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Livro lança luz sobre a psicanálise nas questões raciais

"Os muitos nomes de Silvana" revela como as mulheres negras e de baixa renda reagem ao racismo estrutural.

19 nov 2021 - 07h00
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"Os muitos nomes de Silvana" revela como as mulheres negras e de baixa renda reagem ao racismo estrutural
"Os muitos nomes de Silvana" revela como as mulheres negras e de baixa renda reagem ao racismo estrutural
Foto: Noah Buscher / Unsplash

Já no prefácio de “Os muitos nomes de Silvana” há um aviso direto: o livro gera incômodo. Isso, porque a obra da psicanalista Ana Paula Musatti-Braga, recém-lançada pela editora Blucher, põe o dedo na ferida ao abordar o que opera, silencia e angustia quando se trata das relações raciais, especialmente no caso das mulheres negras.

Outro incômodo está no fato de Musatti também expor a necessidade de a psicanálise considerar as questões raciais em sua clínica. Não por falta de uma robusta literatura psicanalítica sobre a questão das mulheres negras, mas pelo silenciamento da "cor" nas pesquisas psicanalíticas.

Não por acaso, a autora faz uma vasta revisão bibliográfica de autores e autoras afrodescendentes que abordam a questão racial na psicanálise, tais como Lélia Gonzalez, Neusa Souza e Virgínia Bicudo.

Mas quem é Silvana? Na verdade, são muitas Silvanas que a cada capítulo surgem com um novo nome. São mulheres que apesar de suas diferentes origens e histórias têm características comuns: são mulheres, pobres e negras.

E aqui há a diferença entre se identificar com Silvana e formar uma identidade coletiva. Todas as Silvanas se identificam com uma vida marcada pelo racismo.

O livro, que integra a coleção "Psicanálise Contemporânea", da editora Blucher, é um desdobramento da tese de doutorado defendida por Musatti na Universidade de São Paulo, em 2016. A ideia inicial do estudo era fazer uma escuta psicanalítica de como a mulher e mãe de baixa renda se sente reconhecida nos diversos espaços da cidade: escola, posto de saúde, trabalho etc.

"Comecei o estudo a partir dessa perspectiva, me aprofundando na questão a partir de relatos de mães pobres. No entanto, conforme ia avançando na pesquisa, fui percebendo que o racismo era central na questão socioeconômica. Ficou muito perceptível que mães negras tendem a ser mais cobradas, não lhes é atribuído o direito ao lazer, nem ao gozo. São exigências muito desiguais se comparadas as das mulheres brancas", explica Musatti.

Como as Silvanas vão identificar, reagir e resistir a situações cotidianas, permeadas pelo racismo, é tratado em vários trechos do livro. Em um deles, a autora se foca no contorno sexual do racismo. Silvana (ou Suzana, ou Selma...) está em uma pracinha com seu filho de pele mais clara que ela, quando uma mulher branca se aproxima.

Sem cerimônia alguma, a mulher pergunta se Silvana é a babá do próprio filho. Ao receber a negativa, a mulher não se faz de rogada e solta a agressão: "Então, deve ser filho do patrão".

Ao analisar o racismo do dia a dia, o racismo estrutural, a pesquisadora descobriu que tinha cor. "O branco muitas vezes não percebe que se socializou numa sociedade racializada. E eu percebi que a psicanálise não estava olhando para a questão racial. Não porque não houvesse estudos sobre raça e psicanálise, muito pelo contrário.

No Brasil existem textos importantes de psicanalistas negras - que só agora estão sendo reeditados - que foram silenciados", diz. "Acredito que Os muitos nomes de Silvana traz à clínica psicanalista elementos que levam em consideração as questões raciais e podem ser importantes no trabalho de escuta."

Ficha técnica:

Título: Os Muitos Nomes de Silvana - Contribuições clínico-políticas da psicanálise sobre mulheres negras

Autora: Ana Paula Musatti-Braga

Número de páginas: 309

Preço: R$ 105,00

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