Mercúrio do garimpo contamina yanomamis em 9 comunidades
Estudo da Fiocruz revelou danos à saúde dos povos indígenas
Um estudo realizado com indígenas Yanomami do subgrupo Ninam, em nove aldeias em Roraima, revelou que quase todos os participantes foram vítimas de contaminação por mercúrio, com índices maiores nos que vivem mais perto de garimpos ilegais de ouro.
O metal pesado foi identificado em amostras de cabelo de cerca de 300 pessoas, incluindo crianças e idosos, na pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA).
O mercúrio metálico, usado por garimpeiros no processo de separação do ouro, é despejado em rios e cursos d'água que abastecem os indígenas. A substância ameaça a saúde de diversas formas e não há níveis seguros para a exposição.
Os pesquisadores destacaram que os indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram déficits cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas.
"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de cinco anos", explicou o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Fiocruz.
As coletas foram realizadas em 2022 na região do Alto Rio Mucajaí, alvo do garimpo ilegal há décadas.
"O garimpo é o maior mal que temos hoje na Terra Yanomami. É necessária e urgente a desintrusão. Se o garimpo permanece, permanece também a contaminação, devastação, doenças, e isso é o resultado dessa pesquisa, é a prova concreta!", enfatizou o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa. .