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Movimento Mulherão: o grupo de mulheres gordas que se libertou do padrão e pratica pole dance

Iniciativa criada por Ingrid Astasio acolhe e proporciona experiências positivas para outras mulheres que, assim como ela, são gordas

28 abr 2023 - 05h10
(atualizado às 10h39)
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Movimento Mulherão
Movimento Mulherão
Foto: Reprodução/Instagram/@movimentomulherão / Estadão

O Movimento Mulherão surgiu por iniciativa de Ingrid Astasio, 28 anos, lá em 2019. A publicitária e professora de pole dance viu em sua própria jornada como aluna que faltava um ambiente acolhedor e seguro para que as pessoas gordas pudessem praticar a atividade e se sentirem confortáveis e seguras.

Após um bate-papo com a sócia do estúdio onde fazia aulas, ambas decidiram em comum acordo que era hora de Ingrid ter o próprio grupo. "Eu não tinha experiência como professora, tinha como aluna, mas tinha muita vontade de fazer acontecer".

Foi assim que o Movimento Mulherão nasceu. Da vontade de Ingrid acolher e proporcionar experiências positivas para outras mulheres que, assim como ela, eram gordas.

"Por mais que a base dele (movimento mulherão) seja aprender o pole dance, acabou virando algo muito maior do que isso. Nós somos um grupo de dança e também de apoio. Eu ensino técnicas de pole dance, mas mais do que isso, formamos a nossa rede", ressaltou ela.

Ingrid sabe que suas alunas e companheiras de luta se inspiram e admiram ela, "isso é muito gratificante", disse. "É muita gratidão. Quando eu comecei a mostrar pro mundo (que praticava pole dance), sem saber se iria chegar em alguém ou não, eu estava ali tentando e esse 'tentando' virou conseguiu".

Lá em 2007, quando essa vontade de praticar a atividade física surgiu, Ingrid, como uma mulher gorda, não tinha em quem se inspirar e admirar e hoje ela sabe que faz isso por outras mulheres. "É muito significativo ser aquilo que eu procurei pra mim".

Como todas as pessoas gordas, Ingrid teve uma vida regada de preconceitos, humilhação e exclusão, e agora, poder ver quem ela se tornou, afaga e ameniza as dores e mágoas do passado. "É um carinho na 'Di' do passado. Se eu olhasse 15 anos atrás, eu não imaginaria que eu iria ser, iria estar. Pelo tanto de repressão que eu sofri na juventude".

Pop Plus

O Pop Plus é o maior evento de moda plus size da América Latina e ocorre três vezes por ano na cidade de São Paulo, no clube Homs, na avenida Paulista. Um espaço acolhedor, com apresentações de dança, música, gastronomia e muitas trocas e vivências entre pessoas gordas.

Como Ingrid e as alunas já eram frequentadoras assíduas do evento, a idealizadora Flávia Durante já as conhecia e foi, então, que o convite para se apresentarem no Pop surgiu. Na edição de março deste ano, Ingrid e as meninas do Movimento Mulherão se apresentaram pela primeira vez no evento. "Foi incrível, um final de semana mágico" relembrou ela.

Como o palco do evento era pequeno, só puderam participar seis pessoas, incluindo Ingrid, mas isso não fez com que a apresentação ou o momento fossem menos impactantes. Além do espetáculo lindo, essas mulheres gordas puderam inspirar e acolher pessoas que estavam passeando pela feira e se identificaram com os corpos que estavam no palco.

A publicitária acredita que independentemente da atividade, o corpo gordo sempre será excluído e desdenhado de alguma forma. "O preconceito ainda existe, é uma luta diária e difícil".

Além de ter participado da apresentação, no domingo do evento, Ingrid integrou a mesa de bate-papo sobre corpos gordos e atividade física. Ao lado de outras mulheres independentes e gordas, o público pode participar e debater sobre como a sociedade ainda exclui e minimiza a causa da comunidade gorda.

Camila Geraldi

Camila Geraldi, 34 anos, também é publicitária e está no Movimento Mulherão desde a primeira turma, em 2019. Ela já havia praticado outras modalidades de dança quando pequena, inclusive se apresentado em palcos, mas foi no pole dance que se encontrou e se sentiu acolhida. "Eu sempre gostei muito de dança e eu sempre achei o pole dance muito incrível", relembrou ela.

Foi por meio da internet que o encontro entre Camila e Ingrid aconteceu e após perceber o trabalho que o grupo fazia com as mulheres gordas, a publicitária não pensou duas vezes e se inscreveu para participar. "É um ambiente mais acolhedor, principalmente por estarmos praticamente sem roupa (as meninas usam shorts e top para a prática)".

Camila garante que se fosse em um ambiente padrão, com pessoas magras, ela se sentiria julgada. "Quando você está um ambiente com mulheres com corpos parecidos com o seu, você começa a olhar aqueles corpos e ver os movimentos que eles fazem e começa a achar tudo bonito", confessou.

Por ser um grupo formado somente por mulheres gordas, as meninas acabam se inspirando e se fortalecendo entre si. "É uma troca muito forte que a gente tem, eu as admiro e as amo demais, por ser quem são, por quem se tornaram desde que começamos a turma".

Um dos pontos positivos da prática é começar a olhar o próprio corpo com mais carinho. Apesar disso não ser o foco da aula pois, afinal, estão lá para dançar e praticar o pole, essa reflexão e acolhimento acaba acontecendo. "A gente acaba desabafando muita coisa, coisa que a gente passa no dia a dia e que se eu reclamar com uma amiga magra, ela não vai entender".

Todo ambiente acaba sendo excludente para pessoas gordas, seja em um restaurante, no médico, na academia. As pessoas sempre irão julgar os corpos que não seguem um padrão e Camila também já sentiu na pele essas situações. "O médico manda você emagrecer sem nem olhar os seus exames".

O nervosismo e frio na barriga que qualquer apresentação traz também aconteceu com Camila durante a apresentação no Pop Plus de março de 2023. Como foi a primeira apresentação do ano, após quase três anos de pandemia, sair do estúdio e se apresentar para outras pessoas foi um grande desafio.

"Tem gente de tudo o que é tipo aqui (no PopPlus), tem gente que vai odiar e amar e foi incrível. Foi muito acolhedor, porque o Pop também é um evento para pessoas gordas. Foi muito divertido e gratificante", relembrou Camila.

Estadão
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