Moda decolonial: o que é e quais seus objetivos
A moda decolonial dá voz e espaço para grupos marginalizados, especialmente os indígenas
A moda está sempre em evolução e, atualmente, uma mudança em curso vai além das tendências de roupas. O nome dessa mudança é moda decolonial. Essa abordagem recente e inovadora da indústria da moda tem um objetivo claro: eliminar as estruturas coloniais que têm dominado o mercado. Isso significa dar voz e espaço para grupos marginalizados, especialmente os indígenas, e redescobrir a cultura e a identidade nacionais.
Ela surge para desconstruir narrativas eurocêntricas que prevalecem na moda. Além disso, questiona a apropriação cultural, estereótipos e o papel dos países colonizadores na definição das normas da moda.
Entenda
A moda decolonial tem como pilar central a celebração da diversidade em todas as suas formas. Ela destaca que a beleza se encontra em tamanhos, cores e formas variadas, e enfatiza a necessidade de representar essa diversidade nas passarelas e campanhas. Em vez de impor normas estéticas, essa moda desafia convenções, permitindo que a autenticidade cultural e a individualidade brilhem.
A reapropriação cultural é outra faceta essencial da moda decolonial, encorajando grupos historicamente marginalizados a usar a moda como expressão de identidade e resistência à apropriação cultural. Essa abordagem empodera as comunidades, permitindo que afirmem quem são. A moda decolonial também abraça a sustentabilidade e a ética, promovendo práticas de produção responsáveis e um consumo consciente.
Principais nomes
Atualmente, diversos estilistas trabalham com o objetivo de descolonizar a moda, como a ativista Dayana Molina. Pertencente ao povo Fulni-ô, do Nordeste do Brasil, ela fundou a marca Nalimo, que produz peças com referências indígenas e conta com uma equipe formada apenas por mulheres.
"Precisamos naturalizar a presença e protagonismo indígenas em todos os espaços criativos. Também devemos considerar que o Brasil é território originário e não nos sentimos representados. É um desrespeito. Se representatividade importa para todos, porque para nós seria diferente?", disse ela em entrevista à Vogue Brasil.
O designer de moda Sioduhi Lima, do povo Piratapuya, é dono do Sioduhi Studio, que desenvolve peças agênero com referência no futurismo indígena. Ele estabelece, através de suas peças, a conexão com a ancestralidade indígena e transmite a sua história e cultura.
"Muitas pessoas não conhecem nossas histórias. Eu acabo contando e falando de lugares que também trago do conhecimento dos meus pais, que são idosos. Hoje, por mais que eles sejam resistentes devido à colonização, foram crianças que viveram no internato. Meu pai foi para o campo de seringal, ele foi escravizado. E nesse meio tempo, viveram uma devastação como indígenas. Mesmo assim, todos nós passamos por processo de benzimento... fazer ritual, primeiro banho, com breu. Temos nossos nomes indígenas, mesmo com essa eurocristianização acontecendo. Eu conto essas histórias dentro da moda", disse ao site Amazônia Real.
Em 2017, Patrícia Kamayurá, do povo Xingu, criou a Kanutsi Arte e Moda Indígena. Através de suas peças pintadas à mão, ela compartilha sua ancestralidade. "Enxergo uma moda brasileira cheia de branquitude, que ignora a nossa nação indígena e toda nossa história. Querem nos apagar a todo custo. Precisamos retratar a riqueza que existe em nossa essência", contou à Elle.
#descolonizeamoda
Em 2020, Dayana Molina criou o movimento #descolonizeamoda nas redes sociais, com um debate sobre a representação de indígenas na indústria. Segundo ela, a intenção do movimento é conscientizar as pessoas sobre a beleza e a identidade nacional e mudar os padrões eurocêntricos impostos nessa área.
"O #descolonizeamoda surgiu em meio aos meus questionamentos internos. Entendi que, através da minha visibilidade, poderia contribuir para que mais pessoas indígenas fossem vistas. E também a importância de nos organizarmos coletivamente e redesenharmos um futuro mais bonito, sustentável e real na moda", disse à Vogue Brasil.