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Modelos “faz-tudo” conquistam lojistas plus size

Além de trabalho como modelo, elas produzem os looks, posam para fotos, editam e divulgam seus clientes

19 out 2022 - 05h00
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Leka divide o trabalho de modelo plus size com o de design de interiores.
Leka divide o trabalho de modelo plus size com o de design de interiores.
Foto: Divulgação

Conhecido como o maior polo têxtil do Brasil, o bairro do Brás reúne mais de 15 mil estabelecimentos comerciais distribuídos em 55 ruas, segundo a Associação de Lojistas do Brás. Não há números precisos de quantas desses estabelecimentos ofereçam moda plus size.

No entanto, pelas vitrines e até mesmo nas banquinhas da famosa Feirinha da Madrugada, manequins maiores sinalizam o crescimento da oferta de produtos para pessoas gordas.

Com esse apogeu da moda plus size no Brás, uma nova profissão surgiu: a de modelo plus size “faz-tudo”. Elas retiram as roupas nas lojas ou fábricas em sacolas, passam cada peça, selecionam acessórios que combinam com os looks. Fazem a própria maquiagem e um penteado da moda. Contratam fotógrafos, produzem os cenários, editam as fotos e entregam para os lojistas.

Para completar, ajudam os clientes a divulgar as fotos nas redes sociais. Tudo isso quase que diariamente, em uma rotina que deve ser levada à risca para não comprometer as vendas dos clientes.

Da biomedicina às mil funções na moda plus size

Este é o caso de Lai Pelegrino, 31, que se tornou uma das queridinhas das marcas plus size do Brás. Em 2021, recém-chegada de Promissão, interior paulista, para trabalhar na capital como biomédica, ouviu de sua manicure que ela levava muito jeito para modelo plus size.

“Não levei a sugestão a sério. Mas, logo depois, uma amiga que tem loja no Brás me convidou para fotografar para a marca dela. Eu conhecia muito pouco sobre moda plus size, jamais havia pensado que poderia ser modelo tendo um corpo gordo”, relembra.

"Não sabia o que estava na moda, mas fui pesquisando e aprendendo", diz modelo
"Não sabia o que estava na moda, mas fui pesquisando e aprendendo", diz modelo
Foto: Divulgação

No início, sem a orientação que as modelos costumam receber de produtores e diretores nos grandes estúdios fotográficos de moda, Lai precisou recorrer à observação de redes sociais de outras modelos e influenciadoras. “Eu prestava atenção nas poses que elas faziam e tentava reproduzir. Deu certo”, explica.

E não foi só para as poses que Lai precisou de inspiração. “Eu nunca fui uma pessoa que se preocupasse com o próprio estilo, não sabia como combinar roupas, sapatos e acessórios. Não sabia o que estava na moda, mas fui pesquisando e aprendendo”, esclarece.

Hoje, ela é modelo fixa de mais de 10 lojas plus size no Brás. Montou um estúdio fotográfico em um quarto de seu apartamento, onde recebe 1 vez por semana uma fotógrafa. Adquiriu um acervo de brincos, colares, bolsas e sapatos para compor a produção dos looks dos clientes. Virou expert em passar roupas.

Lai planeja deixar a próspera carreira de biomédica para se dedicar exclusivamente ao trabalho de modelo plus size. Contratou uma agente, que agora se responsabiliza em fechar acordos com as marcas e buscar e devolver as roupas. “Sou muito grata aos meus clientes e fico feliz em ter construído essa nova carreira de modelo em apenas 1 ano. Quero outros desafios na área, como trabalhar para marcas maiores também. Deve ser maravilhoso ser produzida e só me preocupar com meu trabalho como modelo”, conclui.

Parceria entre lojistas e modelos “faz-tudo”

O serviço das modelos “faz-tudo” permite que as marcas economizem na contratação de produtores, stylists, maquiadores, estúdios fotográficos, fotógrafos e encurtam o prazo para entrega do material, já que essas modelos costumam trabalhar até mesmo de madrugada para cumprir a produção e entrega das fotos aos seus clientes lojistas.

No entanto, o que muitos lojistas argumentam, é que se não fosse por elas, continuariam comercializando e vendendo sem fotos de divulgação de seus produtos, pois não teriam como arcar com os custos das produções fotográficas de moda tradicionais, que são muito caras.

Este é o caso de Camila Ferreira, proprietária da marca Kami´s. Audaciosa, deixou de produzir tamanhos tradicionais que fabricava há 10 anos para investir apenas na produção de plus size, até o manequim 62.

De Parelheiros, região periférica de São Paulo, não tem loja física no Brás, cujos aluguéis são elevados para os pequenos fabricantes. No entanto, ela aproveita o fluxo de mais de 400 mil pessoas por dia que visitam a região para atender clientes sacoleiras que chegam de excursões de todo o Brasil.

“Com a crise pós-pandemia, o trabalho dessas modelos nos ajudou muito. Temos lançamentos todas as semanas e movimentar uma equipe grandiosa para fotografias e com altos custos seria inviável. Sem o serviço dessas modelos, seria impossível trabalhar e competir com grandes marcas”, explica.

Este é o mesmo caso de Ana Flavia Tibúrcio, proprietária da marca fitness Tuca, que iniciou seus negócios em plena pandemia, enquanto muitas outras marcas fechavam suas lojas. Ela fabrica para mulheres gordas e magras e possui uma loja física em um shopping popular do Brás e também contrata o serviço das modelos “faz-tudo”.

“Não vendo simplesmente uma roupa, vendo um projeto de autoestima e empoderamento. Acredito que cada mulher possa ser e usar o que quer. As modelos plus size mostram que a peça realmente fica incrível no corpo, gera identificação. Faz todo o sentido contar com o trabalho dessas modelos”, comenta.

Oportunidade no Brás para modelos fora do padrão

Até mesmo na moda plus size há um padrão. Modelos com manequins do 46 ao 48, com cinturas finas e, pasmem, sem barriga saliente, estrelam a maioria das campanhas, o que é uma contradição em um mercado que se predispõe atender mulheres gordas.

Desta forma, a oportunidade para trabalhar como modelo plus size só surgiu para Leka Lopes, 39, manequim 62, graças às marcas pequenas que vendem no Brás, como a de Camila Ferreira, mais populares e abertas a incluir corpos diversos nas campanhas. Ela foi uma das primeiras e configura como as raras modelos que usam acima do manequim 60 no Brasil.

“Há 4 anos, eu era consumidora de uma loja e um dia me ofereci para trabalhar para eles como modelo. A proprietária gostou da ideia e me convidou para fotografar para a marca. Trabalhei exclusivamente para esta loja por um ano e meio. Depois, preferi abrir mão da exclusividade para atender várias lojas”, explica a modelo.

As modelos plus size mostram que a peça realmente fica incrível no corpo, gera identificação.
As modelos plus size mostram que a peça realmente fica incrível no corpo, gera identificação.
Foto: Divulgação

Leka divide o trabalho de modelo plus size com o de design de interiores, na marcenaria da família. “Tenho um cronograma próprio de dias em que retiro as roupas, os dias em que as devolvo e também os dias da semana em que preciso fotografar e enviar as fotos aos clientes”, explica.

Além disso, a modelo oferece um combo de serviços para clientes como vídeos, presença vip em showroom e divulgações nas redes sociais, em que ela possui mais de 116 mil seguidores.

Multifunções pode ser só um pontapé para iniciar a carreira de modelo plus size

A sul-caetanense Rubia Ponick, 28 anos, trabalha exclusivamente como modelo plus size desde 2016. Desfilou e fotografou para grandes marcas de varejo, estrelou propagandas na televisão, mas foi nas pequenas marcas plus size do Brás que ela iniciou a carreira.

Depois de um tempo, com mais experiência e com a ajuda de agências, Rúbia fechou contratos com grandes marcas e diminuiu o ritmo de trabalho no Brás.
Depois de um tempo, com mais experiência e com a ajuda de agências, Rúbia fechou contratos com grandes marcas e diminuiu o ritmo de trabalho no Brás.
Foto: Divulgação

“No início eu ia loja por loja para entregar meu composite e prospectar clientes. Percebi que precisava entrar no jogo das modelos “faz-tudo” e aceitar trabalhos que me pagassem menos e exigissem mais de mim, até ficar conhecida”. Depois de um tempo, com mais experiência e com a ajuda de agências, Rúbia fechou contratos com grandes marcas e diminuiu o ritmo de trabalho no Brás.

 “Decidi subir meu cachê. Agora trabalho menos, mas ganho mais. Algumas marcas do Brás aceitaram imediatamente, porque gostavam e confiavam no meu trabalho. O curioso é que justamente as que não aceitaram pagar mais, foram aquelas que poderiam me remunerar mais. Continuo atendendo somente as marcas que me valorizam”, afirma.

Experiente, Rúbia esclarece que as novas modelos podem encontrar no Brás o pontapé para iniciar a carreira, mas que devem sempre dar as cartas na parceria com as lojas. “É gratificante ajudar uma marca a crescer. Mas é necessário entender se  não há excessos nessa relação de trabalho. As exigências do cliente devem ser compatíveis com a nossa remuneração”, ensina.  

Fonte: Redação Nós
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