas que exercia cargo nesse gabinete, para engendrar uma simulação que consistia em prestar informalmente depoimentos perante o delegado Hélio Kristian e, a partir daí, levar uma versão dos fatos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o que acabou paralisando a investigação ou conduzindo-a para um rumo desvirtuado por mais de um ano", afirmou Dodge à época da denúncia.

Estadão
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