Sangue indígena, nenhuma gota a mais
Quem protege nossas vidas, somos nós mesmos, nossas alianças e a nossa união
A violência contras os principais protetores da Amazônia vem se multiplicando cada vez mais, são ameaças, intimidações, assassinatos e perseguições. E as autoridades fingem não ver a boiada passar e matar nossos parentes.
Os povos indígenas conquistaram, em 1988, com a Constituição Federal, “os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”. O direito à terra é um direito originário dos povos indígenas, ou seja, anterior ao próprio Estado.
Lutar pela preservação da Amazônia, é lutar pela vida. O Estado brasileiro não garante a nossa proteção, não garante os cuidados com as nossas vidas. Quem protege nossas vidas, somos nós mesmos, nossas alianças, a nossa união em defesa da vida e de um planeta verde.
É hora de dar um basta em toda essa violência, que a força dos Encantados nos fortaleça a cada dia. Cada um de nós matado, se ergue um Encantado.
Dois indígenas da etnia Guajajara foram mortos no último final de semana, no Maranhão. A Polícia Civil está investigando se os casos têm relação com os conflitos envolvendo madeireiros na Terra Indígena (TI) Araribóia.
Os dois casos foram registrados na madrugada de sábado (3). Janildo Oliveira Guajajara, que já foi Guardião da Floresta, foi assassinado com tiros nas costas, em Amarante do Maranhão. Já no município de Arame, Israel Carlos Miranda Guajajara, de 34 anos, morreu após ser atropelado.
A principal hipótese é que as mortes têm relação com o conflito com madeireiros que desmatam a mata dos indígenas ilegalmente, a região vive sobre tensão há bastante tempo.
Teve também ataque contra o povo Pataxó, tiros no meio da noite acordaram mulheres, crianças e toda uma comunidade atordoada que se refugiou na mata. No último dia 4 de setembro, vitimaram Gustavo da Silva Conceição, jovem indígena Pataxó de apenas 14 anos, na Terra Indígena Comexatibá. E os disparos voltaram a ser ouvidos na madrugada do dia 12 na TI Barra Velha, também território Pataxó, no sul da Bahia.
Os tiros partiram de armas de grosso calibre que, em tese, só poderiam ser utilizadas pelo exército e pela polícia militar. Mais um genocídio indígena em curso.
Parentes, a violência de nenhuma forma pode ser banalizada e institucionalizada. É com essa esperança, com essa vontade de paz que reunidos em Imperatriz no dia 19 de setembro de 2022, povos indígenas ocuparam as principais ruas da cidade, em um ato onde foram entregues ao Ministério Público Federal, um documento de todas as mortes no estado do Maranhão.
A Associação Wyty Cate das Comunidades Timbira do Maranhão e Tocantins (WYTY CATE), a Articulação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), a Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA), a Comissão dos Caciques e Lideranças da Terra Indígena Araribóia (COCALITIA), a Comissão da Terra Indígena Governador, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos Padre Josimo, a aliança com a APIB e a COIAB, reafirmam que a nossa resistência continua, que as nossas bases, cada aldeia, cada comunidade, os indígenas autônomos não ficarão sem o amparo.
Buscaremos justiça e nossos direitos garantidos. Sobretudo, o direito à vida dentro e fora dos nossos Territórios. Seguimos juntos, firmes e fortes. Sangue Indígena, nenhuma gota a mais.
Zezico Guajajara Presente
Janildo Guajajara Presente!
Tomé Guajajara, Presente!
Israel Guajajara, Presente!
Paulino Guajajara, Presente!
Gustavo Pataxó, presente!