Morte de Marielle e Anderson completa seis anos: o que ainda falta esclarecer?
Acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos, acenou para a possibilidade do crime ter dois mandantes
Há seis anos, a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes eram brutalmente assassinados. A principal pergunta sobre o crime - quem mandou matá-los - permanece sem resposta.
Recentemente, um acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos, acenou para a possibilidade do crime ter dois mandantes. Desde que a Polícia Federal assumiu o caso, em fevereiro do ano passado, personagens envolvidos na trama foram revelados e algumas perguntas já foram respondidas. Veja a seguir o que ainda falta esclarecer.
Motivação do crime contra Marielle
A Polícia Federal investiga se o assassinato foi motivado por uma disputa por terra na Zona Oeste do Rio. Segundo a delação de Lessa, o crime pode ter ocorrido porque Marielle defendia a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda, com acompanhamento de órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e a Defensoria Pública. O mandante do assassinato teria interesse na regularização de um condomínio em Jacarepaguá, buscando lucro com especulação imobiliária.
A metralhadora HK MP5 usada no homicídio de Marielle teria sido desviada durante um incêndio no Batalhão de Choque da PM, no Centro do Rio, na década de 1980. Segundo informações fornecidas por Élcio de Queiroz, a arma pertencia ao Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A Polícia Federal considera o relato sobre a origem da arma verossímil, pois houve pelo menos dois incêndios nas unidades do Batalhão de Choque que continham essas armas. No entanto, a arma usada no crime nunca foi encontrada. Em depoimento, Queiroz afirmou que Lessa disse ter serrado a arma e jogado no mar após o crime.
Quem são Élcio de Queiroz e Suel?
Élcio relatou à polícia que no dia 16 de março ele conduziu o Chevrolet Cobalt prata até Rocha Miranda, na Zona Norte, para entregá-lo ao mecânico Orelha, a fim de desfazê-lo. Ronnie Lessa o acompanhou em outro veículo durante todo o trajeto, seguindo a linha do trem até a Avenida dos Italianos.
Lá, encontraram Orelha próximo a uma pracinha, perto da área onde ambos têm uma rede ilegal de internet e TV a cabo. Quebraram a placa do carro em pedaços e a jogaram na linha do trem. No encontro, Lessa explicou que precisava de um favor, alegando que o carro estava na mídia e que precisavam se livrar dele para evitar problemas. Orelha, apavorado, teria recusado, dizendo que Suel já havia falado com ele.
Quem mandou matar Marielle?
A identidade do mandante ou mandantes do assassinato de Marielle Franco ainda permanece desconhecida, apesar da delação de Élcio revelar detalhes sobre a execução e envolvimento de outros suspeitos no crime.
A polícia ainda não conseguiu determinar quem ordenou o crime nem qual foi a motivação por trás dele. Em janeiro, o blog Segredos do Crime divulgou que a Polícia Federal está investigando dois possíveis mandantes do assassinato e que as informações fornecidas por Lessa podem ajudar nessa linha de investigação.
Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope, é mencionado nas investigações como alguém que se recusou a cometer o crime, antes de Ronnie Lessa ser contratado para fazê-lo. As investigações sobre o assassinato de Marielle Franco levaram à Operação Intocáveis, conduzida pelo MPRJ em conjunto com a Polícia Civil, visando a cúpula da mais antiga milícia do Rio, da qual Adriano era acusado de fazer parte. Ele permaneceu foragido por cerca de um ano, até ser encontrado e morto em um confronto com policiais do Bope da Bahia, com apoio da inteligência da Polícia Civil fluminense, em um sítio no interior baiano.
Além disso, segundo a delação de Élcio, Lessa é apontado como o autor dos tiros que tiraram a vida da vereadora e de seu motorista. Posteriormente, Lessa foi expulso da Polícia Militar e, em 2021, recebeu uma sentença de quatro anos e meio de prisão por ocultar as armas supostamente utilizadas no crime.
*texto sob supervisão de Tomaz Belluomini