Modelo tem dados expostos após denunciar assédio sexual em viagem de ônibus entre SP e RJ
Empresa de transporte divulgou imagem com dados pessoais da passageira que denunciou assédio sexual
A modelo e estudante Raquel Possu, 25, teve seus dados expostos nas redes sociais após denunciar um caso de assédio sexual que sofreu durante uma viagem de ônibus entre São Paulo e Rio de Janeiro.
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O crime aconteceu na terça-feira, 25, após a modelo passar por um dia de trabalho na capital paulista. Raquel narra que dormiu durante o trajeto e, ao acordar, se deparou com a mão do passageiro que viajou ao seu lado sobre sua perna.
O suspeito estava com o zíper da calça aberto o pênis exposto, segundo a vítima: "Eu levantei num susto, num choque, que o ônibus 'tava' chegando numa das paradas e eu desci as escadas para sair do ônibus antes mesmo dele parar", disse Raquel.
A vítima, então, tentou falar com o motorista por meio de um interfone do ônibus, mas não teve resposta. Ela só conseguiu contato com o condutor na parada do coletivo.
"Quando contei o que aconteceu, ele me deu duas opções: descer e sentar no primeiro andar do ônibus ou fazer uma denúncia. Eu disse que queria os dois, obviamente", contou.
Na parada seguinte, o motorista pediu o apoio de policiais rodoviários, que solicitaram que a vítima identificasse o suspeito. "Falaram para disfarçar, para que o homem não percebesse que eu tinha falado com a polícia. Voltei ao meu lugar, e, sem constrangimento, ele também sentou no mesmo lugar".
Raquel também trocou de assento, desta vez no andar inferior do coletivo. O motorista, porém, alertou que os policiais não iriam mais comparecer pois haviam sido chamados para outra ocorrência.
Para se resguardar, a modelo pediu as imagens do circuito de monitoramento interno do ônibus: "Eu insisti, pedi as imagens, pois o ônibus tinha câmeras e não seria apenas minha palavra contra a dele. Mas o motorista apenas sorriu e disse que 'ele tem cara de pervertido mesmo'".
Próxima ao Rio de Janeiro, a vítima pediu ajuda a um amigo e contou o caso. O amigo foi ao terminal Novo Rio acompanhado da polícia e o grupo conseguiu evitar a fuga do suspeito.
O caso foi apresentado na 4ª Delegacia de Polícia do Rio, em Presidente Vargas. Raquel afirmou que deixou a unidade 'com um papel e nenhuma ação', sem que fossem tomadas providências contra o suspeito.
Empresa expôs dados de vítima em rede social
O caso teve uma reviravolta quando a Nova Itapemirim, empresa responsável pela viagem, expôs os dados da passageira ao se posicionar sobre a ocorrência, por meio de uma nota de 'esclarecimento e repúdio' publicada nas redes sociais.
Em uma sequência de imagens, a companhia publicou as informações sobre Raquel visíveis em um boletim de ocorrência, enquanto manteve ocultas as informações sobre o suspeito.
"Cabe destacar que sempre que há solicitação oficial por parte do(a) interessado(a), os materiais de monitoramento são prontamente disponibilizados. No entanto, até o momento, a Sra. Raquel Possu não apresentou nenhuma solicitação oficial nesse sentido", afirmou a empresa em trecho do comunicado.
Por outro lado, o advogado de Raquel, Pedro Henrique Toledo, informou que a empresa não cedeu imagens e informações do procedimento interno que a empresa alega ter feito, bem como a remoção da publicação com as informações pessoais da modelo. Até a última atualização, a postagem seguia no ar.
Veja, na íntegra, a nota de repúdio compartilhada pela empresa:
"A Nova Itapemirim – Suzantur repudia veementemente qualquer acusação infundada e manifesta seu total compromisso com a verdade e o respeito aos seus clientes.
Assim que tomamos conhecimento do caso envolvendo a Sra. Raquel Possu, iniciamos imediatamente um processo interno de apuração, utilizando nosso sistema de monitoramento embarcado, sempre em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Após análise minuciosa de 6 horas de gravação, não foi identificada nenhuma ocorrência anormal durante a viagem. Ressaltamos que não houve solicitação oficial da parte envolvida para acesso às imagens — que, inclusive, já foram anexadas ao processo e registradas na 004ª DP do Rio de Janeiro.
Nosso motorista, Sr. Márcio Freire, agiu com profissionalismo, realocando a passageira ao piso inferior do ônibus, assegurando sua integridade e o andamento da viagem.
Seguimos comprometidos com a ética, a segurança e o respeito, e não compactuamos com informações distorcidas que possam comprometer a imagem da empresa ou de nossos colaboradores".