"Me tornei referência para mulheres com deficiência visual", diz Ádria Santos, velocista cega e comentarista da Globo
Ádria Santos, 50 anos, é a maior medalhista paralímpica mulher do Brasil, com 13 medalhas
Ádria Santos, maior medalhista paralímpica mulher do Brasil, será comentarista na Globo e possui instituto de esporte educativo.
A velocista com deficiência visual Ádria Santos, 50 anos, é a maior medalhista paralímpica mulher do Brasil. Ela, que também é uma mulher negra, será uma das comentaristas da Globo nos Jogos Paralímpicos, participando diariamente do boletim "Volta Paralímpica", além da abertura e encerramento do evento.
Em 2021, ela também esteve no time de comentaristas da emissora. "Foi um momento incrível de participar, de estar ali como referência para as pessoas com deficiência. É uma emoção muito grande, não só por estar representando, mas também por ser em um momento tão emocionante como os Jogos Paralímpicos", relembrou a atleta em entrevista ao Terra NÓS.
"Isso mexe muito com o emocional do atleta, nesse momento de Jogos Paralímpicos e poder representar as mulheres negras e com deficiência."
Deficiência visual
Ádria nasceu com apenas 10% da visão em decorrência da associação entre duas doenças que provocaram a degeneração de sua retina (retinose pigmentar e astigmatismo congênito), e perdeu totalmente a visão ao longo dos anos.
"Tive que aprender tudo novamente, como a locomoção, a confiança e a aceitação. E eu fui aprendendo a lidar, às vezes, com preconceitos e a falta de estrutura em alguns lugares", disse.
Mas, antes de perder totalmente a visão, com 13 anos Ádria já treinava no Instituto São Rafael, em Belo Horizonte (MG), especializado em pessoas com deficiência visual.
"No início, o esporte paralímpico não era conhecido e a gente treinava de uma forma bem precária, onde a gente quase não tinha os materiais para treinar."
Segundo Ádria, ela foi aprendendo cada vez mais e conhecendo a modalidade. E em determinado momento, ela percebeu a importância que o esporte estava tendo em sua vida. "Em questão de oportunidades, de conhecer culturas, outros países, de autonomia na minha vida e de tudo que [o esporte] estava proporcionando", contou.
"Por ser de uma família simples, se não fosse o esporte, eu não teria essas oportunidades."
Para ela, correr sempre foi uma paixão. "Eu digo que o correr já veio no meu DNA, sempre gostei muito de correr desde criança. Não sabia andar e tudo que ia fazer eu gostava de correr. Então, para mim, o correr sempre foi uma sensação de liberdade", afirmou ainda à reportagem.
Recordista mundial
Ádria é recordista mundial nos 100 e 200 metros rasos, se consagrando como a maior velocista cega do mundo. A atleta coleciona 73 medalhas em competições internacionais e outras 583 em provas nacionais.
Suas primeiras participações em Jogos Paralímpicos foram Seul 1988 e Barcelona 1992, conquistado uma medalha de ouro e duas de prata. Ela competiu mais três edições dos Jogos (Atlanta, Sydney e Pequim) somando 13 medalhas paralímpicas, quatro de ouro, oito de prata e uma de bronze.
Referência no esporte
A velocista representou o Brasil durante 27 anos e seus feitos inspiram outras mulheres. "Me tornei uma referência para outras mulheres, para as mulheres com deficiência visual, para pessoas que vão se motivando a praticar o esporte por me conhecer e saber minha história", destacou ao Terra NÓS.
Hoje, ela tem um instituto que leva o seu nome e promove o esporte educativo com crianças e adolescentes com e sem deficiência. "Passar para essas crianças o que eu aprendi sobre valores e princípios do esporte e, além disso, a socialização de crianças com e sem deficiência. Esse é o meu projeto", completou.
Mirando em Paris, Ádria comenta que está com as expectativas altas para a vitória do Brasil em várias modalidades, não só no atletismo. "O país sempre voltou com grandes resultados e acredito que não vai ser diferente nesses Jogos", finaliza a corredora.