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Levantamento revela aumento dos crimes de ódio no primeiro semestre de 2022

Casos de racismo tiveram aumento de 23,3% em relação ao mesmo período do ano anterior; período das eleições é indicado como um dos estimuladores

30 set 2022 - 17h52
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Capa da cartilha Eleições sem ódio, do SaferLab.
Capa da cartilha Eleições sem ódio, do SaferLab.
Foto: Imagem: Reprodução/SaferNet / Alma Preta

A aproximação do dia da votação das Eleições 2022 expõe um problema já existente: os crimes de ódio e a veiculação de desinformação. Entre os alvos, a população negra aparece como um dos focos, fruto do racismo institucional perene na sociedade. Dessa forma, a comunidade negra, principalmente os jovens, devem ganhar protagonismo nesse combate que acontece no ambiente virtual e que reverberam no cotidiano da sociedade. 

Essas informações são apontadas pelo levantamento dos indicadores da Central Nacional de Denúncias da Safernet, que, em contrapartida, divulga a cartilha "Eleições Sem Ódio". Escrita em linguagem simples e direta, o documento é voltado para o eleitor jovem e sua família e alerta sobre como esse tipo de conteúdo pode influenciar negativamente as eleições e o que pode ser feito para combater a desinformação e o discurso de ódio. 

Para a comunidade negra, que é maioria nas periferias do Brasil, é importante compreender que a desinformação chega por diversos meios digitais, como redes sociais e aplicativos de mensagem, e em sua maioria, influenciada por um discurso de ódio que tem o racismo enraizado. 

Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, o jornalista Ariel Freitas, repórter do Estadão Verifica e do Favela em Pauta, conta que já recebeu diversos boatos, e relata que os "perfis traçados apontam jovens negros roubando nas redondezas, e a gente sabe quantas vezes somos confundido". Por isso, "fazer o combate à desinformação é essencial para preservar a integridade física e moral da população negra'', completa Ariel. 

Para Juliana Cunha, diretora da Safernet Brasil, há uma naturalização na percepção das pessoas em relação ao racismo, como se determinadas manifestações e comentários na internet fossem aceitáveis ou considerados mera "opinião". Para ela, a cartilha busca mostrar como se caracteriza o discurso de ódio na internet e como ele impacta negativamente o ambiente do debate público na Internet, silenciando grupos que historicamente são alvos de discriminação, como a população negra, e prejudicando um dos princípios fundamentais da democracia, o respeito à diversidade e dignidade humana.  

Em consonância com o relato de Juliana, Ariel conta que pesquisas revelam que as pessoas mais atacadas na internet são mulheres negras, principalmente candidatas a cargos políticos ou eleitas.

"Não precisa ser jornalista para realizar este combate, há inclusive materiais disponíveis para aprender o básico da checagem. É importantíssimo termos pessoas negras nesse engajamento, principalmente para romper esse ciclo", salienta. 

De acordo com Ariel Freitas, o jornalismo pode cumprir um papel de fortalecimento na luta da comunidade negra com o discurso de ódio, a partir de termos mais acessíveis, assim como também é construída a cartilha da Safernet.

"Quando o jornalismo traz palavras mais acessíveis, ele amplia o número de pessoas nessa causa. Além disso, a entrada de mais pessoas negras no mercado da comunicação é muito relevante nesse combate", completa o jornalista. 

Levantamento dos indicadores da Central Nacional de Denúncias da Safernet

Além do racismo, o levantamento da Safernet contabilizou outros seis tipos de violência: apologia a crimes contra a vida; LGBTfobia, misoginia, neonazismo, xenofobia e intolerância religiosa. De acordo com os dados comparados do primeiro semestre de 2021 e o segundo semestre de 2022, todos tiveram aumento percentual, com destaques para intolerância religiosa (654,10%), xenofobia (520,60%) e neonazismo (120,2%). 

De acordo com os dados da Safernet, se mantida essa tendência até o final do ano, 2022 será o terceiro ano eleitoral consecutivo em que houve aumento de denúncias de crimes de ódio em relação aos anos anteriores, demonstrando que nos anos em que há eleições, ocorre um pico do discurso de ódio na internet. Para Juliana Cunha, o período eleitoral é um momento de maior acirramento das diferenças, onde o discurso de ódio é usado como uma plataforma política para disputar a atenção e engajar a audiência nas redes sociais, dando mais visibilidade para os agressores."

Para a diretora, a mudança de comportamento do usuário é apenas uma camada no desafio que é combater a desinformação e o discurso de ódio. "É uma coordenação de diferentes estratégias e frentes de enfrentamento que serão capazes de dar respostas ao problema e não é simples fazer isso'', afirma. 

A cartilha desenvolvida pela Saferlab já está disponível e é gratuita. Ela explica como a desinformação e o discurso de ódio podem influenciar pessoas durante o período eleitoral, além de trazer boas práticas para se combater a desinformação e o discurso de ódio. 

A SaferNet Brasil oferece um serviço de recebimento de denúncias anônimas de crimes e violações contra os Direitos Humanos na Internet, contando com procedimentos efetivos e transparentes para lidar com as denúncias. Além disso, conta com suporte governamental, parcerias com a iniciativa privada, autoridades policiais, judiciais e os usuários da Internet. Caso encontre imagens, vídeos, textos, músicas ou qualquer tipo de material que seja atentatório aos Direitos Humanos, faça a sua denúncia.

Propostas para a população negra: quem assume esse compromisso?

Alma Preta
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