Script = https://s1.trrsf.com/update-1730403943/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Menstruação de homens trans é tabu que precisa ser quebrado

Aceitação da diversidade de corpos e necessidades pode facilitar acesso a informações, serviços médicos e produtos

4 mar 2022 - 07h00
(atualizado em 13/4/2022 às 15h00)
Compartilhar
Exibir comentários
A associação da menstruação a mulheres cisgêneras afeta a autoestima e pode causar disforia de imagem em homens trans
A associação da menstruação a mulheres cisgêneras afeta a autoestima e pode causar disforia de imagem em homens trans
Foto: Larisa Bozhikova/ Reuters

A menstruação é uma condição biológica inerente ao sexo biológico feminino e, cultural e socialmente, também um símbolo do feminino. Essa ideia, no entanto, desconsidera um contingente significativo de pessoas. A diversidade de corpos e identidades torna urgente a abordagem da menstruação como um processo biológico humano, não exclusivo de um gênero.

Segundo a ginecologista e obstetra Roberta Grabert, pós-graduada em sexualidade humana e liderança, associada ao movimento Livres, quando há uma identificação do gênero feminino e a menstruação, ela pode ser um problema para quem não se identifica com ele.

Além das mulheres, há homens trans, pessoas transmasculinas (que não se encaixam no gênero do nascimento nem na binariedade dos gêneros), não binárias e intersexuais (que nascem com características sexuais que não se encaixam com a definição típica de masculino ou feminino) que também podem menstruar. "E está tudo bem! É preciso ressignificar a menstruação e retirar o estigma e o tabu que a cercam, sem desprezar sua importância biopsicossocial", avalia Roberta.

Em geral, homens trans que fazem tratamentos hormonais ou cirúrgicos para redesignação de gênero param de menstruar. Há também pessoas que não querem, ou que têm alguma sintomatologia e que interrompem a menstruação com anticoncepcionais orais, implantes hormonais ou dispositivos intrauterinos com progesterona. No entanto, muitos não se submetem a tratamentos ou cirurgias; portanto, menstruam. "É preciso lembrar que, além de menstruar, essas pessoas podem, se assim desejarem, engravidar. Elas são invisíveis, o que dificulta muito o acesso aos serviços de saúde, à obtenção de informações e aos produtos menstruais adequados", comenta Roberta.

Questão de identidade e legitimação

Não são poucos os dilemas enfrentados por homens trans que menstruam. Para o psicólogo transmasculino Jul da Costa Ng, integrante da Rainbow Psicologia, serviço especializado em atendimento a LGBTQIA+, as principais dificuldades e necessidades estão relacionadas à forma como socialmente a menstruação ainda é comumente relacionada ao feminino, mais precisamente às mulheres cisgêneras. "Esse mecanismo social deslegitima a identidade de gênero de pessoas transmasculinas e não binárias, que constantemente passam por situações desconfortáveis e vexatórias, além de ainda terem que lidar com um mercado que costuma voltar suas ações e produtos reduzindo-os ao uso de mulheres cisgêneras", observa.

De acordo com Jul, essa associação ainda tão presente em nossa sociedade causa profundas questões psicológicas, muitas vezes acionando gatilhos de disforia e fazendo com que essas pessoas questionem a si mesmas, sua legitimidade, e afetando sua autoestima, dentre tantas outras questões.

É válido lembrar que, em 2020, essas questões vieram à tona com as críticas da escritora britânica J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter, que levou a público um artigo intitulado "Criando um mundo pós-Covid 19 mais igualitário para pessoas que menstruam". O termo “pessoas que menstruam” tem o objetivo de incluir homens transgêneros e pessoas não binárias e, por conta disso, J.K. Rowling foi acusada de transfobia nas redes sociais.

Cairo Lorenzo Ribas aponta a necessidade de artigos menstruais inclusivos e cita despreparo de ginecologistas com a questão
Cairo Lorenzo Ribas aponta a necessidade de artigos menstruais inclusivos e cita despreparo de ginecologistas com a questão
Foto: Arquivo Pessoal

Produtos mais inclusivos

Para Cairo Lorenzo Ribas, universitário de 21 anos, é fundamental que os artigos menstruais, como absorventes e medicamentos para cólicas, passem por uma reformulação da comunicação visual para que sejam mais inclusivos. Uma olhada rápida nas prateleiras das farmácias permite entender a razão: cores como rosa e lilás e ícones de borboletas e flores expressam a "feminilidade" dos produtos. "Até mesmo o mercado de roupa íntima não contempla os homens trans que menstruam, como eu. Existem cuecas absorventes, mas os valores não são acessíveis para todos", observa.

Cairo também chama a atenção para o fato de que muitos ginecologistas ficam desconfortáveis ao lidar com esses pacientes, percepção endossada por Roberta. "De fato, alguns colegas não estão acostumados a entender a menstruação como uma função biológica humana e não como um determinante de gênero. O ideal é que todos os profissionais de saúde tivessem acesso a informações e educação médica continuada. Todas as pessoas que menstruam deveriam ter acesso a políticas públicas, de Estado, abrangentes, baseadas em evidências, inclusivas, de planejamento familiar, independentemente de seu gênero. Por enquanto, somente os grandes centros possuem ambulatórios especializados e voltados para esta população", diz.

Comunicação de produtos menstruais precisa ser repensada para contemplar todas as pessoas que menstruam
Comunicação de produtos menstruais precisa ser repensada para contemplar todas as pessoas que menstruam
Foto: Sergey Tolmachev/Reuters
Fonte: Redação Nós
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade