Lygia Fagundes Telles tinha 103 anos, revela genealogista
Pesquisador Daniel Taddone encontrou documentos que comprovam que a escritora nasceu, na verdade, em 1918, e não em 1923, como se pensava
A escritora Lygia Fagundes Telles morreu aos 103 anos no último domingo, 3, em São Paulo. Mesmo que as manchetes de todo o Brasil tenham destacado que ela tinha "apenas" 98 anos, um genealogista paulista descobriu documentos que comprovam que ela era, sim, centenária – mas por algum motivo, escondeu cinco de seus anos por toda a vida.
No site oficial da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual Lygia ocupa a cadeira 16, consta que seu nascimento aconteceu em 1923. Uma nota de condolêscias divulgada pela própria ABL traz o título "Morre, aos 98 anos, a Acadêmica e escritora Lygia Fagundes Telles". A mesma confusão se vê espalhada nos mais diversos perfis biográficos sobre a autora.
Quem trouxe a informação sobre o nascimento dela foi Daniel Taddone, genealogista que tem como passatempo pesquisar as árvores genealógicas de algumas personalidades. Ele diz que prefere aqueles que têm descendência italiana, mas celebra ter ido atrás das informações de Lygia e revelado essa discrepância na idade.
"Minha primeira reação foi surpresa, pelo fato de ela ser uma centenária e ninguém sabia. Considerei bastante curioso", conta, em entrevista ao Terra.
Os documentos da escritora, do registro de nascimento dela e a certidão do primeiro casamento, com Gofredo Teixeira da Silva Telles, estavam inseridos no Family Search, um sistema administrado pela Igreja Mórmon e que reúne informações genealógicas de milhares de famílias. Neles, constam que Lygia nasceu em 19 de abril de 1918 em São Paulo, e não em 19 de abril de 1923, como era conhecida a data de seu nascimento.
Assim que percebeu a diferença, o genealogista compartilhou o encontro em suas próprias redes sociais. "A pesquisa genealógica muitas vezes revela dados e fatos escondidos há décadas. A análise dos registros de fonte primária pode desafiar nossas crenças. Quem nunca desvendou alguns segredinhos com o auxílio da genealogia?", questionou na publicação.
Cinco anos a mais
Segundo Daniel, a nova informação muda alguns pontos importantes sobre a história de Lygia, já que sua primeira obra, Porão e Sobrado, lançada em 1938, era tida, até então, como escrita por uma adolescente de 15 anos. No entanto, ela já tinha 20 anos àquela altura. "Dos 15 aos 20, existe uma diferença grande de amadurecimento", aponta o pesquisador.
"Até o fato de que uma grande escritora brasileira não quis que se comemorasse seu centenário, mesmo sabendo que tinha passado há algum tempo dos 100 anos. Isso tudo fica aberto à interpretação das pessoas", acrescenta.
Daniel também é o autor da pesquisa da árvore genealógica do presidente Jair Bolsonaro e outras personalidades conhecidas, como Nicette Bruno e José Mojica Marins, o Zé do Caixão, por exemplo. O pesquisador defende que a genealogia é um estudo importante para resgatar a história de origem de cada um. "Acho muito importante as pessoas saberem de onde vieram e a formação de seus antepassados até chegar nela".