Lula promete 'dignidade' a yanomamis e acabar com garimpo ilegal
Presidente visitou Boa Vista, capital de Roraima
Em visita a Boa Vista, capital de Roraima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou neste sábado, 21, a situação vivida pelos indígenas yanomamis e prometeu acabar com o garimpo ilegal na Amazônia.
"Saio daqui com o compromisso com os nossos queridos irmãos de que vamos dar a dignidade que eles merecem", afirmou o petista, que viajou à cidade por conta da grave crise sanitária na terra Yanomami, maior reserva indígena do Brasil e que acumula dezenas de relatos de desnutrição severa, especialmente em crianças.
Durante uma breve coletiva de imprensa, Lula afirmou que os yanomamis estão "abandonados" e precisam ser tratados "decentemente". Uma das prioridades, segundo o presidente, é garantir atendimento médico para os indígenas em suas próprias aldeias, para evitar que eles precisem se deslocar até as cidades e depois não consigam voltar.
A outra é acabar com o garimpo ilegal, prática que, além de destruir a floresta, expõe os indígenas à violência dos invasores e a doenças contra as quais eles não estão protegidos.
"Não vai mais existir garimpo ilegal. Eu sei que já se tentou tirar e que eles voltam, mas vamos tirar", disse Lula, que preferiu não dar prazos.
Até o momento, pelo menos oito crianças yanomamis já foram resgatadas por técnicos do Ministério da Saúde com desnutrição grave e encaminhadas para Boa Vista.
De acordo com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, cerca de 570 crianças yanomamis morreram de causas ligadas à fome durante o governo de Jair Bolsonaro.
"Eu não queria crer que eu ia ver pessoas com a fome que essas pessoas têm. Quase todos se queixam da comida. Todos se queixam que estão aqui e não sabem quando voltam [para suas aldeias]. Vi as criancinhas bem magrinhas, bem desnutridas", disse Lula.
Situada na Amazônia, a terra Yanomami engloba quase 10 milhões de hectares, área equivalente à de Portugal, e abriga aproximadamente 30 mil indígenas.
Críticas à gestão de Jair Bolsonaro
Durante a declaração, Lula também fez referências e críticas à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. "É desumano o que vi aqui. Sinceramente, o presidente que deixou a Presidência esses dias, se ao invés de fazer tanta motociata tivesse vergonha e visse aqui uma vez, quem sabe esse povo não estaria abandonado como está", afirmou.
Visita necessária
A viagem a Roraima acontece às vésperas da ida de Lula para a Argentina. O presidente afirmou que não gostaria de deixar o País sem fazer a visita.
Ele foi acompanhado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, e pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
O presidente afirmou que pretende participar, em março, da assembleia na Raposa Serra do Sol.
"Se alguém me contasse que aqui em Roraima tinha pessoas tratadas de forma desumana, como eu vi o povo Yanomami ser tratado aqui, eu não acreditaria. Por acaso tive acesso a algumas fotos essa semana e elas, efetivamente, me abalaram. Um País que tem condições como o Brasil não pode deixar nossos indígenas abandonados como estão aqui", disse Lula.
O presidente citou que durante a visita viu "crianças magrinhas e desnutridas, que precisam de vitaminas".
Medidas
Lula afirmou que as primeiras medidas devem ser no setor de transportes na região devido à precariedade do serviço. O objetivo, segundo ele, é garantir transporte para pessoas que estão aguardando há seis meses e ficaram abandonadas.
Ele também citou ser necessário aumentar a pista de pouso para possibilitar a utilização de uma aeronave maior, que tenha capacidade de transportar um número maior de passageiros e de alimentos.
O presidente ainda afirmou que equipes de saúde serão enviadas para a localidade. "Acho que uma das formas da gente resolver isso é a gente montar um plantão da saúde nas aldeias, para que possa cuidar deles lá. Fica mais fácil transportar dez médicos do que transportar 200 índios. É apenas uma questão de mudança de comportamento. Prometo a vocês que vamos melhorar a vida deles", disse citando que a ministra da Saúde tem conhecimento dessa intenção.
*Com informações do Estadão Conteúdo