O colorido dos LGBTQIA+ indígenas na luta por corpos territórios
Pela primeira vez em 18 anos do ATL, maior mobilização indígena do Brasil, LGBTQIA+ indígenas tiveram espaço e representatividade
A primeira plenária LGBTQIA+ indígena durante o 18° Acampamento Terra Livre 2022 (ATL) foi histórica. O colorido da resistência trouxe para o palco as cores diversas dos corpos territórios, pautando a importância de estar presente nos espaços de decisões. A Articulação do Povos Indígenas do Brasil (APIB) acolheu os parentes que ocuparam o palco central do ATL pela primeira vez. As cores presentes ali naquele momento mostraram que a força e a união coletiva dos povos fortalecem cada vez mais a luta por direitos e por territórios.
Erisvan Guajajara, um dos fundadores do coletivo Mídia Índia, coordenou a mesa que teve a participação de representantes de coletivos de base indígenas LGBTQIA+ de todos os biomas do Brasil. “Esse momento para nós é histórico. Após 18 anos viemos aqui com a diversidade de nossos corpos territórios erguer a bandeira colorida, pois o momento se faz necessário. Para que as pessoas LGBTQIA+ não sigam morrendo com o preconceito, impregnado no discurso de ódio, estamos nas aldeias, nos campos, nas ruas, nas cidades e vamos continuar ocupando todos os espaços, pois o nosso colorido da resistência está aqui para afirmar que nossa luta é pela VIDA, pelos nossos direitos, basta de racismo, de transfobia, de violência. Tire seu preconceito do meu caminho que irei passar com o meu cocar”, afirmou.
O evento foi marcado por falas que ressaltam a importância de ser LGBTQIA+ indígena, que por muitas vezes sofrem preconceito da própria família ou dentro da sua própria comunidade. Segundo os participantes da mesa, eles já passaram por situações desagradáveis seja pela depressão e solidão ou por piadas machistas constates. Segundo Yakecan Potyguara, do Coletivo Caboclas, é necessário conversar com as lideranças para fortalecer a luta contra todos os retrocessos que fere direitos, vidas e corpos.
“Mesmo com todo o preconceito, sempre vamos estar na linha de frente para enfrentar os obstáculos. É com essa força e união que estamos aqui trazendo a nossa diversidade de povos, a coragem para somarmos na luta pela demarcação dos nossos territórios juntos às lideranças. Estamos aqui pra afirmar que essa luta também é nossa”, afirma Yakecan.
Ao final da plenária, os LGBTQIA+ indígenas entregaram um manifesto feito coletivamente pelos diversos povos e suas representações para a coordenação da APIB. Sônia Guajajara e Dinama Tuxá receberam o manifesto e afirmaram que essa causa precisa ser debatidas mais vezes e que juntos vamos superar todos os desafios.
“A APIB recebe com maior amor e respeito esse manifesto e quero dizer que essa diversidade de povos presente no Acampamento é para mostrar que nós temos várias frentes de lutas e os LGBTQIA+ estão presente nesses espaços. É hora de estarmos juntos e unidos para barrar de vez todo preconceito e racismo predominante em nossos territórios. Seguimos nessa luta e contem com a APIB pra fortalecer cada vez mais essa causa. Vocês não estão sozinhos”, afirma Sônia Guajajara.
O Coletivo Tibira é uma das organizações de base dos LGBTQIA+ indígenas. Ele leva o nome do primeiro indígena morto pela LGBTfobia, em 1614. Hoje, o coletivo é formado por diversos parentes de povos diferentes. Essa luta é para garantir e afirmar que Tibira vive entre nós. Tibira Presente!
Saiba mais no site da APIB e leia o manifesto completo aqui.