Médico está foragido acusado de estuprar pacientes após cirurgias de hemorroidas em SP
Paulo Augusto Berchielli atendia em uma clínica no bairro de Tatuapé, em São Paulo
O médico proctologista Paulo Augusto Berchielli está foragido após ser denunciado por ao menos quatro pacientes de estupro. Ele atendia em uma clínica em Tatuapé, em São Paulo, onde realizava cirurgias relacionadas a doenças do intestino delgado, grosso, reto e ânus.
O caso foi divulgado pelo programa Cidade Alerta, da TV Record, que exibiu o relato de uma das pacientes. Posteriormente, outras mulheres começaram a se manifestar.
Na entrevista exibida pela emissora, uma mulher, que preferiu não se identificar, contou que passou por um pesadelo em que quase morreu. "Estou viva aqui por um milagre, porque ele quase me matou, quase tirou minha vida", disse.
Ela explicou que Berchielli a atendeu sozinho em seu consultório, sem o assistente que teria afirmado que estaria por perto. Foi o próprio médico proctologista quem administrou os sedativos dados à vítima.
"Ele veio duas vezes na sala eu não tinha dormido. Deu novamente a medicação, aí depois eu não vi mais, só vi na hora que um barulho, que foi quando começou a cirurgia. E depois vi já quando tinha terminado a cirurgia", relembrou. A mulher acordou sangrando e com dores na região pélvica, onde não tinha feito nenhum procedimento.
Depois, em consultas no pós-operatório, ela percebeu que ele tentava abusá-la. A mulher contou que o médico pedia para que ela tirasse a roupa para examiná-la, mas ela não deixou, suspeitando de que houvesse algo de errado.
A vítima ainda passou por uma infecção no local da cirurgia. "Eu não morri por um milagre. Eu comecei a fazer ozônio e o ozônio não deixou a infecção ir para a corrente sanguínea", contou. Ao todo, foram cinco meses de tratamento.
Desconfiada, a mulher resolveu denunciar o caso e descobriu outros dois boletins de ocorrência já abertos contra o médico. Um deles, inclusive, de mais de 10 anos atrás. Já na outra queixa, mais recente, a mulher relata ter acordado no meio da cirurgia e percebido o ato.
Após uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a Justiça expediu um mandado de prisão contra ele, que está foragido. No documento, obtido pela TV Record, está escrito que há indícios suficientes para constatar os crimes, citando os laudos periciais.
"A frieza e crueldade com que o crime foi praticado sugerem uma personalidade desvirtuada e alta periculosidade para o convívio social", diz trecho da denúncia.
Mulher que acordou
A mulher que acordou durante o procedimento falou ao portal Metrópoles sobre o caso, também sem se identificar. Ela, uma enfermeira de 47 anos, disse que acordou "grogue" da anestesia, mas se lembra de flashs, dele a colocando de bruços na maca e de sua cabeça batendo contra a parede. A mulher diz ter chegado a vomitar.
Depois, ela chegou a ver que ele estava limpando o pênis em uma pia do lado da maca.
A vítima disse ainda que ele deu uma dose alta de anestésico para ela, que em casa dormiu por dois dias seguidos. Ela havia feito a cirurgia de hemorroidas numa sexta-feira, e no domingo, ainda com a mesma roupa que usava durante o procedimento, foi até uma delegacia fazer uma denúncia.
O caso aconteceu em agosto do ano passado, mas ao fazer a denúncia na 5ª Delegacia de Defesa da Mulher, em Tatuapé, a mulher acredita que a equipe policial tenha agido de má-fé com ela.
Inicialmente, os laudos periciais com base em suas vestimentas apontaram para negativo. Porém, a paciente percebeu que sua calcinha havia sumido e duas escrivãs fizeram brincadeiras com a situação.
A roupa intíma só veio a aparecer um ano e meio depois, quando o Ministério Público solicitou os resultados periciais ao fazer a denúncia contra o médico. No laudo da calcinha, o resultado foi positivo para presença de sêmen.
Sobre a situação, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) lamentou o atendimento dado à vítima, em nota ao Terra.
"A Corregedoria da Instituição instaurou um procedimento e apura rigorosamente a conduta dos policiais citados. Todos os laudos periciais, incluindo os das roupas íntimas da vítima, foram concluídos e anexados ao inquérito policial em curso pela 5º Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)", disse a corporação.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) também afirmou que está investigando a conduta do médico Paulo Augusto Berchielli, mas que o processo ocorre em sigilo. "Qualquer manifestação ou posicionamento adicional por parte do Conselho poderá resultar na nulidade do processo", afirmou a entidade.