"Mostrar nossa cultura é lutar por nossos direitos", diz indígena na SP-Arte
Jaxuka, da etnia Guarani Mbya, atuou como educadora em um dos principais eventos do país
Chegou ao fim neste domingo, 28, a 18ª edição da SP-Arte. Com o tema "Rotas Brasileiras", o evento tinha como objetivo levar ao público produções de todo o país, com destaque especial para arte produzida por indígenas. Jaxuka, educadora indígena da etnia Guarani Mbya, que vive no Pico do Jaraguá, em São Paulo, contou que a sua participação, assim como de outras pessoas da comunidade, foi uma iniciativa inédita e importante.
"No começo não entendemos muito bem o motivo de estarmos aqui, mas quando chegamos neste espaço percebi que se tratava de uma forma de apresentar para os brancos nossa luta, fazer nossa fala porque mostrar nossa cultura é lutar por nossos direitos", explica ela, que atendia o público no estande da Vivo, uma das patrocinadoras do evento.
O estande foi, nas palavras de Jaxuka, um espaço de reza e de celebração, onde obras de diversos artistas estavam expostas – como da rapper e artista Katú, da etnia Boe Bororo, e Déba Tacana, na etnia Pano Tacana. No espaço, além dela, estavam presentes a tia Cristina Ara Rose e diversas crianças indígenas que se preparavam para uma apresentação do Borai, um canto de agradecimento e celebração de Nhanderu, um equivalente de Deus na etnia Guarani Mbya.
Outras galerias apresentaram obras de artistas indígenas, como os Bancos Indígenas do Xingu, feitos pelas etnias Kamayuará, Mehinaku e Waujá, além da mostra fotográfica "Uma Concertação da Amazônica", com curadoria de Eder Chiodetto e obras de Edu Simões, João Farkas, Lalo de Almeida, Marcela Bonfim, Paula Sampaio e Rogério Assis.
Caminhos a serem percorridos
Porém, nem tudo foi celebração. Jaxuka relatou que em alguns momentos teve sua identidade questionada por parte do público."Me falaram que eu não era indígena 'de verdade' porque eu estou usando roupas", contou, lembrando que a atitude além de preconceituosa é completamente equivocada. "Somos indígenas. Roupa não é importante, a gente já está no meio da cidade, já temos celular e isso não muda meu sangue", explica.
Resistente, a educadora afirma ainda que situações como essa, ainda que recorrentes, não fazem com que desista. "Seguimos falando, agradecendo a Nhanderu e pedindo para que o povo tenha mais força na luta, que consigamos as demarcações de terra e todos nossos direitos", finaliza, lembrando que sua própria terra, no Jaraguá, ainda não foi demarcada pelo Estado.