Ministro de Direitos Humanos é acusado de assédio sexual a subordinadas e a ministra Anielle
O braço brasileiro da organização Me Too recebeu denúncia de assédio a mulheres praticados pelo ministro
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi chamado pela ministro da Controladoria-Geral da República, Vinicius Carvalho, e pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, para prestar esclarecimentos sobre as acusações de assédio sexual a diversas mulheres, inclusive a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
De acordo com uma fonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve conversar com Almeida e com Anielle na tarde desta sexta-feira, depois de voltar de Goiânia, onde participa de um evento.
Em nota, o governo federal confirmou que as acusações serão investigadas.
"O governo federal reconhece a gravidade das denúncias. O caso está sendo tratado com o rigor e a celeridade que situações que envolvem possíveis violências contra as mulheres exigem", diz a nota.
As denúncias surgiram na noite de quinta-feira, publicadas pela coluna do jornalista Guilherme Amado, no site Metrópoles. De acordo com a reportagem, o braço brasileiro da organização Me Too recebeu denúncia de assédio a mulheres praticados pelo ministro.
Em nota, a organização confirmou o atendimento às mulheres, com autorização dessas, Os nomes, por segurança, não foram divulgados.
"A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico", diz o texto.
De acordo com o jornalista, a acusação de que Almeida teria assediado Anielle circulavam há alguns meses e vieram à tona na quinta, junto com os demais casos. Procurada, a ministra não quis se manifestar sobre o caso.
Dentro do governo, a negativa de Anielle em negar as acusações em público tem sido vista como uma forma de confirmar as acusações.
Na noite de quinta, Silvio Almeida negou, em nota e em um vídeo publicado nas redes sociais, qualquer tipo de assédio.
"Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país", disse.
"Toda e qualquer denúncia deve ter materialidade. Entretanto, o que percebo são ilações absurdas com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro."
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o presidente Lula só deve conversar com Anielle e Almeida na tarde desta sexta, ao voltar para Brasília. Nesta manhã, Lula está em Goiânia para um evento, e dormiu a noite passada em São Paulo.
"O governo tem a dimensão da gravidade desse caso. Não é a ministra, tem outras 14 denúncias. Por isso ele foi chamado ontem já para ser ouvido pelo AGU e pelo CGU. Mas o presidente só vai conversar quando voltar a Brasília", disse uma fonte.
Na noite de quinta, logo depois do fim do evento da abertura da bienal do livro, em São Paulo, onde estava com Lula, a primeira-dama Rosângela da Silva publicou uma foto em suas redes sociais em que aparece dando um beijo na testa de Anielle. Sem legenda, a publicação foi interpretada como uma demonstração inequívoca de apoio da primeira-dama à ministra.
Membros do governo admitem que a situação de Almeida está "muito difícil".
A Polícia Federal decidiu abrir um inquérito para apurar as denúncias, mesmo antes de ser acionada pelo governo.
Silvio Almeida também enviou ofícios à CGU, PF e à Procuradoria-Geral da República para que investiguem o caso. Nos ofícios, assinados por sua chefe de gabinete, o ministro reconhece a gravidade das denúncias e pede uma "apuração criteriosa".
O ministro, no entanto, também acusou a organização Me Too Brasil de ter feito as denúncias depois de ter tentado interferir na licitação do Disque 100, canal de denúncias do ministério. Em nota, Almeida acusa o Me Too de "tentar dar contornos ao caráter licitatório do Disque 100, na intenção de atender seus interesses nas negociações", na qual participaria.
Em contato com a Reuters, a organização informou que fez apenas sugestões de melhoria no sistema em uma consulta aberta e que nem mesmo poderia participar da licitação por não ser uma empresa, mas uma organização não governamental.