LGBTQIA+ e população vulnerável: conheça a trajetória e as lutas do padre Júlio Lancellotti
Pároco atua há mais de quatro décadas em defesa de grupos minorizados
Em sete dias, o padre Júlio Lancellotti foi notícia duas vezes. Primeiro por ameaças de morte feitas em um bilhete deixado por um idoso na porta da paróquia São Miguel Arcanjo e a segunda pela condecoração com a medalha da Ordem do Ministério da Justiça dada pelo governo do presidente Lula.
Não foi a primeira vez que o páraco estampou as manchetes dos noticiários em um curto espaço de tempo, na verdade, nas últimas quatro décadas, padre Júlio tem feito um trabalho que chama atenção por ir contra a opressão e as desigualdades.
- Júlio Renato Lancellotti nasceu em 1948 na capital paulista e fez duas tentativas de se tornar religioso antes de se tornar efetivamente padre aos 37 anos: a primeira, aos 13 anos, indo para um seminário e a segunda ao se tornar frade aos 19 anos, nas duas ocasiões desistiu por conta da rigidez das ordens.
- .Além de padre, ele é formado em Auxiliar de Enfermagem na Santa Casa de Misericórdia de Bragança Paulista, pedagogo pela Faculdades Oswaldo Cruz e tem uma especialização em Orientação Educacional na PUC de São Paulo, onde também foi professor nos anos 1980.
- Na época em que foi ordenado, também ajudou na criação da Pastoral do Menor e nos anos seguintes foi uma das figuras centrais na formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
- Em 1986, padre Júlio chega na Paróquia São Miguel Arcanjo da Mooca, bairro de São Paulo onde atua até hoje. Na época, também participou ativamente da campanha contra maus-tratos ocorridos na antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM), hoje Fundação Casa, que resultou no manifesto contra a política do "Cacete pedagógico" que levou à demissão da presidente da então FEBEM Maria Inês Bierrenbach.
- Já em 1990, funda a Comunidade Povo da Rua São Martinho de Lima, que acolhe pessoas em situação de rua e passa a atuar com pessoas oriundas do sistema carcerário, pacientes que vivem com HIV e populações vulneráveis. No ano seguinte, funda a "Casa Vida I" e a "Casa Vida II", para acolher crianças que vivem com o HIV.
- Por esse trabalho é reconhecido pela UNESCO e recebe seu primeiro título de Doutor Honoris Causa pela PUC. Ao longo das décadas seguintes, recebeu ainda diversas honrarias como o Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2004 e o Prêmio Zilda Arns pela Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa em 2021.
- Entre 2007 e 2011, o padre se tornou notícia pela extorsão que sofreu do casal Anderson Marcos Batista, um ex-interno da então FEBEM, e Conceição Eletério. Anderson ameaçava o padre com uma falsa denúncia de pedofilia. Em 2011, a Justiça condenou o casal a sete anos e três meses de prisão pelo crime de extorsão.
- Na última década tem mobilizado as redes sociais na sua luta contra a aporofobia e pelos direitos de grupos historicamente minorizados, como a população LGBTQIA+, em especial pessoas trans.